- Prologue

986 44 21
                                    

     Chovia. Os pingos frios e melancólicos escorriam pelo rosto da garota que pedalava em direção ao colégio naquela manhã. A noite mal dormida estava marcada em seu rosto, formando olheiras e deixando seus olhos irritados. Não sabia ao certo o que não a deixava dormir na noite passada, a briga dos pais, o pranto de seu irmão mais novo ou a prova de biologia que enfrentaria dali alguns minutos. Apenas sabia que o corpo dolorido não aguentaria por muito tempo e que em algum momento sua vida explodiria. Era assim que Michelle se via; uma bomba relógio.

  Ao chegar no corredor movimentado de sua escola, dirigiu-se até o seu armário deparando com Parker e seu melhor amigo com uma construção de LEGO em mãos, ambos pareciam entusiasmados demais para notar sua presença ali, pegando os livros para dar uma revisada na matéria da prova. Só quando bateu a porta do armário enferrujado que recebeu mais um dos sorrisos doces de Peter, seus lábios rosados se moveram silenciosamente lhe desejando um bom dia, sorriu e concordou com a cabeça gesticulando um oi também silencioso. E assim seguiu seu caminho até a sala de aula, onde se sentou no fundo da sala para tentar estudar um pouco.

    A "amizade" dos dois funcionava dessa maneira, ele tentava qualquer proximidade enquanto a garota se afastava e se escondia em seu mundo frio e infeliz. Peter parecia um ótimo amigo, um pouco insistente e misterioso talvez, mas era possível sentir a alegria emana do garoto.

- Você viu isso? Ela parece que não dorme a dias. - Ned falou ainda no corredor, Peter revirou os olhos pois não gostava de fofocas, principalmente quando se tratava de Michelle. Sabia que a garota passava por problemas familiares e que os seus colegas aproveitavam dessas fraquezas para debochar dela. - Ouvi a Rachel dizer que o pai dela bateu na mãe de novo.

- Ned não é legal ficar comentando sobre o problemas dos outros assim, sabe que eu não gosto desse tipo de coisa. E outra, não é da nossa conta o que acontece na casa dela - Realmente não gostava desse tipo de conversa, por mais que sentisse necessidade de ajudar a colega, ela sempre se afastava. Foi assim desde o momento em que se conheceram, ele se aproximava, tentava algum diálogo e ela por sua vez, ou ficava em silêncio ou se afastava completamente de si. Não entendia o que estava errado, lógico ouvia as conversas dos colegas de classe, porém era inocente demais para acreditar nas palavras dos outros.

- Você é o Homem-aranha, cara! - O garoto sussurrou. - Você poderia fazer alguma coisa.

- Ned, tudo isso não passa de boatos. Eu não posso simplesmente entrar na casa dela e sair socando o pai dela! - Sussurra de volta, nervoso.

- Boatos?! Você viu com seus próprios olhos! Ela está péssima!

- Ned, vai ser pior se o Homem-aranha fizer alguma coisa! Exposição na mídia, sensacionalismo... Ela não precisa passar por uma exposição dessas. - Essa a maior preocupação, notava o esforço da garota em se manter invisível, também era de seu conhecimento as crises da garota, vez ou outra ela tinha crises excessivas de choro e então ia parar na enfermaria ou na sala da conselheira, onde passava o resto do dia letivo.

- Peter, você tem que fazer alguma coisa.

- O que eu posso fazer? Isso não está na lista de responsabilidades do Homem-aranha. O máximo que posso fazer é conversar com ela, entender o que está acontecendo e no máximo tentar ajudar ela como Peter Parker.

- Eu não estou acreditando no que estou ouvindo.

- Entenda, eu posso fazer alguma coisa se pegar o pai dela em flagrante, agora imagina só tudo isso não passa de boatos e o Homem Aranha dá uma surra em um cidadão inocente. O Sr. Stark me mataria.

- Sua reputação é melhor do que a vida da garota? - Ned cruza os braços fazendo Peter suspirou cansado, seu amigo podia ser bem lerdo de vez em quando.

- Ned, eu não posso fazer isso. Não estou negando ajuda pra Michelle, só não posso envolver o Homem-aranha nisso. - Quando se deram conta estavam em frente a sala de aula. - No final da aula eu converso com ela. Prometo.

    A prova de biologia não estava tão difícil como Michelle imaginava e se desse sorte, tiraria a maior nota da turma. O professor prometeu passar as notas ao fim do dia. A ansiedade consumia seu corpo, sabia que se tirasse uma nota menor que 10 seu pai a colocaria de castigo. A pressão de ser a filha perfeita acabava com ela, odiava seu pai e suas exigências, não que sua mãe fosse diferente, era tão exigente quanto. Mas diferente do líder da família, era meiga e gentil, a amava acima de tudo.

   Ao final do dia letivo, conforme o prometido, o Sr. Meirelles, professor de Biologia, passou na sala informando as notas, como era de se esperar boa parte da turma tirou notas vermelhas, ninguém se importava realmente com as notas que tiravam. Porém com Michelle era diferente, ela precisava tirar um A +, pelo seu bem estar quando chegasse em casa, pelo bem estar da sua mãe e seu irmão. Hoje teria mais um jogo dos Yankees e o humor do seu pai dependia da vitória deles, caso tivessem o azar de perder aquela partida, sua vida seria um verdadeiro inferno pelo resto da semana. Não podia ter tanto azar assim.

- Queria parabenizar o Sr. Parker mais uma vez por ter tirado a melhor nota da turma. - O senhor de cabelos grisalhos disse com um sorriso no rosto, fazendo com que os outros colegas de classe fizessem comentários obscenos e infantis sobre o garoto que não dava a mínima, apenas segurava a folha de papel em mãos com um sorriso no rosto enquanto comemorava com seu melhor amigo. Michelle almejava ser que nem Peter, almejava não dar importância para a opinião alheia. - Também queria parabenizar a Srta. Jones pela segunda maior nota. - O mais velho se aproximou dela com o sorriso no rosto, porém ao pegar a folha não pôde deixar de notar o 9.5 com algumas frases a parabenizando. De fato não era uma nota ruim, porém seria um grande problema chegar sem um 10 em casa. Suas mãos soavam frio, e os olhos se encheram de lágrimas. Porque aquela nota não era o suficiente? Porque tudo, absolutamente tudo em sua vida parecia ser um drama sem fim?

   Ao notar o não contentamento da colega de sala, Peter se aproxima de Michelle. De fato estava preocupado com sua colega, não queria acreditar que uma garota aparentemente tão doce quanto ela realmente passava pelos problemas que todos diziam. Sabia sobre as provocações que a garota sofria ao longo dos dias letivos e sabia que não seria uma boa ideia simplesmente se aproximar assim, no meio da aula, onde a atenção de todos os outros alunos estavam voltadas aos dois. Então levantou para jogar alguns papéis de rascunho na lixeira. Bom, não eram exatamente papéis de rascunhos, não se passavam de folhas em branco. Precisava de uma desculpa plausível para se levantar. Ao caminhar até a lixeira, um dos rapazes colocou o pé na frente de Parker fazendo-o tropeçar e cair de cara no chão. Mesmo com todo o constrangimento continuou seu plano, levantou do piso de madeira, limpou a poeira e depois seguiu até o lixo. Na volta, retirou um papel dobrado do bolso e colocou sob a mesa de Michelle, com um sorriso meigo nos lábios.

This is Love • SpideychelleOnde histórias criam vida. Descubra agora