Capítulo 24

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A culpa era minha pelo clima estranho dentro daquele carro. Desde o que aconteceu na piscina, desde o meu olhar descarado para ele, Asafe estava se comportando de maneira mais acuada, evitando contato visual comigo, como se tivesse vergonha do que aconteceu, ou como se tivesse vergonha do que eu fiz com ele. Posso não ter o tocado ou coisa parecida, mas eu encarei e memorizei cada parte do seu corpo, e eu só percebi que o deixei constrangido quando olhei em seu rosto e o vi pegando fogo.

Sei que cruzei a linha, que me deixei levar pelo fato de ele ter me defendido de Yoora, de ele ter me ajudado durante todo o dia, e mesmo quando eu não precisava dele, ele estava lá para enfrentar a mãe por minha causa, e foi isso que causou meu atestado de fodido naquela hora. A questão não foi ele estar molhado e usando apenas uma bermuda. A questão é que foram as palavras dele durante todo aquele dia, assim como as suas atitudes, que mexeram com o meu psicológico, e o que eu estava evitando há algum tempo finalmente bateu na minha cara, e não foi uma sensação maravilhosa, e sim uma repleta de ressalvas e um pouco de medo.

Não há nada de errado em pensar o que eu estava pensando, em sentir o que eu estava sentindo, mas eu precisava me colocar no meu lugar e enxergar que aquilo nunca poderia acontecer, que os mundos eram diferentes de mais, que as pessoas eram diferentes de mais, e eu provavelmente não merecia nada vindo de uma pessoa assim.

Depois de deixar Gael na escola e Elias na prefeitura, o clima dentro daquele carro se tornou ainda mais estranho. Acho que ele queria conversar comigo, seja para me repreender ou para dizer qualquer outra coisa, mas ele não tinha coragem, assim como eu não me atrevia a olhar pelo retrovisor do carro para ver seu rosto vermelho, e só acordei dos meus pensamentos quando escutei a porta do carro batendo e de longe pude ver Asafe entrando naquela academia.

Voltei para casa rapidamente e me sentei na cozinha vendo Rosário trabalhar com aquele monte de gente ao redor dela, e eu pude ver que ela se sentia completamente desconfortável escutando aquele monte de gente branca falando o que ela tinha ou não tinha que fazer, e estava na cara que aquilo a estava incomodando.

Quando ela percebe que estou na cozinha, olha rapidamente para mim e fala alguma coisa com aquelas pessoas, e então vem em minha direção, me puxando pelo braço e me levando para fora da cozinha.

― Está tudo bem?

― Se eu não saísse de lá, iria acabar dando um troço... ― Ela olha para a porta da cozinha. ― Você pode me esperar aqui por um momento?

― Sim... ― A encaro.

Rosário voltou pela cozinha e eu a perdi de vista. Só a vejo voltando uns três minutos depois com sua bolsa e sem a touca que ela usava na cabeça.

― Você vai me levar no supermercado.

― Vou é? ― Ela vai me empurrando até a garagem.

― Sim... ― Ela me para. ― Ainda faltam alguns ingredientes para serem comprados, e eu iria amanhã, mas menti para Yoora dizendo que havia uma promoção e que era melhor fazer a compra de uma vez.

― Você é muito mentirosa Rosário. ― Sorrio quando entro no carro.

― Eu preciso descansar minha mente por algumas horas. Aquele povo está me estressando... ― Ela se senta ao meu lado.

― E a Yoora me liberou para te levar?

― Sim, mas depois de falar que você é um imprestável e que não fará falta. ― Ela começa a rir.

― Imaginava. ― Ligo o carro e saio da garagem.

― A sorte é que vamos descansar daquela cara por pelo menos dois dias quando eles viajarem.

Conflitos InterpessoaisOnde histórias criam vida. Descubra agora