Capítulo 18

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Era a primeira vez que chovia depois de meses sem cair uma gota de água, e apesar do trânsito lento, eu me sentia um pouco inseguro de dirigir com o asfalto molhado. Não que isso exija muito de mim, ainda mais com esse carro todo preparado, a questão é que eu não gostava de dirigir na chuva por causa de um acidente que sofri há alguns anos quando bati um dos carros do Beto porque o para brisa não funcionava, e por isso, acabei batendo em uma árvore.

Não foi nada grave, só sofri um corte na cabeça e alguns hematomas no braço, que rapidamente foram embora com duas semanas, mas desde então, não me tornei um grande fã de dirigir com pista molhada, e o problema seria menor se eu estivesse sozinho dentro do carro, mas todo mundo estava aqui me observando.

― Esquerdistas... ― Elias estava sentado ao meu lado, reclamando de uma passeata do partido contrário ao dele. ― Já não basta o trânsito atrasar por causa da chuva, e agora eles aparecem na rua só para piorar a situação. Não poderiam ter escolhido outro dia para isso? ― Ele estava impaciente.

― Eles têm os mesmos direitos que o seu partido. ― Escuto a voz de Asafe.

― O meu partido não sai às ruas em dia de chuva para atrasar o trânsito.

― Há vinte minutos não estava chovendo, então eu tenho certeza de que eles não saíram de suas casas para protestar debaixo de chuva. ― O encaro pelo retrovisor.

― Qual o seu problema comigo Asafe? ― Elias se vira para trás, mas Asafe fica calado, como se não precisasse dizer ao seu pai qual era o seu problema com ele. ― Você é um ingrato. ― Elias olha para frente.

― E você só percebeu isso agora? ― Escuto Yoora. ― Asafe vem sendo um ingrato há anos Elias. ― Ela olha para o filho. ― Pagamos as melhores escolas, os melhores cursos com os melhores professores, e isso nunca parece ser o suficiente.

― Isso é o suficiente para vocês acharem que estou de acordo com os rumos que estão traçando para a minha vida, mas não o suficiente para mim. ― Ele rebate.

― Mas será o suficiente enquanto estiver morando debaixo do nosso teto! ― Yoora aumenta a voz. ― Enquanto comer o que seu pai e eu colocamos na mesa, você fará o que for de nosso agrado, e se não estiver satisfeito, as portas de casa estão abertas.

― Sim, claro... ― Ele se vira para ela. ― E qual desculpa dará aos seus amigos? Aos fiéis da igreja quando eu não aparecer mais em cima do palco para cantar... ― Asafe estava visivelmente desafiando Elias e Yoora.

― Você gosta de provocar... ― Elias se volta para trás. ― Qual é o seu problema?

― Eu não tenho problema algum, ao contrário de vocês dois... ― Ele encara Elias, que parecia o queimar com os olhos.

― Você não sabe do que está falando. ― Elias o retruca.

― Tudo bem. ― Ele se vira para a janela do carro.

― Não fuja da conversa Asafe. ― Yoora o repreende.

― Eu não estou fugindo, só acho que esse tipo de conversa não vai levar ninguém a lugar nenhum.

― A culpa desse comportamento dele é toda da sua mãe. ― Elias olha para Yoora.

― Isso não teria acontecido se eu não precisasse te acompanhar em todas as suas viagens de negócios.

― Era necessário alguém que intermediasse os acordos Yoora, eu não dominava o idioma do seu país.

― Eu sei que não.

― Então não me culpe. Eu tinha que me provar para sua família depois que seu pai me deu aquele emprego, então todas essas viagens foram necessárias para a gente chegar onde estamos hoje, então não jogue a culpa da educação falha de nossos filhos em cima de mim.

Conflitos InterpessoaisOnde histórias criam vida. Descubra agora