Capítulo 04

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Eu mal tinha conseguido dormir de tamanha a minha ansiedade para o meu primeiro dia de trabalho.

Sim, eu estou ansioso para o meu primeiro dia como motorista, mas o que me consumia mesmo era o fato de eu ainda estar devendo dinheiro para aquele homem. O que estava me deixando inquieto era saber que eu tinha poucos dias para conseguir esse dinheiro, e na minha cabeça não existia alternativa alguma para resolver essa situação que não fosse subir a merda daquele morro e pedir outro empréstimo para cobrir o que eu devia. Conhecendo o pessoal lá de cima como conheço, sei que eles liberariam a grana pra mim sem prazo para devolução, mas eu tenho certeza de que eu teria que fazer um corre, e eu não queria mexer com isso, ainda mais correndo o risco de minha mãe descobrir.

Depois de ter me arrumado, vou no quarto ao lado e bato na porta. Quando ele resmunga alguma coisa que não consigo entender, abro a porta e me dou de cara com meu irmão pelado em cima da cama, nu, não como veio ao mundo, mas ainda assim, sem roupa alguma.

― Você não sabe bater não? ― Ele grita, se cobrindo com a coberta.

― Eu bati... ― Olho para ele

― Tanto faz... ― Ele se senta. ― O que você quer Leonardo?

― Te avisar que estou saindo.

― E o que eu tenho com isso?

― A mãe não pode ficar sozinha... ― Eu ainda estava parado na porta.

― Eu não posso parar minha vida por conta dela.

― Eu não estou pedindo para você ficar o dia inteiro com ela Leornã, porque eu sei que você não dá a mínima. ― O encaro. ― Só chame a Larissa caso for sair. Você pode fazer pelo menos isso?

― Liga para ela. ― Ele não dava a mínima para o que estava acontecendo, ou fingia muito bem não se importar.

― Não custa nada você gritar no portão quando estiver descendo o morro para fazer sabe-se lá o que da sua vida. ― Começo a me estressar.

― Vai tomar no seu cu Leonardo! ― Ele grita.

― Eu vou deixar isso para você, já que aparentemente é o seu trabalho! ― Grito.

― Olha aqui... ― Ele se levanta da cama. ― O que eu faço da minha vida não é da sua conta!

― É da minha conta quando você chega em casa todo cheio de chupões... A cor da sua pele não esconde as coisas que você faz na rua.

― Do que você está falando?

― Das marcas no seu pescoço... ― Aponto para o pescoço dele. ― Às vezes eu acho que você faz de propósito.

― Vai se fuder! ― Ele grita. ― Você não sabe de nada da minha vida!

― Não sei? ― Começo a rir. ― Não seja idiota Leornã. Você acha que faz tudo escondido? Metade da favela sabe o que você apronta pela na rua.

― Não estou nem aí para o que eles falam de mim!

― Sei que te aceitar não foi problema para a mãe, muito menos para mim, até porque, ela me aceitou de boa quando conversei com ela, mas aceitar o que o povo está dizendo a seu respeito? Isso é complicado...

― Sai do meu quarto!

― Grita mais alto e acorda a mãe! ― Grito com ele. ― Ela está cansada!

― Eu grito a hora que eu quiser! ― Ele me afronta.

― Você nem se deu ao trabalho de perguntar como a mãe estava depois da última sessão e ainda se acha no direito de acordar ela?

Conflitos InterpessoaisOnde histórias criam vida. Descubra agora