24. Jaded

616 58 220
                                    

Filadélfia

Era o meu quinto dia em paz.

Havia silêncio, calma, atenção. E, no final do dia, a minha única missão era ligar para Luke, que estava em Los Angeles.

Ele sempre atendia com um "Hey, ao que devo a honra?" e eu nunca poderia dizer com certeza que ele estava fazendo realmente o que dizia que estava fazendo.

No banheiro de um bar recebendo um blowjob enquanto dizia que estava tomando chá na varanda? Talvez. Eu não tinha como saber. Contudo, se estivesse mesmo fazendo essas coisas, ele sabia fingir bem: tom de voz sereno, fundo silencioso e respostas assertivas.

"Acho que está me ligando porque sente minha falta" ele disse uma vez.

"Acho que espera minha ligação todos os dias olhando ansioso para o telefone" provoquei de volta.

Ele riu e eu senti que era seguro brincar com ele à distância, parecia leve e inofensivo. Mas ele voltaria em dois dias, certo? Voltaria.

No dia seguinte, passei boa parte da tarde na piscina do hotel com Lyla e Ashton. Já estava começando a ficar cansada do sol e cogitava tirar um cochilo vespertino no meu quarto. O biquíni branco que eu vestia era uma aquisição recente e ele valorizava bem as minhas curvas. Eu cheguei a pensar no comentário que ele faria se me visse na peça.

Ashton estava contando sobre uma viagem à Xangai enquanto estávamos os três deitados em espreguiçadeiras paralelas, mas interrompeu o assunto ao se levantar para ir até o bar do hotel.

Então, liguei para Anya a fim de saber o que estava acontecendo em casa.

Ela atendeu prontamente e falamos por alguns minutos como se nossos pais fossem nossos filhos. Eu sempre admirava a postura adulta de Anya com a mamãe. Enquanto ela crescia, eu podia jurar que seria intensa como Trish Tyler, mas acabou que a maçã caiu longe da árvore.

E eu, bem, eu não tinha como ser intrinsecamente parecida com a mamãe. Era biologicamente impossível.

Meus pais nunca esconderam que eu era filha de outra mulher. E o fato de eu não ter saído de Trish não me incomodou em momento algum na vida. Acho que muito pelo contrário. Ela escolheu me acolher mesmo eu tendo sido fruto de um namoro relâmpago do meu pai numa das conturbadas vezes que eles terminaram e voltaram.

Eu fui escolhida.

Minha mãe biológica morreu no parto e meu pai voltou para Trish quando ela se prontificou a cuidar de mim. Ela me quis, o que pode ser mais forte do que isso?

Essa gratidão se transformou em uma devoção à minha mãe. Eu a ouvia, obedecia e fazia isso com prazer. Meu pai era meu sangue, mas ela era o meu coração.

Eu não tinha seus cabelos loiros ou sua paciência em forma de afeto, mas fomos só nós duas em casa durante meus três primeiros anos de vida, antes de Anya nascer. Meu pai estava sempre fora e por muito tempo eu pensava que ele não ia pra casa por conta dos traços desconhecidos no meu rosto. Aqueles que pertenciam à minha mãe biológica. Um romance curto, intenso e que terminou em alegria e choro para ele.

Eu era a lembrança dela. Carolyn Simon, uma modelo húngara que ele conheceu em Budapeste.

Segundo teorias, Jaded é para mim. Meu pai me chamou de "baby blue" porque eu chorava demais quando bebê, quase como se sentisse falta de algo, mas tudo que eu conhecia de mãe era Trish. O que me faltava era pai e por isso sempre fui insensível com ele.

É dito que ele também tentou disfarçar que a música era sobre mim, afinal, nunca quis manter essa história viva. De qualquer forma, secretamente, eu sempre me senti muito próxima da canção. Ela era parte de mim, da minha origem e não existíamos separadas.

Sex - Luke HemmingsOnde histórias criam vida. Descubra agora