Um Ano Depois
Um ano havia se passado desde o nosso último encontro, e a paz só se apossava de mim quando eu conseguia colocar meus olhos nele.
Sua tristeza era percetível, assim como a minha, mas infelizmente eu não podia me aproximar, não agora quando tudo ainda era recente, então o que me restava era observar de longe, ver o que sua nova vida lhe entregava. Nova escola, novos amigos e um ano a mais de idade, e mesmo aparentando conforto por estar em um lugar capaz de lhe compreender, eu conseguia enxergar a mágoa e a tristeza nos olhos de Gael, que parecia sempre procurar por mim na saída de sua escola. Acho que passamos tanto tempo fazendo isso que ele ainda não se acostumou com o fato de que eu não estava mais ali para o buscar, para lhe dar um abraço e dizer que tudo iria ficar bem um dia, que teríamos que esperar alguns anos para que pudéssemos estar longe dela, só que nossas promessas foram quebradas, porque assim ele derramou sua primeira lágrima junto a mim, ela desceu de um carro preto.
Gael relutou, ele vinha fazendo isso desde que chegou, e o culpado sou eu, por ter tentado. A culpa de seu choro e de sua luta era minha, que assim que coloquei meus pés nesse país, tentei o recuperar, o levar de volta, mas agi de forma estúpida, me esquecendo do poder que aquela mulher possuía.
Yoora me destruiu de todas as formas possíveis depois daquele episódio.
Nos primeiros dias eu tentei uma aproximação. Fui até a casa onde cresci, que antes pertencia a minha avó, para que eu conseguisse vê-lo. Consegui entrar, consegui ver Gael em um canto qualquer daquela mansão, mas não pude chegar perto, não consegui me aproximar. Ela havia contratado um novo grupo de segurança. Esses eram altamente treinados, com habilidades além da qual deveriam ter, e tudo o que me foi permitido nesse dia foi sofrer.
Gael, pela primeira vez, me viu apanhar de verdade. Ele não presenciou um tapa que levei de sua mãe, e sim uma surra. Apanhei de todos eles, e por mais que eu tentasse revidar, como fiz, eram oito contra um, e tudo o que aconteceu naquele momento foi a interrupção de Yoora, que após ver todo aquele sangue no chão, pediu para que eles parassem.
O que ela me disse aquele dia ainda era claro para mim. Yoora me prometeu que dá próxima vez que eu me aproximasse, quem sofreria as consequências seria meu irmão, que ao contrário de mim, não aguentaria um décimo do que me foi dado naquele momento, e foi ali que percebi que o que ela sentia havia ultrapassado a barreira do ódio. Yoora queria que eu sofresse, não pôr a confrontar, e sim por me odiar, por eu ser aquilo que sua mãe sempre quis que ela fosse e que ela nunca foi, uma pessoa boa. Yoora me odiava por minha avó me amar mais do que a amou um dia, me odiava por eu honrar o nome da família, ao contrário dela e do irmão, que sujavam o sobrenome SaeJin desde que nasceram.
Eu não precisei que ela me explicasse, que ela me dissesse o quanto me desprezava, porque a ver se abaixar frente a mim com um sorriso no rosto e emitir palavras que se sobressaiam ao desprazer de me ver, foi mais que o suficiente para meu entendimento. A ouvir mencionar minha avó, minha verdadeira mãe, de forma tão baixa, como se ela fosse um nada, me fez entender que aquilo se tratava de um jogo de poder. Yoora queria me mostrar que eu nunca conseguiria, que jamais chegaria no topo daquela torre de soberania que ela se encontrava, e que por mais que meu nome constasse no testamento, eu nunca colocaria minhas mãos no dinheiro da família, só que aquele dia, depois de ver o estado em que Gael ficou ao me ver daquela forma, ela também cometeu um erro, que assim como o meu, que foi de entrar ali despreparado, o daquela mulher pela qual ganhei o privilégio de respirar pela primeira vez, foi o de não ter me matado.
Depois daquele dia, nunca mais conseguir estar a menos de cinco metros de Gael outra vez, porque ela fez de tudo para que isso não acontecesse. Yoora me proibiu de me aproximar da residência, de usar de meu nome e até mesmo de procurar por um emprego, porque o nome Asafe SaeJin havia sido colocado em sua lista de desafetos, e somado ao fato de que sim, ela era uma mulher poderosa ali, eu vi todas as portas sendo fechadas para mim, que a cada tentativa de contratação, vinha com ela um singelo lamento.
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Conflitos Interpessoais
RomanceLeonardo teve tudo o que queria sendo braço direito de quem comandava a favela, mas a doença de sua mãe o trouxe de volta a realidade, lhe obrigando a iniciar uma nova vida. O racismo se torna constante logo nos primeiros dias, e lidar com essa ques...