Capítulo 14

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Aquela secretária incompetente da prefeitura me encarava, me desdenhando com os olhos. Ela devia ter ficado com raiva de mim por causa da última vez, mas também, ela nem se deu ao trabalho de largar o telefone por um segundo só para me atender, então essa mulher queria o que? Que eu ficasse sorrindo para ela a agradecendo pela má educação que teve ao me receber aquele dia? Devia juntar ela, Yoora, Elias e aquele Noberto que eu prefiro chamar de demônio e irem todos para a puta que pariu. Bando de gente mal encarada que não sabe conversar que nem gente, credo.

― Com o patrão aqui você mostra um pouco de educação né. ― Ela diz, na minha cara.

― Como? ― Olho pra ela.

― Quando Elias está por perto, você age pianinho.

― Eu estou pianinho porque você não está me incomodando. ― Dou um sorriso forçado para ela.

― Você sabe o que eu acho? ― Ela se levanta de sua cadeira.

― Eu não me importo com o que você acha. ― Digo.

― Eu acho que você não passa de um pobre coitado que faria de tudo para manter seu empreguinho... ― Ela sorri. ― Então se eu fosse você, me tratava com educação caso não queira ser demitido.

― E você que irá me demitir?

― Não, mas eu trabalho na prefeitura há anos, tenho voz aqui dentro.

― Vá em frente, faça o que você quiser. ― Eu não estava com paciência.

― Tem certeza? ― Ela debocha mais uma vez.

― Absoluta. ― Me levanto da cadeira em que eu estava sentado e saio dali.

Desde ontem a noite eu estava uma pilha de nervos. Fiz uma soma de tudo o que havia acontecido um pouco antes de dormir e acabei ficando estressando com um monte de coisa, e chateado com outras, e desde o momento em que acordei hoje pela manhã, a coisa não mudou para o meu lado. Qualquer situação está me estressando e me fazendo passar raiva, e desde que eu trouxe Elias nessa bendita prefeitura e ele me mandou esperar, que essa mulher está me encarando e fazendo cara feia pra mim, e eu não estava mais suportando ficar lá dentro.

Após uns dez minutos ali do lado de fora, queimando no calor e respirando fundo, entro novamente, só que dessa vez vou pelo corredor que Elias havia passado e o aguardo ali por perto, escorado numa parede pintada de amarelo.

― Você deu quanto a ele? ― Escuto alguém perguntando.

― Vinte mil. ― Era a voz de Elias.

― E ele cumpriu com o combinado?

― Claro que sim. ― Escuto um riso.

― Você não joga pra perder mesmo hein. ― O outro homem também ri.

― Menos um para concorrer comigo. Estou mais próximo de ganhar essas eleições. Em uma semana vamos saber o resultado. ― Ele parecia comemorar alguma coisa.

― Você tem certeza de que isso não vai cair sobre você?

― Absoluta. Pelo amor de Deus Marcos, eu não sou estúpido, não mandei matar o rapaz, apenas pedi para que dessem um susto nele.

― E funcionou perfeitamente bem, porque a candidatura dele foi retirada.

― Então... ― Que conversa mais estranha.

― Eu não acredito que com os seus valores você foi capaz de fazer isso.

― Sou capaz de separar as coisas Marcos. Não estou misturando a minha religião com o fato de eu estar envolvido na política.

Conflitos InterpessoaisOnde histórias criam vida. Descubra agora