Capítulo 40 (Penúltimo)

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As paisagens do lado de fora pareciam passar com uma lentidão agonizante. O carro estava a quase oitenta quilômetros por hora e ainda assim o mundo do outro lado do vidro estava lento, quase imóvel.

Asafe e eu tínhamos voltado da delegacia. Depois daquele momento em que nos abraçamos, vendo tudo ir abaixo, fomos atrás de Elias com um advogado, e infelizmente a situação não foi reversível. Yoora apresentou provas o suficiente para o deixar atrás das grades por bastante tempo. Ela tinha informações gravadas e encontros entre Elias e Noberto em vídeo. Ela estava se precavendo todo esse tempo, e quando finalmente encontrou uma oportunidade de usar o que tinha, usou.

Quando descemos na garagem, aquele frio na barriga tomou conta de mim. Asafe e eu não tocamos uma palavra sequer a horas, e eu não sabia como começar um assunto com ele sem encher meus olhos de lágrimas, e acho que ele estava calado pelos mesmos motivos. Era doloroso de mais aceitar o que estava acontecendo.

Entramos lentamente na casa, e o silêncio era horrível.

Ainda eram oito da manhã, mas não havia ninguém ali. Asafe havia ligado para os funcionários lhes dando a semana de folga, provisoriamente, até que a situação se resolvesse, então éramos apenas nós dois ali, naquela casa vazia e sem vida.

No instante em que ele começou a subir as escadas, fui atrás dele, até que chegamos em seu quarto. A primeira coisa que ele faz e tirar suas roupas e se deitar debaixo do edredom, então acabo fazendo o mesmo, deixando minhas peças de roupa espalhadas pelo chão.

O encaro em silencio e observo sua expressão, mas ele não disse nada, por um bom tempo.

― Eu não sei o que fazer... ― Ele diz, evitando me olhar.

― Nós sabemos o que temos que fazer, apenas temos medo...

― Sim... ― Ele ainda não me encarava.

― Vai doer... ― Eu precisava ser forte e dizer que tudo iria ficar bem.

― Eu não estou preparado para isso Leonardo... ― Ele me encara com os olhos cheios de água. ― Nós podemos tentar... ― Eu o interrompo.

― Não. ― Tento sorri e seguro suas mãos, ignorando a constante agonia em meu peito. ― Você precisa do seu tempo, e a gente não faz a mínima ideia do quanto vai demorar.

― Eu sei, mas... ― Ele não sabia o que falar.

― Você sabe que não vai dar certo, você sabe que não tem como fazer funcionar, não quando nossas mentes estiverem focadas em outras coisas...

― Sim... ― Ele encosta sua cabeça na minha.

― Você vai ter que recuperar seu irmão, e eu terei que arrumar outro emprego e ser pai... Vamos estar ocupados de mais para tentarmos Asafe. Vamos estar a milhares de quilômetros de distância

Quando os dois estão dispostos a tentar, dá certo Repeti esse mantra para mim mesmo nas últimas horas, mas constatei que é errado, que não é assim que as coisas funcionam no mundo real.

Eu o amo, acho que isso é um fato, e sei que ele sente o mesmo, mas não podemos fazer isso, eu não posso fazer isso com ele, o manter por perto estando tão longe. É cruel de mais. Isso estava doendo de mais em mim, mas era necessário. Precisamos dar uma pausa.

― Porque ela fez isso com a gente... Meu Deus... ― Ele lamenta.

― Ela sabe que por seu irmão você faria qualquer coisa...

― Como ela pôde ser tão horrível Leonardo? Em todos esses anos ela nunca me disse uma palavra carinhosa, e agora explode a minha vida e o que eu havia conseguido construir ao seu lado.

Conflitos InterpessoaisOnde histórias criam vida. Descubra agora