Jão 2/7

30 3 0
                                    

Me levanto daquela cadeira de plástico desconfortável e estalo as minhas costas. Há anos eu não dormia tão mal assim, seja pela posição desfavorável ou pela situação que eu havia presenciado na última noite.

O cara ainda dormia. Seu rosto estava mais inchado, mais roxo, com um aspecto estranho, e para falar a verdade, Caique parecia morto em cima daquela cama. Eu sabia que ele estava vivo por causa da respiração pesada, caso contrário, acharia que ele tinha morrido durante a noite.

Procuro um banheiro para mijar, lavar meu rosto e passar uma água na boca para tirar o bafo dormido. Após isso, saio pela porta que entrei e vou até a cafeteria do hospital. Compro um café e um pão com presunto e queijo. Como rapidinho e volto a passos lentos trocando mensagens com os rapazes da casa, dando autorizações e proibindo certos esquemas que me pareciam armadilhas para pegar idiotas.

Quando abro a porta do quarto, me deparo com a cama vazia. O filho da puta havia levantado, provavelmente fugido, e eu não posso julgar, teria feito a mesma coisa. Procuro dentro do armário, debaixo da cama, atrás das máquinas desativadas e nada da porra do menino aparecer. Saio do quarto a passos rápidos e começo a abrir as outras portas, uma por uma, a procura dele, e quando eu estava prestes a desistir, vou até a última. Entro lentamente, sem fazer barulho e paro no meu do local, olhando para os lados. O vi em pé atrás de um dos armários. Ele tentou se esconder, mas algo nele sangrava, e foram os vestígios de seu sangue que me levaram até ele.

— Filho da puta do caralho. Você vai acabar morrendo.

— Por favor... — Ele suplica, ainda escondido. Acho que não reconheceu minha voz, mas porque reconheceria?

— Caique, sai de trás da porra desse armário. Não tenho o dia todo. — Caminho até ele, que se assusta ao me ver.

— O que eu estou fazendo aqui? — Ele fecha a cara pra mim.

— De nada seu cuzão. Tu apareceu quase morto lá na casa, com a cara estourada de porrada e agora está aqui.

— Eu não posso ficar aqui, eu... — Ele começa a se apavorar. — Eu vou embora...

— Calma ai. — Seguro o braço dele. — Você acha que sou burro de trazer um rapaz no seu estado para um hospital e entrar pela porta da frente? Estou nessa vida há tempo demais para saber que daria merda.

— Então como...

— Um conhecido meu, cheirador de pó que nem você. Ele trabalha aqui.

— Olha... — Ele me encara.

— Não enche a porra do meu saco. Tu tá todo surrado, parecendo que foi atropelado, então não pense em me estressar. Se eu te empurrar tu para no chão e não levanta mais. Vamos. — Começo a puxar ele pelo braço.

— Eu não vou a lugar nenhum com você.

— E vai para onde? — O encaro, o vendo ficar mudo. — Cala a boca e volta para o quarto.

O deixo andar na minha frente. O sigo até o quarto em que estávamos, e assim que o vejo se deitar na cama outra vez, gemendo de dor, me aproximo e me deparando com um curativo todo sujo de sangue.

— Tira a mão de mim.

— Vai tomar no seu cu e cala a boca. — Bato na mão dele.

Olho atentamente para o curativo, tentando entender o que havia acontecido. Procuro pelo lugar alguns instrumentos e produtos para que eu pudesse usar. Desinfeto minhas mãos com o álcool que achei e tiro o esparadrapo de sua pele, junto com a gaze que tampava um corte médio na sua costela. Um dos pontos havia soltado, e por isso sangrava.

Conflitos InterpessoaisOnde histórias criam vida. Descubra agora