32. Olhares Cheios de Siginificados

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Quinta-feira, 10 de setembro de 2020.
 
  Nos sentamos na minha cama e Dona Dalji abriu a carta mais antiga entre todas as outras, após observar a mesma por um período curto de tempo, ela respirou fundo e começou a ler em voz alta:

  – "Eu sinto saudades, meu amor. Tanta, que é até difícil descrever…" - Tinha muito mais, porém ela parou de ler e nos encarou. - Marlon Leblanc, era um membro do exército Francês, na época dessas cartas a França ainda estava em guerra. Antes de tudo isso começar, ele e a família dele haviam viajado para cá  para Londres, apenas para conhecer a cidade, e também para extravasar a agonia de ter que mandar o seu único filho homem para o exército. Em um certo dia de festividades, o Marlon avistou a mulher mais bela do mundo, e obviamente, foi tirá-la para dançar. A mulher se apresentou relutante no começo, porém, também já havia se encantado pelo belo rapaz, então acabou cedendo.

  – E no caso a bela moça, é minha avó??

  – Exato. Eles se viam todos os dias, haviam se apaixonado à primeira vista, porém ela sabia que ele iria embora, e ele tinha noção de que poderia não voltar nunca mais. Ele foi embora dentro de poucas semanas, entrou para o exército, e nessa mesma época a França estava passando por um momento conturbado; então ele teve de entrar em ação já que era membro da proteção do país. Sua avó sabia que ele não iria voltar, então ela se obrigou a conhecer outras pessoas, foi aí que ela conheceu seu avô. Mas ela não via em nenhum homem a bondade, o carisma, a educação que ela via em Marlon. Eles vinham mandando essas cartas desde a partida dele para a França, era o único meio de comunicação entre eles estando tão perto, mas ainda assim tão distantes.

  O Ethan encarou as cartas ainda assimilando as informações:

  – E onde ele está? Ele ainda está vivo?

  – Mesmo depois de ser obrigada a se casar, sua avó continuou mandando as cartas a ele, porém dessa vez ela não obtinha mais respostas. Ela passou muitos anos enviando cartas e mais cartas e nenhuma delas era correspondida, e então ela começou a adoecer. Até que um dia, ela recebeu uma carta ao qual o remetente era o exército francês. Nessa, dizia que ele havia morrido na guerra há muitos anos atrás, a dor da sua vó foi tanta que ela veio a piorar, e não muito depois nos deixou.

  – Então… Ela morreu por causa dele?

  – Veja bem meu pequeno. Não foi por causa dele…

  – É claro que foi! - Ele levantou rápido enquanto alterava o tom de voz. - Porque ele correspondeu as cartas dela desde o começo, se sabia que poderia morrer na guerra?!

  – Porque ele a amava.

  Eu observava tudo calada. Não acreditava que dizer algo naquele momento, seria o certo. 

  – Amava?! Se ele amasse ela teria percebido desde o início que enviar essas cartas era uma burrada! Ele já tinha receio de que iria morrer na guerra. Por que continuou com essa ideia maluca de continuar um romance a distância? E porque ela não me contou?!

  – Você era muito pequeno, não iria entender.

  – Como as cartas dele vieram parar aqui? Ele não estava na França?

  – Antes de vir a óbito, a sua avó pediu que a família dele encontrasse uma caixinha parecida com essa, e enviasse para ela, e quando as mesmas chegaram ela guardou todas as cartinhas dele junto com as dela, e pediu que eu trouxesse pra cá e guardasse na estante.

   Ele ficou na frente da porta que levava à varanda, e depois de alguns minutos em silêncio olhando para o horizonte, ele falou:

  – A gente sabia que ela estava doente, mas não tínhamos noção do motivo. Era por causa disso? Um amor? Por causa do amor ela me deixou sozinho no momento que eu mais precisei dela? - O mesmo ainda estava com uma das cartas em mão. Arrebatado pela raiva ele amassou o papel e jogou no chão.

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