Eu havia acabado de estacionar o carro na garagem. Asafe olhou para mim, me acordando junto com ele. O final de semana que tivemos havia sido incrível. Vivemos em nosso próprio mundo por dois dias, e agora teríamos que voltar a realidade que batia em nossa porta, algo que não estávamos muito a fim de fazer.
― Tudo o que eu queria nesse momento era voltar para o seu quarto... ― Asafe lamenta.
― Nós podemos fazer isso. ― Me viro para ele. ― Basta você me pedir para ligar o carro e nos levar de volta.
― Sim. ― Seu sorriso era incrível.
― Mas não vamos... ― Pego suas mãos. ― O Gael chega hoje e você precisa estar aqui...
― É... ― Asafe abaixa a cabeça. ― Eu queria tanto que avançássemos alguns anos e que ele tivesse a capacidade de se defender sozinho.
― Isso ainda vai acontecer Asafe, mas ele precisa de você para isso se concretizar.
― Eu sei... Eu sinto que esse medo que eu tenho de o deixar sozinho aqui nessa casa irá nos atrapalhar.
― Não se a gente não deixar, e eu prometo a você que nunca me incomodarei com isso, eu juro.
― Sério?
― Sim... ― Sorrio. ― O seu medo é válido. Nesses meses em que trabalhei aqui vi que ele realmente não poderia ficar nas mãos de seus pais, principalmente nas de sua mãe.
― Eu tenho medo de ela fazer com ele o que ela fez comigo. Não quero que a história se repita, seja ela qual for... ― Ele tinha um semblante triste.
― Você estará aqui, então tudo irá ficar bem. ― Sorrio e então lhe dou um beijo.
― Temos que descer né... ― Ele sorri.
― Sim... ― Olho para frente e respiro fundo. ― Pronto?
― Não. ― Ele também sorri, mas desce do carro.
Depois de ficarmos escorados no carro por alguns segundos, tomamos fôlego e entramos na casa, e assim que passamos pela cozinha, notamos a bagunça. Haviam cacos de vidro no chão, terra espalhada devido a quebra de alguns vasos de plantas e milhares de fotos e coisas pessoais espalhadas, e não era apenas na cozinha. A parte de baixo da casa toda estava uma bagunça, como se tivesse passado um furacão aqui dentro.
Assim que vimos Rosário com uma sacola de lixo em mãos, a paramos para saber o que havia acontecido.
― Rosário... ― Asafe fala baixo. ― O que aconteceu?
― Eu não sei... Cheguei há uma hora e encontrei essa zona. Os funcionários e eu estamos limpando tudo o que podemos, mas é muita coisa.
― E o Elias? ― Pergunto.
― No escritório. Bati na porta para o avisar que cheguei e ele só me pediu para cuidar disso... ― Ela olha ao redor.
― E ela? ― Asafe olha para os lados.
― Não está aqui...
Depois de ajudarmos Rosário com a parte de baixo da mansão, catando todo o lixo e colocando os cacos de vidros em caixas de papelão, varremos a terra do piso e jogamos em uma área do jardim que havia sido danificada por seja lá o que aconteceu aqui, e então entramos. A primeira coisa que Asafe fez foi bater na porta do escritório, e não obteve resposta.
― Elias. ― Ele diz. ― Leonardo e eu chegamos.
― Vocês viram... ― Ele parecia nervoso.
― A bagunça? Sim, terminamos de limpar. ― Asafe bate na porta outra vez. Ela estava trancada.
― Eu gostaria de ficar em paz por um instante.
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Conflitos Interpessoais
RomansaLeonardo teve tudo o que queria sendo braço direito de quem comandava a favela, mas a doença de sua mãe o trouxe de volta a realidade, lhe obrigando a iniciar uma nova vida. O racismo se torna constante logo nos primeiros dias, e lidar com essa ques...