Capítulo 14

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—Professor, posso entrar? — Bati na porta do quarto dele. 

—Sim, claro. — Falou.

Entrei no lugar e fiquei surpreendida com o poder de organização; era um quarto não muito diferente dos outros, mas inteiramente arrumado e limpo. 

O mesmo estava sentado em sua cama com um livro na mão, assim que me aproximei e sentei na cama, ele o fechou e me olhou. 

—Está mais calmo? Não está se sentindo mal pelo o que o Denver falou? — Perguntei. 

—Não, imagina. Momentos de raiva sempre acontecem. 

Ah, maravilha!

—Acho que percebeu que eu estava lá... E ouvi o pedido do Moscou. Você não vai mesmo reconsiderar? 

—Nairóbi, por favor, eu já tomei a decisão e isso é para nossa segurança, já temos gente demais... 

—Você já passou necessidades? 

—Bem...

—Já soube o que é procurar um emprego em todos os lugares e não encontrar? Passar pelo menos um pouquinho de fome? Ter que roubar alguma coisa pra dar o que comer o filho? Porque não tem emprego e nem ninguém pra dar uma mão?

Ele apenas me olhava sem expressão alguma. 

—Eu espero muito que você tenha passado algum tipo de dificuldade onde até mesmo um plano louco seria bem-vindo para te tirar do sufoco. Se eu estivesse numa boa situação e alguém viesse me pedir ajuda para mudar de vida, eu não pensaria duas vezes antes de ajudar. Porque eu sabia o que ele estava passando, e em como era ruim não ter ninguém para ajudar. — Mantive a voz firme e o olhar no seu para não errar nada. 

Ele baixou a cabeça e deu um suspiro curto, levantou ela de novo e me olhou. 

—Nesse caso... Vou ver o que posso fazer se a situação é grave. — Ele disse.

—Eu tenho plena certeza que se o Juanito estivesse numa boa o Moscou não o colocaria num roubo que sabe-se Deus como vai correr. Pelo o que vi, ele quer o melhor para o afilhado, e pensou que você poderia ajudá-lo. Ele confia muito em você. Acha que se não confiasse ele te pediria isso? Colocaria a amizade em jogo por conta de um descuido desses? 

Passou-se longos segundos até ele falar.

—Eu vou falar com o Moscou — Disse ele e ficou em silêncio novamente. 

—Obrigada. — Apertei sua mão e levantei para sair. 

—Nairóbi? — Chamou e me virei — Sinto muito. 

Dei um sorriso de lado para ele. 

—Você não sabe tudo da nossa vida, Professor. Isso que sabe, são apenas detalhes. — Fechei a porta e saí. 

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—Por hoje é só, amanhã continuaremos. — Disse Professor concluindo a aula do dia. 

Todos saíram bem animados da sala e apenas eu fiquei para limpá-la, já que tivemos um final de semana muito agitado e não cuidamos disso. Quer dizer, a Tóquio não cuidou, pois era dela a função de limpar a sala de aula, mas como sou uma boa pessoa resolvi limpar o rabo dela dessa vez. Empilhei as cadeiras sobre as mesas e comecei a varrer. 

—Toc, toc. 

Virei e vi Berlim parado na porta me olhando com aquele sorriso descarado. 

—Se veio me ajudar, vai logo pegando a vassoura pois quero terminar rápido, estou morrendo de fome. — Falei jogando a vassoura para ele.

Berlim e Nairóbi - Amor acima de tudoOnde histórias criam vida. Descubra agora