6 - UMA SEMANA MEMORÁVEL

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Depois do dia no parque aquático, as coisas ficaram menos intensas entre Marco e eu. Pela forma como as coisas estavam caminhando, perguntar se alguém quer um sorvete enquanto ela parecia decidida em te beijar, era a forma mais concreta de jogar um balde de gelo na situação e amenizar qualquer tensão sexual que tinha surgido.
A esfriada não tirou nossa parceria para fazer coisas realmente divertidas enquanto não começávamos o trabalho oficial no parque. Como seríamos parceiros de trabalho com o objetivo de não deixar ninguém se afogar no parque, a frequência com que nos encontrávamos era maior. Para quem nos conheceu na escola, a amizade era coisa inédita. E era de fato. Marco era divertido e estava comprometido em não me deixar desanimar pelo resultado das faculdades. Então, montava programas diferenciados para fazermos e eu só aceitava.
Em uma noite, antes de irmos para o próximo programa surpresa que ele preparava, conversei com Vivian por vídeo chamada. Ela já estava hospedada em hotel próximo de Harvard, para conhecer o local e as redondezas.
– O que vocês farão hoje? – ela me perguntou empolgada.
– Não sei, ele não quis me contar. Eu estou aceitando qualquer coisa para aproveitar essas pequenas férias antes de trabalhar, depois eu vou precisar me empenhar muito para conseguir dinheiro.
– Aí, isso é tão romântico. – revirei o olho enquanto Viv batia palmas.
– Fala sério, Vivian, somos só amigos.
– Amigos? Nessa intensidade de convivência?
– Sério? Já esqueceu que crescemos com o Lee e a Elle sendo amigos dessa mesma forma.
– Mas eu tenho certeza que a Elle nunca desejou o Lee como eu sei que você deseja o Marco.
– Sabe quem desejou o Marco também? A Elle, e beijou ele em público. Ele ainda gosta dela, eu tenho certeza. 
– Não seja boba. Elle sempre teve olhos apenas para Noah, aquilo foi um erro de rota, mas já foi acertado.
– Não para o Marco. Eu acho que no fundo ele ainda sente algo.
– Como pode achar? Eles não se viram mais, não é?
– Não, aparentemente não. Mas uma paixão como essa não se esquece do dia pra noite.
– Talvez não, mas ele não contava com a deusa maravilhosa que é Lucinda Jones. – ela riu depois de falar e eu tive que rir junto, mas revirei o olho.
– Você é insistente.
– Não é insistência, é sonho. Sonho para você ter um relacionamento que preste. Eu estou cansada de te ver com macho que não presta.
– Acredite ou não, eu também! Mas eu não quero ser tapa buraco de ninguém. Estamos numa amizade legal, ele tem me ajudado muito a lidar com essa loucura da faculdade e é isso.
– Pelo menos nisso eu preciso agradecê-lo. Eu me sinto horrível por não estar aí, curtindo esses dias contigo.
– Não tem que se preocupar comigo, Viv. Não é nada demais.
– Nada demais? É seu futuro, garota – ela disse exasperada.
– Eu sei, eu sei. Mas estou tentando não colocar pressão nisso para o caso de eu não entrar em nenhuma das duas. Quero ter a cabeça fria para lidar com esse tipo de coisa. Mas chega de tristeza, porque eu não aguento mais transformar nossas ligações em um funeral. Como estão as coisas aí?
– Muito bem. O campus é enorme, tem um monte de gente bonita. E perto tem alguns lugares legais para ir. Quando você vier me visitar, vou te apresentar todos.
– Que incrível, Viv. Fico feliz que tenha dado tudo certo. É claro que logo eu vou querer conhecer. No primeiro período de férias, estarei aí. – sorri para ela e reparei que uma notificação havia chegado em meu celular. – Acho que o Marco está me esperando, preciso ir.
– Claro, querida, vai lá. – ela sorriu maliciosa – Depois me conte como foi esse seu encontro.
– Tá, garota chata. Até mais, se cuida, te amo e não me enche de mensagem. Eu posso facilmente te bloquear.
– Fique à vontade. Peço pra Agatha me informar. – ela riu e eu revirei os olhos novamente.
– Eu não sei o que fiz para merecer vocês duas –sorri para ela, enquanto ela acenava e desligava a ligação.
Abri a mensagem de Marco e ele me esperava do lado de fora. Peguei uma jaqueta jeans só por precaução, porque estávamos no verão de Los Angeles e o calor é intenso. Parei em frente ao espelho para conferir se a minha escolha de roupa estava boa. Estava ótima com um vestido midi com estampa floral, alças e acinturado, e um all star branco nos pés. Desci as escadas correndo e ouvi minha mãe gritar da cozinha um "vai devagar, garota, o rapaz não vai fugir", e minha irmã responder "Não sei, mãe, a Lucy está meio lenta, é capaz de deixar fugir sim". Ignorei o comentário da minha irmã, dando tchau para minha mãe e avisando que não voltaria tarde. Abri a porta e sorri para Marco, que me esperava encostado na pilastra da varanda.
– Pronta? – ele posicionou o braço para que eu pudesse enganchá-lo.
– Mais ou menos, você ainda não me falou onde a gente vai.
– Se eu contasse, você provavelmente desistiria.
Saímos em direção à rua. Hoje, ele iria dirigindo. Ele colocou sua playlist para tocar, que eu já conhecia dos outros passeios que demos. Seja na ida à praia para jogar vôlei ou no fliperama da cidade, a playlist era sempre a mesma e transparecia a personalidade de Marco. Ao som da versão do Smash Mouth de 'I'm a Believer', fomos em direção ao local misterioso que Marco tinha preparado para nós. Deixei as janelas do carro abertas para sentir a brisa refrescante no meu rosto, enquanto meus braços acompanhavam o ritmo da música, com uma dancinha estranha e eufórica. Cerca de 10 minutos depois, chegamos em nosso destino. Não entendi bem o que era logo de cara, porque a fachada não entregava muito, era um lugar mais reservado. Mas o barulho que vinha de dentro não escondeu que lá havia alguém cantando com muita empolgação e uma plateia tão animada quanto.
Ao entrar, vi o pequeno palco que ficava ao centro do grande salão, e várias mesas espalhadas por todo o local. Estava cheio – o que não era tão comum para um karaokê, mas o clima de verão nos permitia fazer atividades diferentes -, e uma moça se aventurava cantando no palco. A afinação não era a das melhores, mas o esforço e a diversão compensavam qualquer falha. Ela cantava sua versão de "We Belong", enquanto a plateia vibrava a cada agudo ou tentativa de falsete. Marco me indicou a mesa vazia que tinha em um canto afastado, e eu me sentei.
– Um karaokê. De onde veio essa ideia? – eu olhei chocada para ele, com um sorriso no rosto.
– Você me falou que seguiria carreira cantando ou atuando. E aí eu me dei conta de que nunca te ouvi cantar. Achei que seria um ótimo treino para você decidir logo o que quer fazer quando for aprovada. – ele falava convicto de que era uma ideia brilhante.
– Você nunca me viu cantando porque eu tinha um pequeno grupo seleto de fãs no clube de canto. Era só ter nos visitado.
– Bom, então você já está acostumada a cantar para uma plateia. Achei que teria que lidar com alguma resistência.
– Mas eu só vou se você cantar comigo.
– Eu canto a música que você quiser. – ele falou em tom desafiador
– Muito bem, garanta a nossa vez lá então, que eu vou escolher nossa música. – falei e ele me respondeu com um sorriso brincalhão no rosto.
Ele foi até o balcão e voltou com um cardápio. Entregou para mim e pediu para que eu escolhesse o que comeríamos. Escolhi um hambúrguer simples com batata frita, enquanto ele pediu um mais completo com cebolas empanadas. Ficamos aguardando nossa vez e eu sentia meu estômago roncar de fome. Eu sei, pareço uma máquina de comer, pareço sempre com fome. Mas o cheiro que vinha da cozinha era incrível e atiçava a vontade. Não demorou para que chegasse nossa vez. Fui até o palco, peguei meu microfone, entreguei outro para Marco e procurei pelo número da música que eu já tinha em mente desde que ele me desafiou a escolher. Assim que confirmei o número, todos puderam ouvir os primeiros toques de "Somebody to love", do Queen. A música era uma tradição na minha família, já que eu amava um filme com a Anne Hathaway, onde ela cantava essa música. Era como reviver as noites na sala de casa, com minha mãe e minha irmã dançando enquanto eu cantava. Apontei para a frente do palco, indicando que Marco começasse. Ele sorriu, tomou a frente e começou a cantar.

Messed Up SummerOnde histórias criam vida. Descubra agora