Epílogo

70 3 0
                                    

Leonardo e eu estávamos do lado de fora, ainda dentro do carro, aguardando a sua saída. Gael estava no banco de trás, quieto, lendo alguma revista em quadrinho de um novo herói por quem ele se apaixonou, e ele parecia concentrado a ponto de não prestar atenção em nada a sua volta.

— Está ansioso? — Leonardo coloca sua mão direita em minha perna.

— Um pouco. — Confesso.

— Já se passaram seis anos, muita coisa aconteceu, então é compreensível que esteja. — Vejo seus olhos em mim, na tentativa de me acalmar.

— Tenho medo de não conseguir, mas o problema em si não sou eu, e sim Gael. Para mim, essa meia década não fez diferença alguma no relacionamento que tive com ele, mas para ele é diferente. Gael era uma criança na época, e viu tudo o que aconteceu.

— Não fica assim. — Leonardo tira o sinto de segurança, fazendo o mesmo com o meu, e me abraça, me confortando. — Independente do que aconteça, somos uma família agora, e nada vai mudar isso.

— Eu sei — Olho para nossas mãos, para a aliança em nossos dedos. — E eu não poderia estar mais feliz. — Sorrio, com lágrimas nos olhos.

— Eu estou aqui, para sempre, ao seu lado, e você pode contar comigo para tudo.

— Nunca irei me cansar de dizer que você é o marido perfeito. — Beijo seus lábios e Leonardo retribui.

— Vamos apenas aguardar.

Ficamos naquele carro por cerca de duas horas, até que o enorme portão daquela prisão se abre. Lá longe, vimos um homem de cabelos castanhos e barba por fazer. Ele parecia perdido, perdido dentro dele mesmo, e eu já sabia quem era, mas ele estava diferente, não parecia a mesma pessoa que uma vez foi. Era como se uma aura diferente tivesse se apossado dele, e eu pensava que a cadeia seria um lugar horrível para Elias, mas acabou por aparentemente não ter sido.

Ele devia estar com seus cinquenta anos agora, mas continuava bem, ainda mais levando em consideração o lugar em que ele passou seus últimos seis anos.

Há alguns meses, entrei em contato com o advogado que cuidava de seu caso. Queria saber, depois de algum tempo, como andava Elias, e ele me disse que estava tentando entrar com os papeis de liberdade provisória por bom comportamento, e eu confesso que fiquei feliz quando esse homem me ligou e disse que em algumas semanas ele sairia, o que me trouxe aqui hoje.

Ele se aproxima mais do carro em que estávamos, e acho que consegue nos ver, porque a bolsa que estava em suas mãos vai para o chão.

— Elias está — Leonardo diz, surpreso.

— Bonito? — Sorrio, olhando para o homem parado logo a frente.

— Sim. A cadeia fez bem a ele. — Leonardo sorri mais uma vez.

— Eu pensei a mesma coisa.

— Você deveria ir. Ele está te encarando.

— Eu sei, só estou nervoso.

— Não fique. Qualquer coisa grita que eu desço do carro. — Ele sorri e me beija outra vez.

— Eu vou fazer isso.

Ao descer do carro, fecho a porta ao meu lado e tomo coragem para caminhar em sua direção.

Elias parecia aflito, chocado e triste ao mesmo tempo. Era visível a sua tristeza, as lágrimas em seus olhos, e era visível também uma certa quantidade de alívio que ele sentia ao me ver ali, porque eu nunca poderia imaginar o que se passa na cabeça de uma pessoa que fica presa por tanto tempo e depois sai, não tendo família ou alguém para lhe amparar do lado de fora.

Conflitos InterpessoaisOnde histórias criam vida. Descubra agora