35 - POR ONDE COMEÇAMOS?

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POV SEBASTIAN

Em algum momento, a minha vida virou um caos. Eu não sei exatamente quando. Seria no começo, quando desisti de ter uma família com Stella ou quando perdi meu emprego por estar bêbado demais? Quando apanhei da minha mãe por não ser o homem que ela esperava ou quando perdi uma das pessoas mais importantes pra mim?

Analisando as possibilidades, acho que tornei tudo um grande caos do começo ao fim. E acho que estava tudo ruindo ao ponto de eu desejar não estar mais aqui, até que uma luz no fim do túnel apareceu.

Quando achei que não seria um bom pai, eu voltei pra Nova York e decidi arranjar um emprego que me desse dinheiro suficiente para eu sustentar a vida de galanteador que eu queria ter. Virei bartender e eu tinha realmente talento com os drinks. Stella sempre falou como eu era bom quando preparava um ou outro, principalmente o tal do drink de blueberry que ela amava.

Uma profissão descolada e um rosto bonito, foram o suficiente para eu conseguir o que eu queria: mulheres. Até o dia que me envolvi com uma mulher casada e o marido dela não era amigável. Eu apanhei tanto que, quando tudo acabou, fiquei deitado esperando a vida acabar. O socorro não veio tão rápido, já que alguém largado em um beco de bar, seria só mais um bêbado sem expectativas maiores. Depois disso, o que era trabalho, virou vício.

Comecei a beber tanto, que a minha casa parecia um depósito de latas e garrafas vazias, e meu trabalho era uma fonte inesgotável. Eu achava que ninguém notaria a falta de um engradado ou outro no estoque, mas notaram. E quando descobriram que era eu, obviamente fui mandado embora e tive que voltar para a casa da minha mãe.

Foi em uma de nossas discussões que, exausta de lidar com um filho cheio de problemas, ela deu um tapa no meu rosto. Ficamos nos encarando por um tempo. Ela paralisada com o que tinha feito, eu rendido, processando o ponto em que minha vida tinha chegado. Depois daquilo, eu tive certeza que precisava de um recomeço.

Então, vi um anúncio de um adolescente, Iago Díaz, que precisava de um personal trainer e achei que poderia me candidatar, mesmo não sabendo porra nenhuma de educação física. Incorporei a minha melhor versão esportista e pesquisei um treino pronto na internet, apresentei aos pais do garoto e fui contratado, sem nem um pedido de diploma. Eu preciso reforçar que sou muito bom de lábia.

Acontece que acabei me afeiçoando ao rapaz. Ele tinha 16 anos e eu sabia que Lucinda estava naquela idade. Provavelmente, cheia de sonhos, assim como Iago, que queria ser jogador de futebol. Às vezes, enquanto o treinava, eu me questionava como minhas filhas estariam. Provavelmente, se eu as visse na rua, nem as reconheceria. E isso acabou me causando algum pânico. Lembro que fazíamos um exercício simples com bolas. Acabei tomando uma bola na cara. Quando Iago chutou e eu não segurei, caí para trás.

– Ai, meu Deus. Professor, está tudo bem? – Iago correu em minha direção, preocupado.

– Está sim. Só me desconcentrei. Ótimo chute, moleque. Derrubaria qualquer um – ele esticou a mão, me ajudando a levantar.

– O senhor parecia realmente muito longe daqui. Em pensamento, eu digo. Minha abuela costuma bater com o pano na minha cabeça, vou fazer isso contigo – ele retrucou com um sorrisinho e eu retribuí com uma carranca, para que ficasse calado.

– Só estava pensando nas minhas filhas. – Iago me olhou em um sobressalto, provavelmente curioso em descobrir algo sobre mim. Afinal, eu sabia sobre as garotas que ele saía, sabia sobre suas histórias, suas conquistas, até conselhos eu dava. Mas dificilmente eu me sentia confortável para contar minha história.

– Filhas? Essa é nova pra mim.

– Pois é. Tenho duas filhas, uma delas tem a sua idade. Mas eu não convivo com elas.

Messed Up SummerOnde histórias criam vida. Descubra agora