Capítulo 09

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Eu me encontrava visivelmente nervoso, e isso estava tão estampado no meu rosto que minha mãe estranhou quando eu cheguei em casa e lhe dei um beijo na testa, mas ela ficou calada, não disse ou perguntou nada, mas eu sabia que assim que eu saísse desse banheiro e passasse por aquela porta mais tarde, ela iria comentar alguma coisa, e eu teria que inventar uma desculpa acreditável, já que não poderia dizer que estava indo pegar dinheiro com meu antigo chefe.

Tomei um banho demorado, e acho que passei uns quarenta minutos debaixo do chuveiro, e quase metade desse tempo foi por puro nervosismo, o resto, apenas para me limpar e esquecer o dia que eu tive.

Assim que saio do banho enrolado em minha toalha, corro para o meu quarto e encosto a porta. A primeira coisa que pego é uma cueca preta, a vestindo logo em seguida. Passo desodorante e me pergunto por que insisto em comprar essas coisas com cheiro, porque é espirrar e meu nariz começa a irritar.

Visto uma calça jeans escura e uma camisa mais folgada no corpo, e então calço um tênis. Me levanto da cama e me preparo para sair pela porta e me deparar com os olhares de questionamento da minha mãe, olhares que me cortam assim que passo pela porta do meu quarto.

― Onde está indo numa hora dessas Leonardo?

― Já vem querer saber da minha vida. Curiosa. ― Resolvo brincar.

― Não posso não? ― Ela tira os olhos da novela e se vira para mim?

― Estou indo dar uma volta lá embaixo... ― Digo ao checar as horas no meu celular.

― Vai fazer o que lá?

― Tá querendo saber de mais hein. ― Sorrio.

― Olha lá hein. Cuidado na hora de descer esse morro, você sabe que as coisas não estão favoráveis para a gente.

― Não se preocupe, eu vou ficar bem.

― Está levando seus documentos? Eles podem te abordar...

― Sim mãe... ― Tiro minha carteira do bolso e mostro pra ela.

― E esse perfume todo é pra que? ― Ela ri.

― Larga a mão de ser curiosa dona Luzia! ― A repreendo. ― Já estou indo. ― Me aproximo e dou um beijo em sua testa.

― Usa camisinha tá! ― Ela grita quando chego na porta.

― Acorda a rua toda, sua fofoqueira! ― Grito já descendo as escadas.

Quando chego na rua, ainda rindo da situação, me lembro do que eu estava prestes a fazer, e então volto a ficar nervoso. Eu não me sentia assim há um tempo. Já tive meus pequenos ataques de ansiedade quando mais novo, mas depois dos sustos que levei quando iniciei essa vida no morro eles pararam, mas voltaram a dar as caras outra vez. Resolvo dar pequenos pulos em frente a minha casa, balançando meu corpo, e então, segundos depois, tomo coragem.

Vou para a rua de trás, que geralmente a essa hora não tinha ninguém andando por lá, logo, não tinha uma alma sequer para fazer fofoca pra minha mãe, e somando isso ao fato de a iluminação ali ser péssima e eu estar usando roupa escura, eu passaria despercebido até chegar no topo do morro.

Eu não tinha pressa de subir, e pra falar a verdade, eu estava pensando em dar pra trás, mas na situação em que eu me encontrava, ou era subir o morro ou descer pro inferno e abraçar o capeta, e por isso, decidi continuar meu trajeto.

Como a essa hora só tinha o pessoal que vigiava a favela pela rua a fora, e eu conhecia todos, sabia que não dariam com a língua nos dentes quando me viram, então só cumprimentei todos eles e continuei subindo como se nada tivesse mudado, como se eu estivesse indo buscar pó para vender lá em baixo, como eu fiz por anos.

Conflitos InterpessoaisOnde histórias criam vida. Descubra agora