Capítulo 03

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Ela mantinha um sorriso enorme no rosto, sempre olhando para os lados, conversando com suas companheiras de quarto, mas eu podia ver em seus olhos que ela estava com medo.

Não era a sua primeira sessão, muito pelo contrário. Ela já trava essa luta há algumas semanas, desde que descobriu seu diagnostico após um desmaio no seu local de trabalho, e desde então, as coisas não têm sido fáceis para minha velha.

Eu a via jogar conversar fora enquanto o médico cutucava seu braço direito com uma agulha enorme, e se eu estivesse em seu lugar, não sei se estaria descontraído como ela se encontrava naquele momento, porque meu pavor de agulhas é enorme.

A ouvir falar sobre os seus dias deitada em sua cama era um pouco mórbido, mas ela tratava disso com tamanha tranquilidade que eu não me via no direito de questionar ou reclamar do que ela falava, até porque, não era eu a pessoa com problemas de saúde, e para falar a verdade, naquela sala eu era um dos poucos que não tinha nada.

A dona Margarete estava lá, com sua filha de companhia. As duas pareciam ter visto algum tipo de ritual satânico levando em consideração a expressão em seus rostos. Carlos, que parecia ser o mais novo de todos ali, inclusive mais novo que eu, já estava apagado, e ao seu lado estava o Diogo. Os dois se comportavam como meros amigos, me vendo a cumplicidade entre os dois, o nível de relacionamento entre eles não parava na amizade, até porque, em um relacionamento você deve ser amigo de quem está ao seu lado.

Havia outros e outras ali, naquele mesmo quarto grande, juntos com minha mãe, comigo, e nem todos eu conhecia. A única coisa da qual eu tinha certeza era o motivo de estarem deitados com tubos transparentes saindo de seus braços.

― Leonardo... ― Eu escuto alguém me chamando de longe, mas demoro a responder.

― Oi mãe.

― Está tudo bem? ― Ela me encara.

― Está sim. ― Sorrio, escondendo o meu medo.

― Tem certeza? ― Ela indaga.

― Mas é claro. ― Sorrio outra vez.

― Tudo bem... ― Ela volta a conversar com algumas de suas conhecidas.

Quando o médico começa a tirar sua pressão e medir seus sinais vitais, eu a vejo se contrair um pouco na poltrona em que ela estava sentada. O homem a tranquiliza, fazendo com que todo o exame fosse rápido e indolor, e então ele se vai.

Alguns minutos depois ele volta, trazendo consigo os equipamentos necessários e os remédios para a injeção intravenosa. Ele se acomoda perto da minha mãe com uma agulha e um tubo de borracha transparente, e assim que ele fura uma de suas veias, ela se encosta na poltrona e fecha os olhos, sentindo um leve desconforto. O médico então pendura o saquinho com o remédio no suporte de metal e regula a dosagem.

Seus olhos então não se abrem mais. A vejo ali, respirando vagarosamente, como se não precisasse de ar. Era quase como se ela estivesse morta, e esse pensamento faz meu corpo tremer.

Alguns minutos depois, quando percebo que ela estava dormindo, me levanto daquela cadeira desconfortável e vou ao banheiro. Chegando lá, uso o vaso e então lavo minhas mãos e meu rosto. Olho o meu reflexo no espelho e a única coisa que consigo enxergar é preocupação. Há meses eu não tenho um momento tranquilo onde eu possa aproveitar os prazeres da vida e descansar. Não estou reclamando e dizendo que minha vida está horrível, mas às vezes eu sinto aquela necessidade de estar sozinho, de ter um momento para mim mesmo, mas esse momento nunca chega, e provavelmente não irá aparecer tão cedo, não com a doença da minha mãe e a minha dívida com aquele filho da puta infeliz.

Conflitos InterpessoaisOnde histórias criam vida. Descubra agora