Eu senti um frio repentino. Parecia que todas as janelas e portas daquela casa estivessem abertas, e lá fora, ventava bastante.
Meu corpo tremia um pouco, então tentei puxar um pouco mais do edredom para cima de mim, e ainda de olhos fechados, me virei de barriga para baixo, posição que não era muito boa para se dormir, mas eu gostava. Fiquei assim por alguns segundos, até que me mudei outra vez, ficando de lado.
Tateio o colchão a procura dele, mas ele deve ter ido beber água ou ir ao banheiro, coisa que descobri que ele fazia bastante nesses dias que fiquei com ele. Asafe acordava sempre de madrugada para ir ao banheiro ou beber água, e no começo eu achei que ele perdia boa parte do sono com isso, mas no quarto dia eu achei engraçado.
Resolvo virar para o outro lado e me encolher um pouco, a espera dele, que dormiu abraçado comigo. Foi assim durante todos esses dias. Foi como uma espécie de despedida que havíamos criado. Todas as noites nos deitávamos sem roupa alguma e nos abraçávamos. Algumas delas transamos e outras apenas ficamos imóveis, sentindo nossos corpos trocarem calor pelos poros.
Pela claridade que entrava através da fresta da janela, julguei ser por volta das cinco da manhã, então tentei esperar que Asafe voltasse da cozinha para que ele pudesse me abraçar de novo, e quando dei por mim, acabei adormecendo antes de sua chegada.
Quando acordei, a cama estava vazia. O lado que Asafe dormia estava frio, então presumi que ele tinha se levantado há algum tempo. Me espreguiço um pouco e abro os meus olhos, me lembrando da noite maravilhosa que havíamos tido.
Olho ao redor e estranho o quarto. Eu havia ajudado Asafe a arrumar suas malas na noite anterior, mas deixamos as portas do guarda-roupa abertas porque começamos a nos beijar e acabamos indo para a cama, e depois que tomamos banho, não me lembro de ter fechado.
Me coloco sentado e ao longe fixo meu olhar na porta do quarto, onde havia um papel branco pregado com fita amarela. Meu coração começa a acelerar, então rapidamente corro para lá, mas acabo enrolando meus pés no lençol e indo com tudo para o chão, batendo minha testa no tapete. Fico ali por alguns segundos, me recuperando da tontura, e então me levanto, indo lentamente até a porta.
Quando estou de cara a cara com ela, vejo um bilhete escrito Desculpa pregado ali, e quando o abro, havia um pedido para que eu olhasse meu celular.
Lentamente caminho até o móvel ao lado da cama, e com as mãos tremendo, toco a tela do meu celular, e quando ele se acende, vejo algumas mensagens de Asafe ali. Respiro muito fundo naquele momento, sem saber o que fazer e como me comportar, e de impulso pego o telefone e desbloqueio a tela, abrindo diretamente na primeira mensagem. Era um áudio de dez segundos.
― Oi... ― Sua voz estava triste. ― Me desculpe pelo que eu fiz Leonardo, mas eu não conseguiria me despedir de você sem mudar de ideia e ficar ao seu lado.
Me sento no colchão e fecho os olhos, apertando aquele aparelho em minhas mãos e desejando que aquilo não estivesse acontecendo.
― Quando eu acordei e te vi dormindo, tudo o que eu mais quis foi ficar ao seu lado. Eu sabia que se você acordasse naquele momento, eu iria desistir de tudo e ficar aqui com você, e eu não podia... ― O outro áudio se inicia. ― Eu menti sobre o horário da minha partida. O voo estava marcado para oito da manhã, não três da tarde como eu havia lhe dito, lhe fazendo prometer que me levaria. ― Ele começa a chorar. ― Estou me sentindo um monstro nesse momento, mas eu não seria capaz de olhar para você antes de entrar naquele avião. Eu não conseguiria partir se você estivesse ali comigo, e eu sei que te fiz prometer me levar, me acompanhar, mas achei que seria melhor assim.
O áudio termina, e eu não consegui chorar. Acho que minha garganta estava tão anestesiada por causa desses últimos dias que eu não derramei uma lágrima sequer, e isso era horrível. Tudo o que eu conseguia sentir era meu peito apertado, como se alguém tivesse o esmagado com toda a força, e minha agonia se apossou de mim.
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Conflitos Interpessoais
RomanceLeonardo teve tudo o que queria sendo braço direito de quem comandava a favela, mas a doença de sua mãe o trouxe de volta a realidade, lhe obrigando a iniciar uma nova vida. O racismo se torna constante logo nos primeiros dias, e lidar com essa ques...