Larissa e eu estávamos sentados no ponto de ônibus. Ela estava indo a faculdade resolver algumas coisas e eu prestes a ir para o serviço, e enquanto isso conversamos sobre algumas coisas pendentes.
― Como está sua mãe? ― Pergunto, considerando que nessa altura do campeonato elas já saibam da morte do Beto.
― Jurando vingança contra quem o matou. ― Ela olha pra mim. ― Quero ver se ela irá criar coragem para enfrentar um batalhão de policiais sozinha.
― Sim.
― Ela parece que se esqueceu que tudo o que aconteceu é parcialmente culpa dele. O Beto deixou há muito tempo de ser alguém de comportamentos duvidosos para se tornar um ser humano terrível. Ele teve o que mereceu, e por isso, pouco me importo com o que aconteceu com ele. ― Ela me encara.
― Ele deixou o dinheiro subir a cabeça há alguns meses, e desde então, foi só ladeira abaixo.
― Leo, eu ouvi boatos de que ele estuprou alguém... ― Ela me encara, assustada.
― Como você ficou sabendo disso? ― Pergunto, tentando me concertar no banco.
― Uma das meninas do salão lá em cima é irmã de um dos rapazes que trabalha no morro. Ele comentou alguma coisa com ela sobre isso e disse que iria sair de lá.
― E quando você ficou sabendo disso? ― Pergunto.
― Ontem... ― Ela me olha. ― Por quê? Você sabe quem foi?
― Não. ― Minto. ― Só não esperava essa atitude do Beto. Trabalhei com ele durante anos...
― Eu sei. — Ela se cala por alguns segundos. ― Você se arrepende? ― Larissa parecia tomar cuidado com as palavras que me dizia.
― Me arrepender do que?
― Você sabe... ― Ela me encara.
― De ter trabalhado para ele? — Achei aquela pergunta estranha e fiz uma pergunta por cima para tomar coragem.
― Sim... ― Ela estreita o olhar.
― Não posso me arrepender disso, porque foi esse dinheiro que salvou a vida da minha família várias vezes. Me arrependo de coisas que eu fiz, não da visão geral do que aconteceu lá em cima.
― Leo... ― Ela olha para frente.
― Oi...
― Eu sei. ― Ela volta a olhar pra mim.
― Sabe do que?
― Do Beto. ― Ela não tirava os olhos dos meus.
― O que tem o Beto? ― Meu coração começa a acelerar.
― Eu sei sobre você e ele.
― Larissa... ― Engulo seco. ― Não é bem assim...
― Você não precisa se explicar. Eu não estou com raiva de você por causa disso.
― Larissa... ― Olho para ela. ― Como você ficou sabendo? Quando você ficou sabendo?
― Há muito tempo. ― Ela sorri. ― Eu sei há quase dois anos.
― O que? E por que só me confrontou com isso agora? ― Minha atenção estava toda nela.
― Eu não estou te confrontando com nada Leo. Só achei que não era o meu lugar. Você nunca se importou com quem eu transasse ou deixasse de transar, então eu apenas fiz o mesmo.
― Larissa... ― Olho para baixo.
― Eu não estou chateada, é sério. Eu conheço você Leo, sei que você não me traiu com ele.
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Conflitos Interpessoais
Roman d'amourLeonardo teve tudo o que queria sendo braço direito de quem comandava a favela, mas a doença de sua mãe o trouxe de volta a realidade, lhe obrigando a iniciar uma nova vida. O racismo se torna constante logo nos primeiros dias, e lidar com essa ques...