No caminho para o meu serviço, eu me encontrava aflito. Parecia que meu coração iria sair pela boca, e que a qualquer momento minha ansiedade ia me comer vivo e eu iria acabar batendo o carro de Elias, que graças ao bom Deus, não sofreu nenhum arranhão durante toda aquela invasão inumana na favela.
A única coisa que rondava minha mente era o Asafe. Eu queria saber como ele estava, se haviam feito alguma coisa com ele ou se ele ainda estava na delegacia, e eu só ia conseguir saber quando o visse mais uma vez. Eu só ia conseguir perguntar e sentir se estava tudo bem se eu conseguisse o abraçar novamente, e até agora, até metade do caminho, eu ainda não sabia de nada.
Assim que estacionei o carro na garagem, meu peito começou a bater ainda mais forte. Eu tinha medo de descer do carro e ter que encarar a situação, ter que ver seu rosto, ou até mesmo como Elias e Yoora estavam reagindo diante de tudo o que Asafe havia dito, mesmo eu não sabendo nada.
Quando cheguei na cozinha, Rosário já estava lá, olhando um livro de receitas. No instante em que ela percebe a minha chegada, ela corre em minha direção.
― O que aconteceu Leonardo? ― Ela me pergunta, preocupada.
― Nesses últimos dias, muita coisa aconteceu, então você terá que ser específica.
― Primeiro, o Asafe... ― Ela me encara. ― Elias e Yoora chegaram hoje pela manhã e eu os ouvi conversar sobre o Asafe ter sido levado a delegacia, e como ele estava na sua casa, eu gostaria de saber o que aconteceu com ele.
― Sim... ― Merda, eu não sabia o que dizer. ― Não sei se você está sabendo, mas a favela onde eu moro foi invadida pela polícia...
― Essa seria minha segunda pergunta...
― Sim... Eu não sei o que exatamente aconteceu na minha casa, porque pela manhã eu saí para ir ao mercado e no meu caminho a invasão começou, e depois disso, não consegui mais voltar para casa, e quando voltei, minha mãe estava apavorada dizendo que a polícia levou Asafe e que ele disse para não irmos atrás dele.
― Sim...
― Ela também não viu nada porque estava escondida por causa do tiroteio... Ela só me disse que um tempo depois ouviu um baralho dentro de casa, e quando chegou lá, Asafe já estava sendo levado... ― Eu não quis contar a ela o que, já que nem mesmo eu sabia de nada.
― E o que aconteceu?
― Eu não sei Rosário... Minha mãe não viu nada, só me disse que Asafe saiu com os policiais.
― Essa história está muito mal contada Leonardo.
― É a única história que eu conheço. Não sei o que aconteceu porque servi de escudo para um monte de policial que estava atirando sem perguntar e matando um monte de gente inocente. ― Eu a encaro. ― Muita gente morreu na favela Rosário, e não sei se você está vendo meu rosto, mas eu levei uma surra antes de conseguir fugir.
― Me desculpa. Eu só estou preocupada.
― Eu não sei o que aconteceu na minha casa, e só vou saber se Asafe ou Elias me contarem.
― Eu sei. ― Ela diz, com a voz mais baixa.
― Eu só trouxe as coisas dele que ficaram na minha casa, e se ele irá me contar ou não o que aconteceu com ele... ― A encaro mais uma vez.
― Sim... ― Ela me olha. ― E a situação lá, como está?
― Eu vim trabalhar hoje e as ruas ainda estavam sujas de sangue... ― Lamento o ocorrido. ― Foi uma chacina Rosário... Muita gente que nunca pegou em arma na vida morreu por causa da pressa que eles tinham para acabar com o tráfico.
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Conflitos Interpessoais
Storie d'amoreLeonardo teve tudo o que queria sendo braço direito de quem comandava a favela, mas a doença de sua mãe o trouxe de volta a realidade, lhe obrigando a iniciar uma nova vida. O racismo se torna constante logo nos primeiros dias, e lidar com essa ques...