28. The Inevitable White

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Eu devia ter sido mais esperta. Mais cuidadosa, mais paranóica. Eu devia ter largado tudo no início ou sequer ter aceitado aquele emprego.

Não tentei me enganar sobre o assunto quando finalmente me levantei do chão. Àquela altura, meu corpo estava anestesiado e meus movimentos pareciam lentos diante da minha vista preguiçosa. Desci as escadas no automático e sentei na mesa da cozinha, onde Anya mexia no celular.

— Você apanhou enquanto dormia? — ela me olhou por um segundo e voltou os olhos para a tela do aparelho, onde estava jogando.

Eu dei o dedo do meio para ela e mandei ela se foder.

Anya riu pelo canto da boca.

— Quando eu crescer quero ser igualzinha à você — ironizou.

— Infelizmente para ser igual a mim você precisa roubar meu posto de maior otária do mundo, e dele eu não abro mão — soltei com a voz arrastada.

Ela me olhou por cima do celular e eu me perguntei mentalmente se ela estava achando que eu estava de ressaca apenas. Pois definitivamente não era aquilo.

— É — balançou a cabeça concordando — Você tem razão.

Então, Anya falou sobre a insatisfação da nossa mãe sobre o meu novo emprego. Eu não estava afim de entrar naquela discussão, já era grandinha o suficiente para decidir meus próprios rumos. No entanto, se eu devia algo a alguém no mundo, essa pessoa era a minha mãe.

Me arrastei de volta para o quarto e me joguei na cama ao ouvir a chamada se iniciar. Sequer tive tempo de falar um "oi" antes dela começar o sermão.

O lado bom foi que aquilo me distraiu da sensação nervosa na boca do estômago que me acompanhava desde o momento em que acordei.

— Eu já te disse um milhão de vezes que você não precisa vender o seu corpo por dinheiro! Eu tenho pra te dar, seu pai tem mais ainda! — minha mãe falou áspera.

Vender o meu corpo? Eu não estava vendendo o meu corpo!

— Então quando você contrata modelos você está comprando o corpo delas? É isso que você faz? — revidei sem pensar.

— Maya, isso não é trabalho pra você! — Ela levantou a voz. — Pega a porcaria do seu diploma e vai arrumar um emprego direito! Eu não te criei pra isso!

Ela estava sendo irracional, como de costume.

— Escuta o que você tá falando, mãe! Isso não faz sentido — tentei fazer ela recobrar a sanidade.

— Maya, EU DISSE QUE NÃO! Eu nunca te pedi nada em retribuição aos anos que te dediquei! Eu não tinha a obrigação de te aceitar quando o seu pai te trouxe! Você está sendo ingrata!

Como é que é?

Um silêncio se instaurou na ligação.

Eu só escutava ela respirando pesadamente do outro lado, provavelmente com o rosto fervendo de raiva.

Levantei as sobrancelhas e depois pisquei repetidamente, como se estivesse acordando para uma realidade paralela. Ela estava realmente jogando na minha cara o fato de ter me criado? Como se eu tivesse pedido por isso.

Minha mãe não era perfeita, assim como a visão dela sobre as coisas do mundo não era. Eu tinha uma seleção de incontáveis lembranças dela me falando coisas das quais não se orgulhava. Também nunca pedíamos desculpas depois de nossas brigas, mas daquela vez eu achava que merecia uma.

Não gostava quando ela falava como se eu não fosse dela. Porque eu era. Aquela era a minha mãe e eu era a sua filha. Não tinha discussão, ou era o que eu achava...

Sex - Luke HemmingsOnde histórias criam vida. Descubra agora