Capítulo 44

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Ele tinha dormindo quatro horas nos últimos cinco dias, sabe o que acontece com alguém que não dorme? As conexões neurológicas se confundem, como num curto-circuito. Deixa de produzir dopamina, deixa de metabolizar glicose e a única informação que fica no cérebro é sobreviver. Então se tem uma coisa que não se pode pedir para um cara que está há cinco dias sem dormir é paciência.

Aquela situação já estava me deixando eufórica de novo, tirando qualquer restinho de paz que me restava. Eu já havia passado por coisas que me deixaram muito nervosa, mas nada disso, juntando, se comparava com toda a raiva que eu já tinha passado nesse lugar. Já passei raiva impossível de se aderir numa vida toda, e agora, consegui tudo isso em apenas cinco dias. E eu não aguentava mais, não mesmo.

Pensamentos negativos e ruins batiam em minha mente como a água do mar bate nas rochas, mas minha cabeça era uma rocha frágil e estava se rompendo. Senti as lágrimas quentes rolarem pelo meu rosto e vi que estava realmente saindo do controle mais uma vez. Por preocupação, angustia, medo, pavor... Tudo misturado. Olhar para esses filhos da puta aqui na minha frente só me enchia ainda mais do puro ódio. Os desgraçados que fiz o possível para deixar todos bem e calmos, de que teriam a liberdade... Mas não! Eles estão pouco se fodendo para a assaltante que quer fazer diferente.

Sem pensar no que estava fazendo, peguei minha pistola do coldre e mirei para cima. Deixei as lágrimas correrem mais ainda e me agachei no chão chorando sem controle. Passei não sei quanto tempo ali, naquela posição a chorar e sem conseguir parar de pensar demais. A real vontade que eu tinha era de pegar cada um daqueles filhos da mãe e matar de forma dolorosa, para aprenderem a lição. Mas eu não era assassina. 

—Eu tenho tentado ser boa — Foi o que comecei a dizer em vez do que meu pensamento pedia. Levantei e comecei a tirar as vendas de cada um — Eu tenho tentado dar para vocês o que foi prometido. Livrar vocês do Berlim. Fazer com que isso tivesse sentido! 

Minha fala era engolida cada vez mais pelo choro. Eu olhava para cada um que chorava também, mas de medo, pois sabiam que eu era uma das únicas que os tratavam bem e agora estava surtando. E eu não estava nem aí.

—Depois de perder o que perdi, queria que isso tivesse algum sentido! — A dor nas minhas palavras podiam até ser tocadas — Eu sou boa! Tentei ser boa. E o mundo cuspiu na minha cara! — Joguei o monte de vendas no chão já com a raiva substituindo a dor.

Fiquei mais algum tempo tentando assimilar todas as merdas que já tinham acontecido nesses últimos dias. A pior parte disso tudo é que entrei nesse maldito lugar com um único intuito e objetivo, onde entrei com tudo e dei o meu melhor, para ter meu plano e meu sonho sendo jogado na minha cara, me dizendo que eu era uma merda, um lixo! Aquilo doía tanto...

—Eu tenho tentado dar oxigênio — Retomei a fala depois de um longo tempo de reflexão — E vocês e todos os outros me mandaram tomar no cu. Vocês não entendem.

Levantei minha arma para cima mais uma vez e disparei duas vezes fazendo todos gritarem. Virei para eles e comecei a andar na frente de cada.

—O que será que eu terei que fazer para que vocês me respeitem? — Abaixei-me na frente de Alison — O que eu tenho que fazer? Cortar a sua orelha? — Coloquei a pistola em seu pescoço e agarrei seu cabelo — E mandar pro seu pai? Ou dar um tiro na sua perna para que você nunca mais possa dançar na porra da sua vida? 

—Uma ótima ideia! — Berlim gritou me fazendo levantar rápido e assustada. 

Virei e o vi no topo da escada a olhar para a cena. Na situação que eu me encontrava, se ele dissesse um A para mim eu estouraria sua cabeça. Limpei as lágrimas do rosto, minha cabeça já estava doendo de tanto chorar, estava prestes a explodir.

Berlim e Nairóbi - Amor acima de tudoOnde histórias criam vida. Descubra agora