Estava sentada na minha cama com todas as fotos que eu tinha do Axel. A cada foto, uma lembrança me atingia como balas de um fuzil. E se o assalto desse completamente errado? E se eu nunca mais visse meu filho de novo? Se eu desistir agora, posso conseguir sua guarda depois.
Mas isso, demoraria anos, e ele já estaria um adolescente muito inteligente, ele jamais iria querer uma mãe criminosa, que fodeu com sua vida. Desabei em lágrimas pensando nessas possibilidades que só pioravam mais a cada pensamento. Coloquei uma almofada no rosto para abafar meus soluços. Eu era um ser horrível. Em momento algum eu pensei no meu menino, devia ter mudado no momento em que ele nasceu. Mas não. Continuei nessa vida de merda que tinha. E o perdi. Para sempre.
Segundos depois ouvi batidas leves na minha porta. Juntei todas as fotos rápido e as guardei na gaveta e fui ver quem era. Abri e fui presentada com um Berlim apenas de calça, uma delícia. Ele trazia um sorriso safado no rosto, que logo foi se desmanchando por uma expressão de pura preocupação.
—Você está chorando? — Disse esticando a mão para limpar uma lágrima.
Ai merda! Esqueci completamente de limpar o rosto, se tivesse visto pelo menos o rosto inchando eu poderia criar uma outra desculpa.
—Entra — Abri espaço.
—O que houve? Tudo bem? — Perguntou pondo as mãos no meu rosto assim que fechei a porta.
Nunca havia visto Berlim preocupado com nada, se tivesse empatia, era estritamente oculta.
—Tudo ótimo. — Falei e sentei na cama, peguei meu lençol e sequei meu rosto, mas as malditas lágrimas não paravam de descer.
—Nairóbi, você está me preocupando... — Ele já estava ao meu lado.
Não iria ter como esconder. Tinha de falar ou passaria a noite inteira a chorar, e ele não iria sossegar. Mais uma pessoa iria ficar sabendo, sendo que prometi guardar isso até que desse tudo certo. Porque acredite ou não, creio muito em superstições; se muita gente ficar sabendo, pode ser que nunca dê certo.
Respirei fundo e levantei minha blusa baixando um pouco o short, mostrando o suficiente para ele ver minha cicatriz. Olhei-o e vi uma expressão de dúvida nos seus olhos que encaravam aquela linha fina.
—Eu tenho um filho, Berlim. — Disse e cobri novamente.
Ele me olhou com a cara de surpresa. Não esperei qualquer resposta sua, apenas comecei a falar:
—O motivo de eu estar aqui é apenas para tê-lo de novo, porque eu o perdi. Essa pode ser a chance que tenho de ficar com ele novamente, mas isso só se tudo der certo. Mas caso contrário, quem sabe posso ter alguma chance de vê-lo de novo quando sair da prisão e ele já estiver velho e eu andando de cadeiras de rodas, porque estou velha demais para caminhar. Ou na melhor das hipóteses: Nunca mais ver ele, porque morri com o corpo e a cabeça cravados de balas por seguir a porra de um plano genial que na verdade era a merda de uma carnificina! — Falei alto demais deixando-me levar apenas pelas emoções.
Berlim abraçou-me forte tentando me controlar. Eu chorava desesperadamente, não seria possível ninguém ao lado ouvir pois ele enfiou meu rosto em seu peito para abafar meu choro. Não sei quanto tempo passamos assim, só sei que quando despertei do transe estava me sentindo destruída, sem forças. Levantei a cabeça e olhei Berlim, que nunca havia saído da mesma posição e continuava a passar a mão no meu cabelo. Afastei-me do seu abraço e me recompus.
—Desculpa, eu não... — Comecei a dizer mas ele me interrompeu.
—Esse assalto vai ser a coisa mais magnífica que você vai viver na sua vida. Você vai ter dinheiro suficiente para buscar seu filho e levá-lo para um lugar onde ninguém, mas ninguém, vai encontrá-los. Sabe porquê? Porque esse dinheiro vai depender da sua capacidade, do seu profissionalismo e dedicação. E você é uma profissional. Essa é a sua responsabilidade, a minha e a dos outros é manter a sua e a nossa segurança. E isso eu te prometo que vou fazer. Eu não vou deixar você ser pega e muito menos morrer antes de ver seu filho de novo. — Ele disse sem tremer a voz em momento algum.
Senti minhas esperanças se fortalecerem de novo com suas palavras. Não sou muito de confiar em ninguém, mas senti total confiança nele. Abracei-o novamente.
—Obrigada. — Sussurrei em seu ouvido.
—Vamos dormir agora, é tarde e você está muito cansada — Disse.
Olhei para ele e para minha cama me fazendo de desentendida.
—Prometo que vamos só dormir, você não parece está animada para transar, podemos quitar essa dívida que você está me devendo pela manhã.
—Dívida? Mas que dívida? Eu não te pedi nada. — Falei me aninhando em meus cobertores.
—Deixa de ser ingrata, eu a deixei chorar em meu ombro e conversei com você, isso é uma dívida. E enorme. — Ele deitou ao meu lado, me beijando antes de fazer isso.
—Seu vagabundo — Falei rindo antes de me virar e fechar os olhos.
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Berlim e Nairóbi - Amor acima de tudo
FanfictionÁgata Jiménez tem a esperança de que sua vida possa mudar após esse assalto A Casa da Moeda da Espanha, resolvendo todos os seus problemas. Mas mal sabia ela que esses 5 meses na casa de Toledo poderiam ser incríveis. Principalmente por ter Berlim c...