ALERTA DE GATILHO
A primeira coisa que fiz ao levantar foi coar um café e comer alguma coisa antes de ir para o serviço. Quando fui abrir a porta da geladeira para pegar uma bandeja de presunto e queijo, vi o calendário de datas da ida de minha mãe ao hospital, e quando notei que o dia da próxima sessão era hoje, larguei tudo o que eu estava fazendo e fui até o quarto dela a acordar.
― Mãe... ― Balanço ela.
― Que foi menino... ― Ela estreita os olhos para mim.
― Você está lembrando da consulta?
― É depois de amanhã... ― Ela vira para lado.
― É hoje dona Luzia.
― Sério?
― Sim, sério.
― Eu esqueci meu filho. Estou tão bem esses dias que acabei não me lembrando disso... ― Ela se levanta e se senta no colchão.
― A consulta é em três horas.
― Eu vou tomar um banho e descer de ônibus.
― E como a senhora vai voltar depois? Você sabe como fica depois da sessão, não dá conta nem de manter os olhos abertos.
― Mas eu estou melhor, eu juro.
― Eu sei que está melhor, mas pode voltar de lá mais fraca, então não quero correr o risco de acontecer alguma coisa com você no meio da rua.
― Nossa, eu também não sou uma inválida. ― Ela me repreende.
― Já começou a chatice. ― Sorrio. ― Só dá um jeito de levantar e se arrumar que vou arranjar alguém para te levar até lá.
― Tudo bem. ― Ela se deita de novo.
― Mãe, larga a mão de ser preguiçosa e levanta dessa cama.
― Só mais dez minutos... ― Ela se cobre.
― Trabalhou a noite toda ontem com as mulheres lá em baixo? Porque está parecendo. — Solto um sorriso.
― Vai cagar Leonardo! ― Ela grita e se levanta. ― Tá querendo perder os dentes da frente?
― Eu não. ― Começo a rir. ― A senhora não fez nada nesses últimos dias e está querendo mais dez minutos na cama... Preguiçosa...
― Já trabalhei muito nessa vida. Se não fosse esse governo explorador eu já tinha me aposentado.
― Eu sei dona Luzia, mas larga a mão de reclamar e vai tomar seu banho.
― Tá. ― Ela se coloca de pé. ― Tá parecendo sua vó, que Deus a tenha... ― Ela faz sinal da cruz.
― Sinal de que estou te colocando na linha. ― Começo a rir outra vez.
― Some daqui Leonardo! ― Ela me joga um travesseiro.
― E toma banho direito hein, vai que arruma um pretendente lá no hospital...
― Me respeita! ― Ela ri.
― Agora vou terminar de me vestir e arrumar uma carona para você.
― Tá bom. Obrigado filho.
― De nada mãe.
Como eu não podia levar minha mãe ao hospital, já que pegava serviço uma hora antes de sua consulta e eu não estava em condições de ficar pedindo folga no serviço, a primeira pessoa que tratei de buscar ajuda foi meu irmão, que por mais que tivesse deixado bem claro que não queria ajudar, isso ainda era obrigação dele, mas assim que abri a porta do quarto, me deparei com a cama vazia. Provavelmente tinha passado a noite na rua.
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Conflitos Interpessoais
RomanceLeonardo teve tudo o que queria sendo braço direito de quem comandava a favela, mas a doença de sua mãe o trouxe de volta a realidade, lhe obrigando a iniciar uma nova vida. O racismo se torna constante logo nos primeiros dias, e lidar com essa ques...