38 - DESENCONTROS

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A cara que minha mãe fez para a informação foi um misto difícil de decifrar. Ela parecia assustada, triste e irritada. Quando tirei o buquê das costas, ela o encarou por longos minutos. Parecia de fato uma eternidade. Lily me olhava com fúria. A única compreensiva, por incrível que pareça, era Agatha. Eu sabia que, mesmo não concordando com a minha decisão, ela apoiaria. Ela só queria ver aquela história resolvida.

– Seu pai? Mas como ele te achou? – minha mãe finalmente disse.

– Ele não vai mais incomodar, Stella. Já o despachamos, é só isso que precisa saber... – Lily foi incisiva.

– Lily, eu quero ouvir a minha filha, por favor. Como ele te encontrou, Lucinda? – respirei fundo, tentando processar as palavras que eu precisava dizer, mesmo depois de ouvir minha mãe ser tão formal ao falar meu nome.

– Ele disse que foi pelas redes sociais. Pesquisou por você e do seu perfil, foi para o nosso.

– Quando isso aconteceu? – os olhos da minha mãe estavam cheios de lágrimas, prontas para se despejarem por seu rosto, mas como sempre, ela permanecia impassível.

– Não tem muito tempo.

– Desde quando? – ela insistiu.

– Uma semana, mais ou menos.

– Eu já devia ter a certeza disso lá atrás, quando recebeu aquele maldito drink. – minha mãe socou a mesa de leve.

– É por isso que eu não queria que você soubesse. – Lily tentou acalmá-la – Você só soube que ele esteve aqui e já virou essa pilha de nervos.

– Pelo menos minha filha não tentou me esconder nada. Acha o que? Que sou fraca para lidar com os meus próprios problemas? – um silêncio incômodo preencheu a sala, o semblante sério de Lily vacilou, enquanto eu e Agatha observamos a situação espantadas. Eu nunca tinha visto minha mãe ser rude com alguém dessa forma, principalmente com Lily.

– Eu não vou deixar aquele homem abalar nossa amizade de novo. Você é uma das mulheres mais fortes que eu já conheci. E você sabe o que eu penso. Só não queria que ele estragasse mais uma data importante pra você. Ele já fez questão de estragar muitas – Lily retrucou, tentando manter-se firme.

– Conhece tanto nossa trajetória, e mesmo assim tentou fazer algo que Sebastian fazia o tempo todo e que me irritava tanto. Você me subestimou. Subestimou minha capacidade de lidar com isso.

– Stella, a minha intenção foi boa.

– De intenções boas, o inferno está cheio... – minha mãe falou dura e aí eu precisei intervir.

– Não é justo! – falei alto. – Lily pode ter errado na decisão de esconder algo, mas eu também escondi. Falei com ele tem algum tempo. E não foi te subestimar, foi evitar dor. Eu entendo a forma como isso chegou até você. E que não é uma história fácil, mas não crucifique a minha tia por tentar fazer o que é melhor pra você.

– Você não tem noção de como foi difícil, Lucinda... – minha mãe insistiu.

– Não tenho mesmo, e eu sei que se eu não tenho noção disso hoje, é porque você foi um escudo forte, que fez de tudo para que a ausência dele ou as consequências dos atos dele não refletissem em mim e na minha irmã. Eu sou muito grata por você, mamãe, mas está na hora de eu retribuir tudo isso. – minha mãe me olhava com cautela, agora as lágrimas já saíam com facilidade e Agatha tocava seu ombro com carinho extra. Ela estava me ouvindo, era a chance de despejar tudo. – Eu queria te proteger de mais estresse. A vida estava nos eixos. Por que eu viria com esse trem descarrilhado pra cima de você? Eu queria te contar, mas coloquei o bom senso em primeiro lugar, antes da impulsividade.

Messed Up SummerOnde histórias criam vida. Descubra agora