Eu havia acabado de voltar de mais um dia de serviço. Para a minha surpresa, Leornã tinha chegado praticamente junto comigo e estava na cozinha fazendo alguma coisa para comer. Acho que sua não havia sido muito produtiva.
Fiquei tentado em puxar papo, mas desde a última, meu irmão nem sequer olha na minha cara. Age como se eu não estivesse no mesmo ambiente, mesmo eu estando nitidamente encarando, esperando que mantivéssemos pouco contato visual.
― Eu preciso conversar com você. ― Eu digo, mas sou ignorado. ― Leornã...
― Eu não tenho nada para falar com você Leonardo, já te avisei.
― É importante... ― Me levanto do sofá.
― Eu ainda não esqueci o que aconteceu. ― Escuto as palavras saírem de sua boca enquanto mexia em alguma coisa no fogão.
― Você está vendo esses cortes no meu rosto? ― Entro na frente interrompendo seu percurso até a geladeira. ― Ele fez isso comigo há dois dias.
― Você se envolveu com ele porque quis.
― Eu não tinha outra escolha.
― Sempre temos escolhas. ― Finalmente nos encaramos.
― Você não pode me dar lição de moral sobre escolhas Leornã, já que a forma que arrumou para conseguir dinheiro não é tão convencional assim... ― Digo, mas percebi que peguei pesado de mais.
― Você não sabe nada sobre a minha vida.
― Para de andar. ― Seguro seu braço. ― Eu realmente preciso conversar com você. Sinto muito pelo que aconteceu, mas eu preciso da sua ajuda Leornã, por favor. ― Digo.
― Eu só vou me dar a esse trabalho Leonardo, porque você foi quem pagou meu silicone, e eu ainda levo isso em consideração... ― Vejo seus olhos revirarem.
― Obrigado... ― Digo e resolvo ir direto ao assunto. ― Como eu sei que você não é uma pessoa burra, deve ter percebido que eu estou devendo dinheiro para ele.
― Sim, eu percebi.
― Da primeira vez eu peguei com o Beto para pagar aquele homem... ― Antes de terminar, sou interrompido.
― Você pegou dinheiro emprestado para pagar um empréstimo? Ainda mais com o Beto?
― Eu já paguei o Beto. ― Minto, pois com Beto eu me resolveria depois.
― Imagino... ― Sua suspeita era visível. Provavelmente achou que fui vender ou alguma coisa parecida.
― A questão é que o dinheiro que o Beto me deu é roubado, então isso... ― Aponto para o corte na minha cabeça. ― É resultado dessa confusão.
― Onde você quer chegar com essa história Leonardo?
― Eu preciso de dinheiro...
― Então é isso... ― Sou empurrado contra o armário da cozinha. ― Você quer se endividar ainda mais?
― Leornã, eu estou fudido! O único dinheiro que tenho é o que guardei para o tratamento da mãe, e eu não posso ficar tirando...
― Eu não acredito nisso...
― Eu estou trabalhando, mas eu recebo quase mil e trezentos por mês, e a porra do meu empréstimo não foi divido em doze vezes no banco. Não tenho como juntar para pagar o cara. Ele vem cobrar em duas semanas.
― Eu não tenho dinheiro pra esse tipo de coisa Leonardo.
― Eu não tenho como arrumar dez mil Leornã! Se eu tirar do tratamento da mãe, como vou pagar a quimioterapia? Você não tem ajudado muito... ― Resolvo jogar isso na sua cara.
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Conflitos Interpessoais
RomanceLeonardo teve tudo o que queria sendo braço direito de quem comandava a favela, mas a doença de sua mãe o trouxe de volta a realidade, lhe obrigando a iniciar uma nova vida. O racismo se torna constante logo nos primeiros dias, e lidar com essa ques...