- Chapitre quarante-deux - Fin.

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   Ela se lembrava exatamente da primeira vez que tentou tirar sua própria vida. Era uma garota jovem e inocente, havia completado seus treze anos há pouquíssimos dias. Seu pai havia acabado de sair de seu quarto. Já tinham alguns meses que aquele comportamento brutal havia se tornado rotina, o corpo dolorido era sempre deixado sobre o piso. Estava suja, cansada, humilhada e dolorida. Não entendia a verdadeira razão daquilo estar acontecendo, era apenas uma criança, nenhuma criança merece viver nesse mundo sujo em meio às trevas. Pelo menos era isso que imaginava.
Com muita dor e esforços se levantou do piso gelado, vestindo as roupas jogadas no chão, precisava de ajuda e sua mãe era a pessoa ideal para lhe fornecer esse suporte. Bom, não foi bem assim que aconteceu. A mulher estava sozinha em meio a fumaça de seu cigarro, o cheiro forte e tóxico pairava no ar a fazendo tossir quando entrasse no quarto. - Mamãe, precisamos conversar. O papai me machucou. - A voz infantil é rouca pelas lágrimas de tristeza escorrem em seu rosto angelical, uma cena triste, dolorosa de se ver. Angélica leva o cigarro até a boca, absorvendo uma boa quantidade de fumaça, soprando-a no ar após uns segundos. Caleb, seu irmão mais novo, brincava com as cinzas no cinzeiro na mesa de cabeceira. Angela estava beirando os trinta anos, teve uma filha aos dezesseis, a qual não sabia e não tentava lidar.

Michelle nasceu no começo de sua adolescência, não se lembrava de muita coisa daquela noite. Apenas de William lhe oferecer um copo de bebida e terminarem no banheiro daquela boate imunda. Ela não se importou em saber que ele já tinha bem mais de vinte e cinco anos, também não se importou quando ele pediu para encontrá-la mais vezes. O choque veio no teste de gravidez, Angela não queria ser mãe. Era algo que considerava banal, diferente de sua irmã mais velha que priorizava a família, Angela desejava apenas uma boa quantia de dinheiro no bolso, um maço de cigarros e uma viagem para Vegas. Não contou para os pais logo de primeira, tomou uma grande quantidade de remédios abortivos e quando estava prestes a ter uma overdose, foi levada ao hospital.
Um milagre, o feto havia sobrevivido. Não sabia como e também não queria aceitar. Seus pais nem sabiam que era sexualmente ativa e quando os pais souberam que o progenitor daquela criança era um homem formado e de vida feita, forçaram um casamento. Talvez fosse pelo medo, pela pressão de ser exposto e perder sua carreira como juiz, William aceitou o casamento.

Michelle era aquela criança quietinha que todos os adultos adoravam, não comia muito, não chorava muito e não dava nenhum trabalho. Passava horas e horas desenhando e colorindo em seu caderno. Angela não dava a mínima para a filha, já a havia abandonado em uma praça para que ela sumisse completamente de sua vida, porém Rose sua irmã, a encontrou aos prantos, implorando por ajuda e a levou para casa. Rose era quem dava de tudo pela sobrinha, aulas de Ballet, escolinha, roupas e brinquedos. Mas também fugiu das responsabilidades como as visitas ao pediatra, as conversas e todas as outras coisas que os pais fazem. Michelle cresceu assim, sendo empurrada entre os familiares, não se sentia amada e acolhida. Aos oito anos de idade, após muito sacrifício, William finalmente se aproximou da garota, talvez não com as melhores intenções, mas algo extremamente significativo para a garotinha.

- Mamãe, por favor. Está doendo muito. - O choro apenas aumenta, trazendo certo incômodo para a mulher. Michelle tapava a frente da calça, tentando esconder a enorme mancha de sangue que manchava o tecido.

- Você virou mulher, garota. - Revirou os olhos e puxou a filha pelos braços levando-a até o banheiro. O choque veio lento e violento ao ver os hematomas nas pernas da garota ao baixar suas calças. - Quantos anos você tem?

- Treze, por favor... Pede para ele parar, isso dói muito. - Michelle continuava aos prantos. Talvez pelo sentimento de traição, ou pelo stress que passava diariamente, Angela deu um tapa estralado no rosto da filha. - Ele te fez mulher! É pra isso que as mulheres servem. Não importa quanto doa, ou quão bruto ele seja. Você vai aguentar calada. Está escutando? - Michelle concorda com a cabeça, assustada. - Você vai usar isso para não sujar as roupas. E saiba que se sujar suas roupas com menstruação, vai ter que lavar. Eu não toco na menstruação de outra mulher. Nenhum homem precisa saber disso, é nojento e sujo. E isso daqui você vai tomar todos os dias, você escolhe um horário. Não é porque eu limpei a sua bunda cagada que eu vou limpar dos seus filhos. Evite esse tipo de coisa.

This is Love • SpideychelleOnde histórias criam vida. Descubra agora