Capítulo 9

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Colocamos as roupas numa sacola de feira e arrancamos as etiquetas, nos desfazendo de tudo ainda na estrada. Se o Professor ver as sacolas de loja cara vai querer saber onde arrumamos dinheiro para aquilo tudo, e seria bom para todos ele não saber como conseguimos. Tóquio não se importou em mostrar a garrafa de gin. 

—Pontuais para quem foram as compras. — O mesmo já nos esperava na mesa que ficava fora da casa. 

Joguei as chaves sobre a mesa em sua direção, ele as agarrou e colocou no bolso. Não vi mais ninguém fora, deveriam está na cozinha ou ajudando em algo antes do jantar. O crepúsculo estava magnífico, dando tons alaranjados em tudo. 

—São apenas coisinhas nossas. — Falei. 

—Não importa — Disse ele temendo eu pegar os absorventes e o mostrar as diferenças — Pelo visto fizeram uma vaquinha para comprar um Gin Monkey 47. 

—Vendedores ambulantes precisam ser mais valorizados, porque eles têm de tudo. — Disse Tóquio e levantou saindo. 

—Obrigada, Prof. — Falei passando a mão no seu rosto antes de sair. Senti-o rígido. 

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—Eles vão entrar — Falou o Professor. 

Estávamos na sala "assistindo aula". Ele estava a nos explicar uma parte que dizia ser essencial. 

—Não sei se será uma invasão ou durante uma emergência — Ele dizia do fundo da sala — Ou com a Cruz Vermelha, com um entregador de pizza... Mas é óbvio que eles vão tentar infiltrar alguém. 

Assustei-me quando ele fechou meu caderno de uma vez. Eu estava escrevendo frases bobas e não prestando muita atenção. Coloquei o lápis na boca para prender o riso, Rio olhou pra mim e sorriu. 

—E essa será nossa oportunidade de colocar um cavalo de Tróia. Sabem o que é isso? — Perguntou.

—Eu não sei, mas pensei numa rima ótima — Disse Denver. 

—Não. O cavalo de Tróia...

—Caga merda que boia. — Disse rindo. 

—Se concentra! — Moscou deu um tapa em sua cabeça. 

—Ai! 

Rio e Berlim foram os únicos que riram. Eu achei a coisa mais idiota. 

O Professor o encarou com um rosto que ameaçava esquartejá-lo e jogar para os cães. O riso de Denver se transformou numa carranca em segundos. 

—Desculpa. 

—Os gregos estavam em guerra com os troianos — Prosseguiu o mesmo — Um dia os troianos encontraram nos portões da cidade um cavalo de madeira. Um enorme cavalo de madeira. Por vaidade, acharam que fosse um presente dos gregos, como rendição. Então abriram os portões e levaram o cavalo para dentro. Porém não sabiam que o cavalo era oco... e recheado de guerreiros gregos — Rio pôs a cabeça bem na minha frente, mordi a caneta evitando o ímpeto de lhe dar um cascudo — Naquela noite os troianos perderam a guerra. E é exatamente o que vamos fazer. 

Ficamos nos entreolhando sem entender o que ele quis dizer. Como assim iríamos perder? 

—Quando tentarem entrar, e acharem que ganharam a batalha, nós estaremos milhares de passos a frente deles. 

—E como você pretende nos deixar tão a frente deles? — Perguntou Moscou. 

—Espionando um desses agentes que entrará. Vamos procurar uma maneira bem eficaz na hora para colocarmos escutas nele sem que perceba. Em um relógio, numa pulseira, óculos... Algum objeto. Agora... — Ele olhou o relógio — Estão dispensados, aula amanhã na parte da tarde.

Berlim e Nairóbi - Amor acima de tudoOnde histórias criam vida. Descubra agora