Capítulo 2

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Saí do quarto às pressas, pois estava além de atrasada para a aula. Fui dormir muito tarde ainda a pensar no beijo. Até parecia que tinha sido o meu primeiro. Mas aquele foi diferente, não sei nem explicar as sensações de tão intenso que foi. Fui até a cozinha e peguei uma maçã, já que não dava tempo de tomar um café mais decente. 

Cheguei a sala e todos estavam arrumando as carteiras para fazer uma espécie de maca, onde o Rio deitou apenas de bermuda. 

—Bom Dia — Falei .

—Bom Dia — Responderam todos. 

Posicionei-me ao lado de Berlim, que virou para me olhar e deu uma piscadinha.

—Tudo bem? — Perguntou próximo ao meu ouvido.

—Hurum. — Apenas murmurei sem olhá-lo e sentindo cada célula do meu corpo reagir a ele. No mesmo instante senti um calor percorrer todo meu corpo, fazendo minha respiração acelerar. Abandonei a maçã num canto e foquei no que o Professor estava a falar ignorando completamente aquelas reações. 

—Cava inferior, renal direita e esquerda — Ele ia passando a caneta no corpo de Rio nos lugares ditos — Mesentérica, pulmonar, direita e esquerda vinda do coração. Subclávia, direita e esquerda, umeral branquial. Jugular interna e externa. — Deixou a caneta na mesa e nos olhou — Em vermelho os mais importantes...

—Para, para, para — Interrompeu Denver — Vamos pensar: Quer que a gente aprenda medicina assim, com duas canetas? 

—Se alguém levar um tiro não podem ir ao hospital, têm que se virar lá mesmo. — Disse o Professor. 

—Isso vai ser um puta suicídio — Disse Denver furioso. 

—Cala a boca — Disse Moscou para o filho.

—Denver, tem que aprender apenas a tirar uma bala, não começa a choramingar. — Disse Berlim com a cara de paciência zero.

—Até que não deve ser tão difícil assim; é só pegar a pinça e tirar a bala sem cagar lá dentro. — Falei evitando o ímpeto de revirar os olhos.

—Sim, sem foder mais do que já tá fodido. No meu caso quero que me levem ao hospital. —Continua o fedelho. Que cara chato, hein!

—Ninguém vai sair. — Disse o Professor curto e grosso. 

—Olha, eu prefiro ficar manca e livre do que saudável e presa. —Disse Tóquio. 

—Qualquer um é um rastro para os outros, se alguém quer desistir que seja agora. — Conclui o Prof. 

—Vai demorar muito? O meu pau está ficando igual o do Helsinque — Disse Rio quebrando a tensão e fazendo todos nós rir. 

—O que tem meu pirulito? Quer ver o meu pirulito? — Disse Helsinque e caímos mais ainda na gargalhada. 

—Chega, por favor! — Disse Professor estragando nossa alegria — Vá se vestir — Pediu ao Rio.

—Outra pessoa? — Pediu o Professor.

—Você? Não? — Perguntei aos demais, ninguém quis ir — Tá bom — Subi na maca improvisada e tirei a blusa. 

—Olha só, que morena — Disse Berlim.

—Que sexy, muito sexy — Falou todos os outros, inclusive Tóquio. Mas o único elogio que mexeu comigo foi o de Berlim.

—Você — O professor entregou uma caneta a Tóquio — Vamos ver o que aprendeu. 

Ela começou a traçar meu corpo explicando exatamente como o Professor havia ensinado. Ela desceu para o abdome e parou abaixo do meu umbigo, olhou para mim e então abaixou mais minha calça. Ela tinha visto minha cicatriz. A cicatriz da cesariana. 

Berlim e Nairóbi - Amor acima de tudoOnde histórias criam vida. Descubra agora