Sangue do Patriarca

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O armazém ficava na saída da cidade, por isso era cercado de árvores, o grupo se aproveitou disso para se esconder enquanto analisavam o local. A construção tinha um teto alto, paredes de tijolo, nenhuma janela, apenas uma porta de madeira que estava sendo guardada por dois homens.

-Que lugar mais suspeito.

Jingyi comentou vendo apenas duas pessoas na entrada do lugar todo fechado.

-Onde será que estão os outros?

Hen perguntou também, tirando a bússola do pai de dentro das vestes e abrindo. O ponteiro apontava diretamente para o prédio a frente deles.

-Devem estar lá dentro se preparando para abrir o caixão, vamos subir no telhado e tentar ver o que estão fazendo.

Sizhui sugeriu guiando o grupo para a parte de trás do prédio e dando um pulo gracioso para pousar no telhado do armazém. Os demais não sabiam ser tão graciosos, então Jingyi deu uma mão para que todos conseguissem subir. Guangli foi a última e escorregou nas telhas soltas, mas foi segurada por Yan e Yu, Jingyi pegou a telha antes que quebrasse no chão e pulou também para se unir a eles.

Sizhui afastou algumas telhas, abrindo um buraco para eles verem a parte de dentro, o caixão realmente estava lá, mas a tampa ainda estava fechada, vários homens trabalhavam em volta dele, provavelmente tentando quebrar o selo.

-Quanto tempo vai levar?

Um dos homens que apenas observava perguntou, suas roupas eram muito parecidas com a de Gusu, mas suas maneiras deixavam claro que não era membro da seita.

-Ele é um dos anciões da família Su.

Yu informou aos demais assim que o reconheceu, eles realmente estavam por trás de tudo aquilo.

-Nós ainda não sabemos senhor, o selo é muito forte, foi feito pelo próprio patriarca.

Um dos homens respondeu. Sizhui tirou um talismã das vestes e cortou o dedo nele, sujando o papel de sangue, o talismã tomou a forma de um pássaro e saiu voando.

-Vamos sair daqui.

Já tinham visto o bastante e não sabiam o nível de cultivo das pessoas dentro do armazém, podia ser perigoso se meter em uma briga naquele momento estando com os irmãos e as primas mais novas.

Sizhui colocou as telhas de volta e se preparou para pular do telhado, mas ouviu o barulho de algo rachando, ninguém sabia o que era, então eles ficaram muito quietos e parados, até o telhado embaixo de Hen ceder completamente e ele cair.

-HEN.

Yan gritou se curvando sobre o buraco e esticando a mão para o irmão, mas era tarde demais. O menino caiu bem em cima da tampa do caixão fazendo uma rachadura, bateu com tanta força que não conseguia se mover direito e estava um pouco tonto, levou a mão a cabeça, sentindo o sangue escorrer e depois a abaixou novamente, colocando-a sobre a rachadura.

Uma luz vermelha começou a brilhar pela rachadura e prevendo o pior, Sizhui pulou pelo buraco e pegou o irmão no colo, carregando-o para longe da tampa do caixão que explodiu em seguida. Ele cobriu a si mesmo e o irmão com a manga do hanfu, impedindo que fossem atingidos pelos escombros, depois olhou para cima pelo buraco.

-Jingyi, tire eles daqui.

Sizhui ordenou, mas ao invés de correr, Yu e Yan pularam pelo buraco no telhado também e se posicionaram na frente deles. O Lan mais velho estava carregando Hen nos braços, ele não teria como se defender, mas por incrível que pareça ninguém os estava atacando, a atenção de todos estava no selo quebrado.

-Nós tentamos quebrar o selo com sangue antes, mas não deu certo, era isso que faltava, o sangue do patriarca.

Julgando pelo que falaram eles já sabiam quem eram as crianças, mas realmente era de se esperar, considerando as vestes de Gusu e a habilidade de estar onde o caos está, herdada dos pais.

-Rápido, comecem os preparativos e capturem as crianças, não necessariamente vivas.

O ancião do clã Su ordenou se afastando do caixão, ele olhou na direção de Yu e deu um sorriso amarelo, a menina fingiu que não entendeu e tirou a espada da bainha. Sem outra escolha, Jingyi e Mingji também pularam para ajudar a família. Um dos homens que parecia estar no comando pegou uma flauta e começou a tocar, a melodia chamou a atenção de Sizhui, era a mesma que seu pai tocava quando tentava controlar um cadáver ressentido.

-Todos para a saída.

O mais velho ordenou, não poderiam escapar se conseguissem invocar os cadáveres de dentro do caixão, então aquela era a sua única chance. No entanto, antes mesmo que alcançassem a porta o primeiro corpo se ergueu de dentro do caixão e Yu sentiu todo o ar deixar seus pulmões, as pupilas dilataram de medo e suas pernas falharam, fazendo com que caísse no chão de joelhos.

-Yu.

Guangli chamou preocupada e se ajoelhou ao lado dela, abraçando a irmã para que não visse o pai naquele estado. O corpo estava conservado pela energia ressentida, mas a pele havia se tornado cinza e o rosto estava congelado em uma espécie de grito eterno com a boca aberta, os olhos já não existiam, deixando apenas as orbitas negras vazias e somente a pele cobria os ossos, as vestes de Lanling estavam rasgadas e manchadas de sangue.

-Papai.

A menina conseguiu balbuciar enquanto chorava contra o peito da irmã que a impedia de ver aquela pessoa.

-Não é ele que eu quero.

O ancião reclama olhando para o homem que tocava a flauta, seu objetivo era controlar o cadáver feroz mais poderoso que já foi criado, Nie Mingjue. Quem tocava a flauta parou por um momento.

-Eu sei, mas como eu disse o outro é mais difícil de controlar, deixa esse ai cuidar das crianças enquanto isso.

Ele voltou a tocar em seguida para tentar controlar o cadáver de Mingjue, era possível ver algo se movimentando no caixão, mas ainda não tinha saído. O corpo de Yao se arrastou para fora, vindo na direção das crianças com os braços esticados.

-Jingyi.

Sizhui chamou o irmão e entregou Hen nos braços dele para que corresse na frente.

-Eu vou criar uma abertura para você, tire eles daqui.

O fruto do nosso amor - XiyaoOnde histórias criam vida. Descubra agora