Jão 5/7

48 3 0
                                    

Eu estava sentado em minha cama com o notebook sobre minhas pernas. Caique escutava música em seus fones ao meu lado, cantarolando baixinho enquanto eu trabalhava. Ainda achava estranha essa súbita mudança em meu comportamento quando ele estava ao meu lado, mas não era algo desagradável, e sim positivo.

Olho para ele disfarçadamente, que estava de olhos fechados, distraído. Solto um suspiro, observando seu corpo ao meu lado, completamente relaxado, exposto o suficiente para mexer com meus sentidos. Desde que havíamos transado pela primeira vez, um novo mundo pareceu se abrir para mim, e a partir daquele dia eu o trouxe de vez para o meu quarto. Dormir sozinho todas as noites havia se tornado solitário, e o ter aqui comigo era um sopro a mais de vida para mim. Era estranho pensar dessa forma, já que nunca fui de me aproximar de muitas pessoas com essa intenção, mas Caique fez o seu caminho até mim e não quis voltar.

— O que foi? — Ele pergunta, ainda de olhos fechados.

— Não posso mais te olhar?

— Claro que pode. Perguntei o que se passa nessa sua cabeça. — Ele pausa sua música e se vira para mim, fechando meu notebook.

— Eu estou trabalhando... — Tento pegar o notebook de sua mão.

— Você faz isso depois.

— Você sabe quem eu sou não sabe? O que eu posso mandar fazerem com você... — Sorrio.

— Que medo. — Ele bate em minha mão quando avanço no computador. — Precisamos conversar. Estamos evitando isso há duas semanas.

— Não há nada para ser conversado. Está tudo bem assim. — Sorrio.

— Mas você é chato, puta que pariu... — Ele se senta. — Sei que há coisas te incomodando, mas não sei exatamente o que, se é sobre mim, sobre o meu jeito de me portar e falar, seja sobre a minha vida ou sobre você.

— Não é nada com você Caique, não tenho o que reclamar, é só... — O encaro. — Tem coisas que você não sabe, e que por mais que eu esteja bem, ainda me impedem de dar o meu melhor, seja com você na cama ou em outros aspectos da minha vida.

— Porra, se o que andamos fazendo não é o seu melhor... — Ele segura um sorriso.

— Não começa. — Sorrio.

— Tem alguma coisa a ver com a sua briga aquele dia com a avó da Joana?

— Você ouviu?

— Ela estava gritando João... — Seus olhos se fixam no meu.

— Você ouviu tudo? — Pergunto, tremendo sobre a cama.

— Basicamente sim... — Ele toca meu braço.

— Então você... — Engulo seco, tentando me controlar.

— Eu ouvi, sim, e eu sinto muito, de verdade, que isso tenha acontecido com você João... — Ele coloca a cabeça em meu colo e puxa minha mão direita para os seus cabelos.

— Sabe... — Paro por um momento, tomando coragem. — Você foi a primeira pessoa com quem consegui sentir prazer desde aquele dia...

— Sim... — Ele se aconchega mais.

— Um ano depois do que aconteceu, sai com uma mulher que conheci em um barzinho. Toquei ela, a beijei, eu tive uma ereção, mas prazer, desejo, eu não senti. Não consegui gozar. Eu ainda estava preso.

— Pode continuar... — Caique fazia carinho na minha perna esquerda, puxando de leve meus pelos.

— Pensei que o problema talvez fossem as mulheres, tipo, talvez eu devesse tentar outra coisa... Voltei a esse bar uns dias depois e um rapaz chegou em mim. Nos beijamos no estacionamento, a ereção veio, como sempre, mas não passou disso, e depois de tentar mais duas vezes, parei, parei de sair, parei de flertar e evitava ter muito contato com as pessoas, mas eventualmente acontecia de alguém chamar a minha atenção, mas eu nunca sentia prazer, eu tentava gozar, sempre tentava, mas eu nunca conseguia. Acho que pelo fato de eu ter me fechado, ou de não confiar no que eu estava fazendo.

Conflitos InterpessoaisOnde histórias criam vida. Descubra agora