Carlos não tirava o sorriso do rosto. Desde que havíamos chegado, há menos de uma hora, que ele não parava de sorrir e de me dizer o quão feliz estava por eu ter aceitado ir morar com ele, e mesmo entre sorrisos, eu ainda sentia uma barreira nos separando, me impedindo de dar o próximo passo.
Há conversa que tive com Samuel mais cedo havia me ajudado, muito, e apesar de eu ter desarmado algumas de minhas armadilhas, algumas ainda me mantinham presos de ponta a cabeça, me impossibilitando de agir, de seguir em frente e finalmente ser livre. Eu precisava disso o quanto antes.
Fiquei só por um momento, quando Carlos saiu da sala para atender uma ligação importante do trabalho, e então observei tudo ao meu redor. Eu havia vindo aqui poucas vezes, meu medo geralmente não me deixava pisar nesse solo frio, feito de tacos reluzentes. Minhas preocupações me deixavam presos em meus pesadelos noturnos, então geralmente eu não vinha, inventava alguma desculpa, e quando ele sentia saudades, ia até a casa de Asafe, mesmo que para me ver por alguns minutos, antes de eu me envergonhar e arrumar alguma forma de correr, mas agora eu não correria, eu estava cansado de andar rápido demais.
— Me perdoa — Ele volta, aflito. — Eu preciso ir.
— Tudo bem. — Sorrio.
— Eu havia planejado o dia para gente, te ajudaria a arrumar suas coisas, mas apareceu uma emergência.
— Eu entendo. Não se preocupe. — O encaro, vendo Carlos murchar um pouco.
— Eu — Ele coça a cabeça. — Eu preparei um quarto para você — Não vejo seus olhos nos meus. — É simples, mas está limpinho e organizado.
— Carlos — Eu não sabia o que dizer.
— Eu tomei a liberdade de comprar um guarda-roupas e uma mesa. Há um móvel ao lado da cama com um abajur, pode usar também, tirei um do meu quarto e deixei lá.
— Você não precisava
— Quero que você se sinta confortável e — Ele olha o telefone chamando mais uma vez. — Volto a noite tá bem. Preparo algo para comermos, ou podemos pedir comida. — Ele diz do quarto, provavelmente frente ao seu cofre, onde sua arma ficava trancada. — Por favor, se sinta em casa. — Carlos coloca sua arma no coldre em sua cintura e se aproxima mais de mim, me dando um abraço desajeitado. — Até mais tarde Elias.
— Até — Digo quando ele já saia pela porta.
Era minha culpa. Carlos não sabia se comportar diante de mim, não conseguia ser ele mesmo por vergonha, por medo de que eu fuja outra vez, que eu ignore seus abraços, que eu encerre um beijo por ter ficado com a cabeça quente. Ele preparou outro quarto para mim para que eu ficasse a vontade, e saber disso, saber que ele teve todo esse trabalho sem esperar nada em troca me deixou aflito.
Tínhamos um relacionamento, torto, mas era um. Carlos não saia com outras pessoas, eu sabia disso, ele me disse. Sei que ele deve estar carente, que deve estar sentindo falta de contato mais íntimo, e eu, há alguns meses, tentei dar isso a ele, mas mais uma vez, fugi, e ele, novamente, foi extremamente compreensível e paciente, como sempre era nos momentos em que me afastava de seus toques.
Eu tinha um quarto só para mim, mas de repente eu não queria privacidade. Eu não precisava de um lugar só para mim, não hoje, não neste momento. Eu precisava apenas de mostrar a Carlos que eu estava disposto a tentar, que não iria mais fugir dele, que entregaria minha mente, corpo e alma para esse homem que só fez me ajudar desde que entrou em minha vida, e que mesmo quando eu estava preso, nunca me julgou e me olhou com olhos tortos. Carlos sempre foi um homem incrível, e merecia que eu fosse com ele o que ele era comigo, e por isso tomei a decisão de não entrar naquele quarto que ele havia preparado.
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Conflitos Interpessoais
عاطفيةLeonardo teve tudo o que queria sendo braço direito de quem comandava a favela, mas a doença de sua mãe o trouxe de volta a realidade, lhe obrigando a iniciar uma nova vida. O racismo se torna constante logo nos primeiros dias, e lidar com essa ques...