Capítulo 51

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1 ANO DEPOIS

O ar em meus pulmões de repente pareceram insuficientes e eu não conseguia manter a respiração normal. Sentei na cama ainda ofegando de forma a fazer o ar correr normal. Levei a mão trêmula até a testa e senti o suor frio em todo meu rosto. Mais alguns minutos depois consegui voltar ao normal e baixei a cabeça chorando. 

Era uma das noites em que eu sonhava com Berlim, e que quando acordava, ele não estava ao meu lado na cama. Nos sonhos eu nunca o via de perto, apenas distante e fora do meu alcance. Eu o chamava e gritava seu nome, mas ele continuava parado no mesmo lugar sem se mover, apenas me olhando, e eu não sabia decifrar sua expressão. Depois da sua morte eu tentei seguir a vida como ele havia pedido, mas era como engolir espinhos; eu comia para me alimentar e seguir adiante, mas a cada colherada, tudo se rasgava mais. 

Levantei da cama e caminhei até a janela que dava para a vista incrível da praia de Ipanema, no Rio de Janeiro. Eu podia ver o sol nascer todos os dias sentada na mini cama da jacuzzi que ficava em frente a janela. Eu estava no Brasil havia 2 meses, e era maravilhoso. Viajei bastante antes de chegar aqui com Helsinque, e estávamos maravilhados com a cidade. Descobrimos também que os brasileiros não são apenas favela e futebol, por incrível que pareça, são as pessoas mais diversificadas que já vi. 

Compramos nosso apartamento de frente para o mar e que tinha as melhores suítes. Vivíamos ali como a porra de uma família feliz, mas eu não conseguia tirar Berlim da minha mente um segundo sequer. Os primeiros dias sem ele até que foram mais fáceis, o pior veio depois. A ausência dele era dolorosa, acho que se eu não tivesse Helsinque do meu lado estaria perdida... Nada faria sentido. Eu sentia tanto sua falta que por vezes pensei em fazer besteira. 

Uma das coisas que me fazia sentir mais próxima dele era a pulseira de diamantes que ele havia me dado. Todos os meses eu procurava um joalheiro para apertar mais as pedras para não correr o risco de perder, pois cada uma tinha um valor enorme para mim. Eu não tirava ela do braço por nada, apenas quando saia na rua para não correr o risco de ser roubada. Toda vez que eu a olhava me recordava da nossa noite na colina de Toledo, a mais linda e especial que já tive. Eu revivia aquele momento como se fosse minha última lembrança, pensando até nos mínimos detalhes... Ele havia me dito que quando sentisse sua falta era só olhar para as estrelas, eu fazia isso, mas não sentia sua presença lá, mas na pulseira era como poder tocá-lo as vezes.

Saí dos pensamentos que derramaram mais lágrimas quando ouvi um choro romper o silêncio do quarto. Limpei o rosto e caminhei até o berço que ficava ao lado da minha cama e me inclinei.

—Oi, meu amor, mamãe está aqui — Sussurrei pegando meu pacotinho de amor nos braços.

Minha filha acalmou mais após sentir o calor do meu corpo. Ela tinha apenas 3 meses e era a razão do meu viver, a pessoinha mais incrível. Fui até a janela novamente e sentei no sofá com ela, que continuava gemendo e agitando os braços e as perninhas. 

—Calma, está aqui — Falei baixinho dando o seio para ela, que agarrou e parou de se mexer, apenas concentrada na sua fome. 

Olhar para ela me completava com toda alegria que faltava, e o motivo de eu não ter desistido de tudo foi ela. Era idêntica a Berlim. Não puxou nenhum traço a mim. Nenhum. Ela era a cópia perfeita do pai, só que na versão bebê e feminina. O cabelinho castanho só que claro, os olhos da mesma cor, o sorriso banguela que tinha tudo dele, o nariz... Até a rebeldia era igual. Quando ficava brava, chorava tanto que Helsinque não conseguia acalmar, ficava desesperado e sem paciência. Como eu já tinha experiência na área daquelas birras, lidava bem com as crises. Perdi meu homem cheio de defeitos e ganhei meu maior tesouro que veio com alguns de seus defeitos de brinde. 

Berlim e Nairóbi - Amor acima de tudoOnde histórias criam vida. Descubra agora