—Bom, amanhã já é o assalto e creio que todos estão preparados e... Ansiosos — Falou o Professor ajeitando o óculos — Como sabem, tudo já foi repassado direito centenas de vezes, cada coisa nos mínimos detalhes. Agora, lá dentro, dependerá de vocês para que tudo corra como o estudado, eu estarei fora sim, no hangar como falei, controlando cada ação da polícia e me aproximando do elo mais forte da investigação, que é a inspetora Raquel Murillo, caso tenham estudado o pequeno livro com a biografia de cada um dos envolvidos sabem quem é ela.
Estávamos todos ao redor da mesa da sala de jantar a receber as últimas orientações do Prof. antes de amanhã. Estavam todos tensos, até mesmo Oslo que nunca demonstrava sentimento algum era possível de ver o nervosismo nele. Nosso chefe havia explicado cada coisinha com toda paciência do mundo, dando atenção especial a cada um sem deixar dúvidas.
—Aqui tem dois macacões para cada e dois tipos de máscaras, a do Dalí e a outra para o caso de um plano B e suas respectivas pistolas — Ele foi entregando o kit para cada um com nosso "nome" — As balas serão entregues minutos antes de sairmos.
Abri o saco e peguei a minha pistola. Achei linda até, se fosse rosa ou com mais detalhes melhor. Ela tinha toda a parte de cima dourada e o cabo preto mesmo, mais pesada que o comum, lembrei que tinha trazido um coldre na mala, seria bem útil agora. Todos analisavam as suas, alguns impressionados já outros decepcionados.
—É muito importante que já saiam usando eles, mesmo que alguns tenham que trocar de roupa ainda no caminho.
—Professor — Chamou Rio — Os da Manila vão estar junto com os dos reféns?
—A Manila... Não vai participar mais.
—Como assim não vai participar mais? — Questionei na dúvida.
—Houve um imprevisto e ela teve que ser dispensada... Por motivos pessoais.
—E você não ia dizer nada? — Disse Tóquio.
—Não achei que fosse necessário... — Começou mas Denver o interrompeu.
—O pai dela pediu que não a colocássemos nessa, poderia ser perigoso para ela.
—É perigoso para todos nós — Berlim que até então estava calado se pronunciou.
—Ok, amanhã sairemos ás 8h, quero que acordem mais cedo para terminarmos de organizar as coisas de que iremos levar.
—Então vamos beber agora! Se bebermos a noite acordaremos péssimos — Tóquio festejou.
Vibramos com a ideia e começamos a conversar animados como sempre e a encher nossos copos. Olhei Berlim que estava muito sério e segurava uma mão na outra com firmeza, que tremia muito. Ele encontrou meu olhar e baixou a cabeça, se virando depois e saindo em direção aos quartos. Ele não estava bem e eu precisava saber o que era.
—Querem que eu guarde as coisas de vocês? Uma última caridade — Falei para eles usando como desculpa.
—Claro.
—Aqui ó — Tóquio jogou para mim.
—Sua vadia. — Devolvi o pacote na sua cara.
Ela riu e o colocou com cuidado em meus braços assim como os outros. Peguei o meu e de Berlim que nem se deu o trabalho de olhar e fui em direção as escadas. Passei de quarto em quarto fazendo como o prometido, deixando o de Berlim por último. Bati na porta e não obtive resposta, então entrei sem permissão. Ele estava de frente para a janela parado, fechei a porta atrás de mim e joguei suas coisas na cama.
—Vai me dizer o que está acontecendo ou não? — Falei me aproximando mais.
Ele apenas virou a cabeça e me olhou por cima do ombro.
—Já vi sua mão tremendo várias vezes, sempre que eu pergunto você apenas diz não ser nada. Mas sabemos que é outra coisa bem séria. Vai me contar ou terei de falar para os outros que você tem algum problema?
Berlim se virou devagar e ficou em minha frente a me encarar com os olhos brilhando de lágrimas. Seus lábios estavam postos em uma linha fina e sua expressão era extremamente séria. Minha raiva logo foi substituída por preocupação e medo. Medo do que ele estava prestes a dizer.
—Nairóbi... — Começou, mas suspirou fundo antes de continuar — Há cinco anos fui diagnosticado com uma doença degenerativa chamada Miopatia de Helmer, que me daria apenas 2 anos de vida no máximo. Mas uso um medicamento para atrasar a evolução da doença, o Retroxil. Já se passou muito tempo do que o estimado, e fiquei feliz por isso, mas agora a doença está se agravando mais, logo não viverei por mais tempo.
Parecia que um enxame de abelhas circundavam meus ouvidos e minhas pernas pareceram sair do corpo, deixando apenas o tronco no ar. Minha visão escureceu e meu coração parou de bater por alguns segundos. As mãos de Berlim estavam em volta de mim no mesmo instante, evitando que eu caísse.
—Você está bem? Olha pra mim, Nairóbi, ei — Ele deu tapinhas no meu rosto — Respira devagar, você está tendo uma crise de pânico.
Minhas pernas voltaram a vida e então pude ficar de pé novamente. Empurrei-o e comecei a me direcionar até a porta, eu estava muito tonta e sem ar. Aos tropeços fui até o banheiro e liguei o chuveiro, me jogando debaixo com roupa e tudo, sentei no chão frio e deixei a água me acalmar. Devagar, minha respiração foi ficando mais leve e minha visão clareando, juntamente com as ideias. Segundos depois os braços de Berlim estavam em volta de mim me trazendo para perto de si, me apertando contra seu corpo. Nesse momento, sentindo o calor do seu corpo tão familiar contra o meu, me dei conta de que não o teria para sempre, e isso me fez começar a chorar alto com soluços incontroláveis.
—Shiu, eu estou aqui com você, vai ficar tudo bem, calma... — Ele enfiou meu rosto em seu peito para abafar o som do meu choro enquanto esfregava a mão em minhas costas.
Então era por isso que ele havia falado aquelas coisas semana passada na colina e insistiu em falar coisas tristes quando estávamos na cama. Ele estava morrendo. Eu iria perder meu Berlim. Quando finalmente havia encontrado o homem que mais me fez feliz no mundo eu iria perdê-lo. Eu não conseguia pensar em nada específico no momento, era tudo muito embaralhado.
—Está passando... — Ele continuava a dizer. Não estava passando nada, meu desespero só estava aumentando mais.
Por que ele não contou logo no início? Por que não disse pra eu não me apegar tanto e nem me apaixonar? Por que me tratou como uma princesa, como uma coisa muito valiosa se era pra me fazer sofrer assim quando soubesse? POR QUE?? Uma raiva incomum tomou conta de mim e comecei a socar seu peito, e ele me deixou bater, bater muito. Eu batia em seu rosto, seus braços e onde podia, queria esganá-lo e destruir cada pedaço dele.
Após algum tempo fui parando com a agressão devagar, me sentindo vazia em todos os sentidos e sem forças. Eu não sentia vontade de chorar, de gritar, de correr... De nada. Eu estava paralisada naquele chão frio do banheiro com a água gelada a derramar como uma cachoeira sobre mim. Eu encarava Berlim e não sabia o que pensar, ele chorava de forma silenciosa e me olhava com uma culpa enorme nas costas. Secou suas lágrimas e me puxou novamente para si, me abraçando com aquela mesma paixão e carinho de sempre. Fechei os olhos e chorei mais uma vez, só que dessa vez não era de desespero, era da dor mais profunda que já senti esmagando meu peito.
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Berlim e Nairóbi - Amor acima de tudo
FanfictionÁgata Jiménez tem a esperança de que sua vida possa mudar após esse assalto A Casa da Moeda da Espanha, resolvendo todos os seus problemas. Mas mal sabia ela que esses 5 meses na casa de Toledo poderiam ser incríveis. Principalmente por ter Berlim c...