Capítulo 08

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Depois de deixar os dois em casa, Elias chegou até mim e disse que eu poderia esperar na cozinha junto a Rosário até que ele precisasse de mim outra vez, então fui até lá, e vendo a mulher passando aperto tendo que lidar com um monte de coisa ao mesmo tempo, como panelas no fogão, vasilhas sujas e a palhaçada que a tal da Yoora fazia chamando ela de segundo em segundo, resolvi ajudar um pouco limpando e guardando as vasilhas que estavam sujas na pia, e ela parecia extremamente agradecida, já que não deixava de arregalar os olhos pra mim.

Nesse meio tempo, acabei ficando encucado com algo que talvez tenha me mostrando o quão ignorante eu sou com determinados assuntos. Eu não fazia ideia de como aquele menino pôde dizer que eu parecia o personagem preferido dele, o Pantera Negra, sendo que ele é deficiente auditivo.

Entrei em uma espécie de conflito interno tentado descobrir na minha mente se existiam filmes com legendas diferentes para pessoas com necessidades especiais, se o caso dele for esse, ou se ele aprendeu a ler na língua da mãe dele ou do pai, mas fiquei confuso outra vez, porque para ele ter aprendido a ler, ele teria que ouvir o som das palavras para formar frases, mas ele não podia ouvir som algum, ou podia? Talvez existissem revistas em quadrinhos especiais para ele e outras pessoas com esse tipo de impedimento e ele acabou se baseando nas revistas e não no filme para fazer tal comparação.

Por fim, acabei ficando com dor de cabeça atoa, porque apesar das minhas dúvidas, não cheguei a lugar nenhum com minha conclusão. Preferi deixar para perguntar isso a minha mãe quando chegar em casa, já que ela é formada em letras, e mesmo não exercendo a profissão há anos, ela ainda deve saber sobre esse tipo de ensino.

― Terminei. ― Eu me virei para Rosário depois de secar minhas mãos com um pano de prato.

― Muito obrigado meu filho, você não sabe como você me ajudou... ― Ela sorri em agradecimento.

― Aqui é sempre assim?

― Se você estiver falando dessa correria que estamos hoje, não, já que o Pastor Elias havia marcado essa reunião há alguns dias, mas se por um acaso você está falando dela, sim, todos os dias. ― Ela se vira para mim.

― Nossa. ― Digo.

― Pois é. Aqui todo mundo é tratado com grosseria, até mesmo o Asafe, coitado. ― Ela se vira para frente.

― Eu conversei um pouco com ele mais cedo, parece ser gente boa... ― Eu tentava sondar o terreno, já que ele poderia não ser o que eu pensava.

― Eu não converso muito com ele, só o necessário por ordens do Pastor, mas das vezes que ele me dirigiu a palavra, seja para perguntar alguma coisa ou para me pedir algo, foi com extrema educação. Nunca ouvi uma palavra ruim saindo da boca dele, pelo menos não em português. ― Ela ri.

― Eu achei que ia ficar com dor de cabeça, porque além de conversarem em outra língua, eles também conversam com o mais novo por sinais...

― Sim... ― Ela diz. ― Pelo que eu sei sobre essa família, eles deram uma educação muito rígida para os meninos. Parece que de onde vieram é assim, são obrigados a serem bons em tudo.

― Eu percebi.

― Você pode me passar o processador? ― Ela diz de costas mexendo na panela.

― Que? ― Eu não sabia o que era.

― E esse negócio aí perto do seu braço... ― Ela diz ao se virar para mim. ― Tenho que triturar alguns legumes para o molho...

― Tudo bem. ― Pego o eletrodoméstico ao meu lado e o ligo na tomada perto dela. ― Não sei para que esse monte de coisa.

Conflitos InterpessoaisOnde histórias criam vida. Descubra agora