Capítulo 12

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Final de semana. Para muitos eram os dias de curtir e tomar uma cerveja para renovar a noção de viver. Mas naquela casa não. Final de semana significava que era dia de faxina, o que deixava todos mortos de cansaço a noite. Por sorte as tarefas eram bem distribuídas: Eu e Tóquio cuidávamos da limpeza interna, Rio e Denver da externa, Moscou tirava todas as teias de aranhas que dominavam a casa mais que nós mesmos, Helsinque e Oslo consertavam alguma coisa quebrada que sempre aparecia, o Professor ia ao mercado para comprar comida (já que era o único que podia andar de "cara limpa" e sem medo. Por enquanto.) e Berlim (como era satisfatório lembrar de sua tarefa) tirava todos os panos de cama e recolhia as roupas sujas para por na máquina de lavar, e ainda colocava no varal.

Quando Professor classificou a tarefa de cada um, foi uma puta confusão. Moscou como sempre, foi o único a não reclamar. Berlim foi o que ficou mais putinho, tentou usar o seu discurso machista pra ver se safava mas não deu certo com o Professor. Nós mulheres não gostamos também, já que só nós duas iríamos limpar a casa toda, e ela era muito grande. Enfim, cada um reclamou melhor, mas o senso de liderança e paciência do Professor era surpreendente e conseguia convencer nós todos. 

Eu estava em meu quarto a dobrar minhas roupas (já que Berlim não foi nada cavalheiro em apenas apanhá-las e atirar sobre minha cama) quando Tóquio chegou abrindo a porta de uma vez. 

—Amigaaa! — E se jogou na minha cama. 

—Você não se conscientiza, não é? Lembra do que viu da última vez que entrou assim? — Falei relembrando a cena minha com Berlim. 

—Eu estava quase esquecendo. Mas vi ele na sala a conversar bobeiras com os outros, por isso entrei sem bater. 

—Você está amassando minha roupa, sua vaca. Sai de cima — Empurrei ela de lado. 

—Que tal uma festa? — Falou ficando sobre meus cotovelos. 

—Festa? Quando, onde e como? — Já estava animada. 

—Hoje a noite, aqui mesmo e com muita bebida! 

—Nossa, arrasou! Resolveu esvaziar a adega foi? — Comentei lembrando das toneladas de bebidas que ela tem no quarto. Como ela trouxe tudo isso eu não fazia ideia. 

—Sim, falta poucos meses para sairmos daqui definitivamente, não consigo dar conta de tudo sozinha. 

Lembrar que falta pouco tempo para o grande dia me dava calafrios. Medo de dar tudo errado, e medo de dar tão certo que eu ficasse sem saber o que fazer depois. 

—Está perto, sim? Não está nervosa? — Perguntei. 

—Eu estou muito ansiosa se quer saber, preciso de adrenalina, pegar numa arma de novo... 

—Mesmo depois do que aconteceu com seu namorado? 

—Ele jamais iria me querer ver deprimida e com traumas. Passei 10 dias em sofrimento profundo, sem saber o que fazer. Agora, está na hora de sentir a mesma sensação de antes correr nas minhas veias. — Disse ela com a voz firme mas com um leve tremor no final.

—E sua mãe? — Eu sabia que era algo muito delicado de se perguntar, mas eu precisava saber se ela estava mesmo preparada para o que estava por vir. 

Tóquio ficou mais alguns instante a encarar o vazio. 

—O mínimo que posso sentir é remorso, mas não adianta de nada. Ela pediu muito para eu sair dessa vida, mas eu não a dei ouvidos. Ela morreu de desgosto e decepção, por ter uma filha assim. Não foi por culpa da sua criação. Não. Ela sempre me ensinou coisas boas e me colocava no bom caminho, mas estava no meu sangue ser assim. Não teve jeito. Eu a matei — Disse ela friamente. 

Berlim e Nairóbi - Amor acima de tudoOnde histórias criam vida. Descubra agora