17 - MOVENDO MONTANHAS

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6 MESES ATRÁS

Eu estava nervosa quando estava prestes a subir naquele palco. Eu tinha analisado todo o processo de inscrição para a Juilliard, assistido vídeos sobre outras pessoas contando como foi entrar para uma das melhores faculdades de dramaturgia do mundo, seus processos e o que cada um deles fizeram para conquistar uma vaga. Eu saí de casa confiante, sabendo de cada detalhe e qualquer entrelinha.

Cada nova etapa naquela inscrição, era como um passo em direção ao meu futuro. Apesar de toda a expectativa em ingressar na Universidade de Nova York, a Juilliard era o lugar que fazia meu coração palpitar. Mas agora, a palpitação mostrava meu nervosismo, deixava clara toda a minha tensão para o que eu teria que encarar dentro de alguns minutos: uma bancada com grandes profissionais que avaliariam minha capacidade ou não de pertencer àquele lugar.

Eu recordava mentalmente se eu tinha feito tudo corretamente: minha inscrição on-line, a redação explicando porque decidi ser uma atriz, as cartas de recomendação, a prova básica de eficiência da língua e, agora, a audição. Em minha lista mental, eu dei um check em tudo, menos na audição, que estava prestes a acontecer. Minha mãe dizia que eu tinha nascido para viver da arte, seja na música ou na atuação. Eu tentava absorver toda a confiança que ela tinha em mim para respirar fundo agora e fazer o que eu precisava fazer.

– Lucinda Jones. – ouvi chamarem meu nome, então respirei fundo e adentrei o palco, parando ao centro, onde um holofote apontava. Parei no lugar indicado e sorri para a banca à minha frente – Lucinda, meu nome é Penny e faço parte da equipe avaliadora da Juilliard. Você tem alguma dúvida sobre o que você precisará fazer?

– Não não, um texto intensificado e um contemporâneo, certo? – falei, enquanto esfregava uma mão na outra, tentando afastar o nervosismo. Não era a primeira vez que eu estava em um palco, mas era a primeira vez valendo meu futuro.

– Isso mesmo. Fique à vontade para começar quando quiser. Boa sorte!

– Obrigada. – respirei fundo e decidi começar pelo monólogo contemporâneo. Dei as costas para a bancada por um instante, para absorver a intensidade do que eu precisava falar, me virei e comecei – Eu te banquei, Troy. Peguei todos os meus sentimentos, minhas vontades, necessidades e sonhos, e os enterrei em você. Eu me plantei dentro de você e esperei florescer. E eu não precisei de 18 anos para saber que o solo é duro e rochoso, e que nunca iria florescer. Mas eu fiquei com você, Troy. Me agarrei mais a você. – nesse momento, a intensidade da cena que eu havia escolhido me veio com força na mente, e não foi nada difícil chorar, eu estava tão preocupada com o que eu precisava fazer, com o meu futuro, que as lágrimas caíram facilmente. Minha voz estava empostada, eu tentava refletir a mesma raiva, tristeza e intensidade que a dona desse monólogo usou – Você era meu marido, eu devia tudo o que eu tinha a você. Cada parte de mim que achasse para lhe dar. E lá em cima, - apontei com fúria e expressividade. – naquele quarto, com a escuridão sobre mim, dei tudo o que tinha para tentar apagar a dúvida de que você não era o melhor homem do mundo. E onde você fosse, eu estaria lá com você, porque você era meu marido. Porque era a única forma de eu sobreviver como sua esposa. Você sempre fala sobre o que dá e o que não tem que dar. Mas você exige também, Troy. Você exige e nem vê quem está dando. – ao terminar, abaixei a cabeça e encarei a bancada.

– Pode prosseguir, querida. – Penny disse para mim.

Então, comecei a interpretar um trecho de Romeu e Julieta, um clássico de Shakespeare, conforme pedia a inscrição. Como o momento era completamente diferente, enxuguei as lágrimas, me recompus e de uma esposa cansada da intensidade do marido, fui para a donzela apaixonante. Assumi a postura que a cena pedia e prossegui.

Messed Up SummerOnde histórias criam vida. Descubra agora