- Chapitre vingt-et-un

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Era a minha quarta sessão de terapia. Havia tentado suicídio assim que saí do quarto do hospital. May achou melhor que eu fizesse acompanhamento com um profissional, realmente estava certa. Era bom ter com quem conversar sobre absolutamente tudo. Desde os meus pesadelos, aos meus desentendimentos infantis com o Peter. As medicações me ajudaram bastante, mesmo revirando meu estômago toda vez que sentia cheiro de comida, segundo a minha terapeuta, era normal que eu sentisse náuseas nos primeiros meses. Não tinha grandes emoções, o remédio me privava de sentir as coisas com suas devidas intensidades, era estranho. Meu pai estava desaparecido, meu namorado estava do outro lado do planeta e minha tia estava surtando.
A pior parte de tudo isso era não conseguir dormir direito. Eu sempre fui muito sonolenta, talvez por causa da depressão, não dormir direito estava me deixando péssima. Estava perdendo peso rapidamente e meu humor estava sempre negativo. Havia desistido de usar minhas roupas novas, optando pelas roupas deixadas para trás de Peter, além de me trazer memórias aconchegantes, me ajudavam a esconder o corpo três vezes mais magro que antes.

- MJ, o que já conversamos sobre cachorro em cima da cama? - May entrou no meu quarto, avistando o enorme Golden Retriever deitado ao meu lado no colchão. Simba havia sido um presente de Tony, um cão de apoio emocional. Após a mudança, me senti muito abalada e sozinha. Já que não trabalhava mais na cafeteria, nem tinha Peter para me encher o saco com suas gracinhas, passava a maior parte do tempo chorando. Simba me trouxe alegria e conforto, era como se ele me entendesse. Sempre estava ao meu lado, não falava, logo, não me julgava. Todas as vezes que tinha alguma crise de ansiedade o enorme cão dourado se deitava em meu colo, implorando por atenção, então a angústia se transformava em crises de risos. Era bom me sentir assim.

- Simba, pro chão. - Digo e o cachorro me obedece imediatamente, deitando-se sobre o tapete.

- Querida, o jantar servido em alguns minutos. - Ela sorri doce, e fecha a porta do meu quarto assim que sai, escuto seus passos se afastarem e chamo Simba para cima da cama novamente.

- Ela não precisa ficar sabendo, precisa? - Pergunto ao animal, acariciando suas orelhas peludas. Acabo levando uma lambida no rosto. - Eu também amo você, grandão.

May temia que uma hora meu pai acabasse nos encontrando e com isso acabou aceitando o convite para irmos morar temporariamente com Happy. E bem, o cãozinho que havia comprado para Peter, simplesmente deixei de lado, Happy só aceitava o Simba, por ele ser meu terapeuta de quatro patas, sem contar que era um cachorro extremamente adestrado. Meu novo quarto era bizarro de tão grande. Tinha um banheiro apenas meu, também não precisava me preocupar se teria água quente para os meus banhos. Me sentia tola por pensar assim, afinal, meu irmão estava morto.
Como eu havia dito, os remédios me impediam de viver tudo em sua devida intensidade. Sentia a morte da minha mãe e do meu irmão, mas não era uma dor insuportável, doía sim. Sabia que não era amada de verdade, então isso apenas me protegeu de não sentir tanto.

- Vamos Simba, eu preciso comer alguma coisa, ou então vou desmaiar. - Me levantei da cama com preguiça e fui lavar as mãos no meu banheiro, tudo isso sendo constante observada pela minha sombra de quatro patas. Fui em passos lentos até a sala de jantar, ouvindo alguns burburinhos no local.

- É, ela substituiu você. Mesmo o Simba soltando pelo por todo o meu apartamento, ainda prefiro ele. Pelo menos não sou obrigado a ouvir as tagarelices infinitas. - É Happy quem fala, e pela gargalhada posso deduzir que era Peter através do notebook. Não tínhamos permissão de conversar um com o outro, parecia bizarro, mas minha terapeuta indicou que déssemos uma diminuída no contato. Então desde a mudança, essa era a primeira vez que nós falávamos.

- Isso foi cruel, Happy. - Ele ainda ri revirando os olhos, Simba dá um latido ao estranhar a voz que saia pelo auto falante. Sim, meu cachorro me entregaria se eu falasse com meu namorado às escondidas.

This is Love • SpideychelleOnde histórias criam vida. Descubra agora