- Flashback

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  Eu sabia exatamente o que aqueles olhinhos brilhando, significavam. Faz semanas que o mais jovem estava assim, alheio, distraído. Não costumava ser assim, calmo. Sempre tinha um experimento maluco para fazer e provar suas teorias. Também havia notado que estava matando aula na faculdade, um choque e tanto pra mim. O curso de física havia sido o motivo de uma briga terrível dentro de casa.

— Uma moeda por seus pensamentos. — Entrei  em seu quarto, sentando-me ao seu lado. Ele sorri bobo.

— Não é nada, May. — Os olhos se reviram e as bochechas ganham um forte tom de vermelho.

— Te conheço o suficiente para saber que tem alguma coisa. — Observo o garoto, analisando sua linguagem corporal. Meus olhos pararam no laço de cabelo violeta preso em seu pulso. —Qual o nome dela?

— Mary.. — Diz tocando o elástico em seu pulso, puxando-o com cuidado. — Mary Cooper. Não conte para ninguém, não acho que seja o momento.

— Tudo bem, mas me diga. Como conheceu ela? — Pergunto sorrindo, alisando cuidadosamente os cabelos castanhos.

— Na biblioteca do campus. May, ela parece um anjo. — O sorriso apaixonado escapa de seus lábios. — Estamos juntos já faz algumas semanas. Ela é muito importante pra mim.

— Vejo isso em seus olhos, querido. — Os cabelos  rebeldes lhe cobriam o rosto e eu os retirei com delicadeza. —Quando vou poder conhecê-la?

— Creio que no recesso de primavera, combinamos de passar juntos. Os pais dela se separaram recentemente e não queria deixá-la sozinha no Campus, então convidei ela para passar conosco. Acha que não vai dar problema, acha? — As sobrancelhas arquearam preocupadas e eu sorrio me aproximando para beijar sua bochecha.

— Nenhum, vou adorar conhecê-la.

— Vai ser bom levar um pouco de felicidade pra ela. — Diz meio bobo.

  Naquele recesso conhecer Mary foi a melhor coisa que aconteceu, ver o olhar apaixonado do jovem casal fez meu coração aquecer, eles eram simplesmente feitos um para o outro. Mary me ajudou a limpar a mesa e lavar a louça. Mantemos uma conversa animada, onde a garota me contou sobre seus pais, sobre como se sentia mal com a separação de ambos, jamais imaginei algo tão doloroso quanto aquilo.

  Foram necessários exatos quatro meses para meu irmão aparecer com uma certidão de casamento em mãos. Meus pais ficaram horrorizados com a surpresa. Richard não era tão jovem, tinha idade suficiente para tomar suas próprias decisões. Porém meus pais não viam isso, achavam que Mary estava se aproveitando da inocência e bondade do meu irmão. O que era uma grande mentira. Os recém casados ainda não tinham onde morar e Rich pediu para que meus pais permitissem a casa como um lar temporário. Mary havia conseguido um emprego como bibliotecária e ele estava entregando jornais, em pouco tempo prometeu arranjar um lar para que pudesse viver com sua esposa. Não esperávamos que nosso pai o expulsasse, muito menos o retirasse do testamento.

Perdemos completamente o contato, eu havia o perdido. Meu irmão mais novo simplesmente havia sumido. Foram três anos de dor, sem se ter qualquer tipo de notícia ou contato. Não tive ele presente no meu jantar de noiva, nem no meu casamento ou nos dois abortos que sofri. Sabíamos que ele havia se tornado um grande físico, com diversos prêmios e projetos. Até mesmo alguns projetos com as Indústrias Stark, meus pais pareceram se arrepender de tê-los expulsado daquela maneira tão cruel.

  Foi no dia 04 de julho de 2001, em meio aos preparativos do almoço do Dia da Independência a campainha tocou, estávamos esperando os pais de Ben, já que sempre passávamos essas datas juntos. Meu casamento não era algo dos sonhos, mas me ajudou a sair de casa, não conseguia perdoar os meus  pais. Me prontifiquei em abrir a porta da frente, batendo a farinha do avental que eu usava. Foram os braços fortes que me receberam em um abraço, Richard havia voltado. Meu coração se aqueceu, nossos olhos se encheram de lágrimas. Só Deus sabia quanto eu havia esperado por aquele momento. Mary se mantinha atrás dele e quando nos afastamos, meus olhos caíram diretamente na barriga gigante e redonda que acariciava.

This is Love • SpideychelleOnde histórias criam vida. Descubra agora