46. Ir Embora

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Sábado, 26 de novembro de 2020.

  Eu não tinha pregado o olho naquela noite, na verdade como eu poderia?

  Culpa, dor e lágrimas me perturbaram a noite toda, e como não consegui dormir empacotei minhas coisas e passei todo meu tempo tomando café, esperando que a cafeína fizesse efeito com medo de ser levada pelo sono e torturada por pesadelos e cenas sangrentas.

  O Anthony me liberou do caso, o que foi bom. Eu não iria conseguir lidar com a correria atrás do Ethan que estava foragido, ainda mais depois de ter perdido alguém tão próximo. Para as pessoas que viam de fora poderia parecer até mesmo falso todo o meu sofrimento, mas o Ryan realmente tinha sido um ombro amigo em muitos dos meus piores momentos, eu não conseguiria seguir aquela missão nem que me pagassem bilhões, então era melhor que os outros seis agentes tomassem as rédeas à partir dali.

  Eu iria pegar um vôo de volta para Nova Iorque às 13:00 hora da tarde, estava sentada na ponta da minha, agora, antiga cama observando o céu escuro e cinzento de Westminster, esperando que um pouco de luz pudesse iluminar o dia, e talvez, só talvez eu pudesse ter os meus momentos bons de volta.

  E pensar que a 28 dias atrás eu havia chegado em Westminster louca para que aquela missão acabasse logo, para que eu pudesse voltar para minha casa. Eu queria acabar logo com aquela missão que tinha tirado todas as subdivisões da FC dos eixos por dois anos, e olha pra mim agora! Me apaixonei pelo meu alvo, meu parceiro estava morto e eu estava indo embora sem ter completado uma missão. Se tivessem me contado uma coisa dessas, eu nunca acreditaria que poderia alcançar tamanha derrota.

  Naquele exato momento o helicóptero que havia levado o corpo do Ryan, já deveria estar chegando em Nova York para o funeral que iria ocorrer no domingo às 10 horas da manhã.

  O corpo da Maya que havia sido jogado de tamanha altura, causou alvoroço nas pessoas que andavam tranquilamente pelas ruas lá em baixo, além de causar problemas a equipe que teve de encontrar uma explicação falsa que não se assemelhasse a uma história absurda.

  Quando eu perguntei ao Anthony o que ele estava fazendo ali, ele disse que o próprio Ethan tinha mandado uma mensagem para todos os agentes da corporação, e dito que era o verdadeiro serial killer, e além disso ameaçou todos dizendo que estava comigo.
 
"E VOLTAMOS A MIM! Porque tudo isso era culpa minha!"

  Fui despertada dos meus devaneios quando a porta do quarto foi aberta:

  – Oi, Clover.

  – Enzo? Você deve ser um dos agentes que ficou encarregado do caso, não é? - Eu poderia ficar brava pela presença dele, já que eu ainda não o havia perdoado por toda a bagunça que ele havia causado na minha família; mais em um momento como aquele, esquentar a cabeça não iria adiantar de nada.

  – Sim. O Anthony teve um imprevisto, problemas com uma outra missão, e teve de voltar para Nova York às duas horas da manhã, não poderá te levar de volta então solicitou que eu o fizesse.

  – Não se preocupa com isso, eu posso ir sozinha se for te atrapalhar.

  – Não vai. E se eu negar, o Anthony volta aqui apenas pra me castrar. - Ele sorriu mas eu não consegui corresponder com um gesto nem mesmo parecido. Ele me encarou por alguns segundos enquanto eu olhava para as janelas e se aproximou, se sentando ao meu lado. - Meu pêsames. Eu nem sabia que você era tão próxima assim do agente Maison, mas vai passar. 

  Olhei para ele e tentei demonstrar um sorriso gentil. Ficamos em silêncio por um bom tempo até ele voltar a me olhar:

 – Eu sei que agora não é uma boa hora, mas, eu queria me desculpar por tudo o que aconteceu com seu pai. - Fiquei pensando por um tempo antes de encarar o mesmo.

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