Jão 3/7

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O saco preto estava sobre a mesa de madeira. Eu o encarava há alguns minutos, tentando assimilar o que estava acontecendo. Os trezentos mil reais que apareceram na porta da casa continham um bilhete, e nele havia um recado, uma ordem para que eu fechasse as minhas operações na favela, para que eu desistisse de meus planos, que eu ainda poderia ter uma vida normal. Eu sorri ao encarar aquelas palavras feitas por um computador enquanto Luan olhava para mim, tentando decifrar o que se passava em minha cabeça.

— E ai? — Ele pergunta.

— Estou desapontado. Não achei que eu fosse tão barato. — O encaro.

— Você sabe que isso é problema, provavelmente de outros fabricantes.

— Eu sei. Querem me colocar medo, mas não funcionou.

— Você sabe de quem pode ser?

— Não, mas alguém aqui em cima sabe, já que forneceram a eles o privilégio de saber onde as nossas instalações ficam.

— Não somos grandes, mas somos uma ameaça. Nosso produto é bom.

— Por isso querem eliminar a concorrência. — Sorrio. — Espalhe a notícia. Diga que não aceitarei a proposta, e que se quiserem tanto o meu posto, que venham tomar. — Empurro o saco para Luan. — Queime na rua, na frente de todos.

— O que? — Ele se levanta, surpreso.

— Caguei Luan. Dinheiro não é tudo. Eu lutei muito para colocar esse morro em ordem depois do que aquele desgraçado fez, e eu não arredo o pé para alguém que eu não conheço. Querem que eu ceda o meu lugar, mas o que me garante que as coisas permanecerão calmas?

— Mas Jão...

— Sem mais. Faça a porra de uma fogueira, reúna todos, passe meu recado e jogue a merda desse dinheiro no fogo. A notícia vai chegar até eles. Além do mais, nem todo o dinheiro ai dentro é verdadeiro.

— Não? — Ele pergunta, incrédulo.

— Não. As texturas das notas são diferentes entre si. Presumo que metade seja falsa. Os filhos da puta ainda tiveram a coragem de me enganar.

— Tudo bem. — Ele pega a bolsa e a coloca no ombro. — Vamos fazer fumaça. — Ele sorri.

— E se prepare. Não confie nos novatos, já que os problemas iniciaram com a chegada deles. Reúna Paulo, Cipó, Jonas, Vitão e Chico. Diga para ficarem de olho nas entradas da favela, e que estejam armados durante as próximas horas.

— Tudo bem. E você?

— Eu ficarei aqui, a espera deles. Se tentarem alguma gracinha, manda os meninos descerem bala em todos, mas se tentarem subir em paz, deixem com que entrem.

— Tem certeza?

— Sim.

— E o que pretende fazer?

— Os filhos da puta resolveram dar as caras justo hoje, quando eu precisava sair. Comprei roupa nova pra ficar com o rabo sentado na porra dessa cadeira a espera de bandido, então o que eu pretendo fazer é ficar puto pra caralho.

— Ok chefe... Vou fazer o que pediu e aguardar com os caras.

— Vou fazer uma ligação. Feche a porta.

Filhos da puta do caralho. Eu sabia que havia alguém de olho, um dos caras novos a espreita de minhas coisas, dos meus produtos, mas sabe quando você está calejado de tanta merda que passa a acreditar e que você conspira contra tudo? Eu achei que eu estava conspirando, mas acontece que eu realmente deveria confiar em meus olhos. Alguém me vigiava e passava informações para outro grupo, e pra falar a verdade, eu pouco me importava com o culpado, eu só queria tirar esses desgraçados da minha cola.

Conflitos InterpessoaisOnde histórias criam vida. Descubra agora