31 - O MEU MUSICAL

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– Eu deveria ter ido lá, não deveria? – perguntei para Clary enquanto conversávamos pelo telefone. Mesmo depois de Vivian ter ido embora, o que aconteceu com ela assombrava meus pensamentos. Por todo aquele tempo, eu havia focado na falta que ela me fazia, pensando no que eu poderia ter feito para ser tratada daquela forma. Agora, eu me sentia jogada em um poço de egoísmo e vergonha, por ter deixado que ela passasse por tudo isso sozinha e ainda, de alguma forma, chateada por seu distanciamento.

– Não, não deveria. Já te disse que isso tudo eu posso resolver – Clary respondeu rapidamente. Ela sabe como eu tenho me sentido com relação a tudo e tem tentado me acalmar, sempre me dizendo frases misteriosas como essa, reforçando que está resolvendo a situação, mas sem explicar o que tem feito de fato.

– O que você tem aprontado? – perguntei, mesmo sabendo que a resposta não viria.

– Se você souber, vai querer interferir, então...só saiba que estou resolvendo. Agora, pare de me enrolar e me diga se já sabe o que vai apresentar para a Feldmann essa semana. Você tem me enrolado sobre isso também. Está preparando uma grande apresentação, né? É a sua cara – Clary se referia à apresentação que teríamos que fazer para o fechamento do primeiro semestre, antes das festas de fim de ano. É claro que eu não fazia ideia e, aparentemente, minha amiga me acha muito mais incrível do que eu realmente sou.

– Eu já te disse. Não tenho nada planejado. Eu tenho gastado minhas horas em casa ensaiando para a peça.

– Garota, por que tem feito isso? Nós já temos os horários de ensaio na faculdade para termos tempo vago em casa.

– Eu sei, só quero atender ao que esperam. Enfim...se tiver alguma sugestão, me conta.

– Pode deixar.

– Clary... – falei bruscamente, tentando tirar algo da minha amiga.

– Oi.

– O que você vai aprontar com a Vivian?

– Tchau, Lucy – ela desligou e eu suspirei com a recusa de Clary em me contar o que estava fazendo. Então, deixei o celular de lado.

Comecei a fitar o teto, pensando no que eu poderia fazer nessa apresentação, buscando alguma inspiração, mas simplesmente nada vinha em mente. Eu gostava tanto da sra. Feldmann. Era a pessoa que qualquer um faz tudo para mantê-la feliz, simplesmente porque sua forma acolhedora e genuína tornam difícil imaginá-la desapontada ou raivosa com alguém. Até mesmo Sadie conseguia ficar mais serena nas aulas dela.

Tentei repassar os musicais que eu assisti minha vida toda, pensando em possibilidades de diálogos interessantes, mas havia um bloqueio. A minha cabeça parecia carregada e era como se qualquer musical sumisse. Eu queria poder ligar para Vivian, mas tinha receio de parecer invasiva, de usar alguma palavra errada e acabar causando gatilhos em minha amiga.

Decidi ligar para Adam e pedir algum conselho. Afinal, ele conhece musicais como a palma da mão. Não demorou para que ele me atendesse.

– Lucy? Aconteceu alguma coisa? – ele perguntou preocupado.

– Oi, Adam. Não, não aconteceu nada. Está tudo bem por aí? – tento parecer calma, sem apressar a ligação.

– Está sim, só não estou acostumado a receber ligações. Achei que estivesse em perigo – ele parecia afobado e tive que rir.

– Nada disso, ninguém em perigo. Na realidade, eu posso me meter em uma grande merda se não tiver sua ajuda e...

– Lucy, eu não ajudo a enterrar corpos. Tem um limite, sabe? Se você e Clarissa mataram aquele cara, eu não posso fazer nada para ajudar. Você sabe que...

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