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AMANDA

Era como se eu estivesse vivendo um pesadelo terrível e eu simplesmente não conseguia falar com ninguém, apenas respondi Mari dizendo que ficaria tudo bem que eu estava bem e que ela não precisava se preocupar, bloqueei o número do Gabriel porque de fato eu precisava me recompor e se eu fosse falar com ele iria xingá-lo e dizer coisas que do fundo do meu coração eu não queria.

A minha vida precisava continuar querendo ou não, tomei um banho demorado e saí enrolada na toalha enquanto escolhia uma roupa. Me vesti e peguei a minha bolsa, precisava resolver algumas coisas na boate e a noite resolveria a minha vida. Cheguei na boate e continuei de óculos de sol, meu rosto estava tão inchado e queria evitar qualquer tipo de perguntas. Quando virei o corredor para ir até a minha sala, Lara saiu do quarto dela dando de cara comigo e meu óculos escorregou quando abaixei a cabeça e seu olhar foi de encontro ao meu.

Lara: desculpe Mandy -ela falou gentil e seus olhos focaram nos meus- está tudo bem?

Amanda: Sim -forcei um sorriso- e não foi nada.

Lara: eu precisava falar com você, mas... -ela suspirou e ficou sem graça- nos falamos depois, tudo bem.

Amanda: Não magina, é algo relacionado a noite de hoje? -ela afirmou com a cabeça- você consegue passar na minha sala daqui -olhei o relógio em meu pulso- 2 horas? Tenho algumas coisas pra fazer e depois fico livre.

Lara: claro, e se precisar de algo estou à disposição.

Amanda: obrigada Lara -abri um sorriso-

Entrei na minha sala e fechei a porta atrás de mim e soltei um longo suspiro, que dor maldita eu estava sentindo, que sensação horrível de não saber o que fazer. Eu sempre planejei tudo na minha vida, eu sempre mantive o controle das coisas, dos meus atos, das minhas atitudes, do que acontecia ou deixava de acontecer, mas agora? Foram 2 surpresas completamente diferente do que eu já imaginei.

Liguei o computador e a primeira coisa que apareceu foi a nossa foto na tela de descanso e ri de nervoso, e a lembrança daquele dia veio tão forte, nós dois em uma praia deserta na nossa primeira viagem, com um tripé e milhares de fotos, tudo escondido porque só o Gustavo sabia de fato o que acontecia entre nós e aquele frio na barriga tão gostoso, balancei a cabeça negando e fui imediatamente trocar.

Fiz o pagamento de todos os funcionários e olha que não era pouco, quando o assunto é trabalho eu me desdobro em mil, faço a minha cabeça funcionar de um jeito ou de outro e hoje não foi diferente, Marcos não me escolheu atoa.

Em todas as salas tinha o cantinho das bebidas, peguei um copo colocando algumas pedras de gelos e despejei whisky, o primeiro gole foi leve, devagar, senti queimar na minha garganta e respirei fundo e repeti isso com mais 4 doses de um copo cheio.

Enchi mais um e fui para a minha mesa, me sentei e liguei meu celular outra vez e foram chuvas de mensagens, ela chegava uma atrás da outra e todas de Gabriel.

"Me perdoa por favor, você é a mulher da minha vida"

"Porra Amanda, eu sou um merda!! eu entendo se você não quiser mais nem olhar na minha cara, só me responde por favor"

"Comprei uma passagem para o Brasil, eu chego amanhã, por favor fala comigo"

Desliguei o celular outra vez, pra mim basta eu não queria vê-lo, eu não queria conversar, eu não queria compreender o que se passa na cabeça dele e muito menos ouvir que está abalado pelo o que aconteceu.

Abri a gavetinha da minha mesa e peguei um Rivotril que Mari havia deixado comigo se caso desse alguma crise de ansiedade ou algo do tipo, é como se ela estivesse prevendo o que iria acontecer. Coloquei o mesmo na boca e virei com o whisky.

2 horas depois...

A minha boca estava completamente dormente, amarga e haviam 2 tubinhos no meu nariz com oxigenação, meus olhos arregalaram e senti vontade de gritar até ver Igor ao meu lado na maca, e uma enfermeira aparecer e logo atrás a Dra Érica.

Érica: calma, vamos te tirar do oxigênio -ela falou baixo e me olhando nos olhos, assenti que sim com a cabeça-

Consegui respirar aliviada quando tiraram aquilo de mim, minha cabeça estava latejando de dor e eu tentava entender o porquê Igor estar ali, ele me olhava desconfiado e senti um frio na espinha.

Amanda: o que houve?

Érica: você acabou misturando medicamento tarja preta com bebida alcoólica e o Igor -ela desviou o olhar para ele, o mesmo assentiu- te trouxe rapidamente para a emergência-

Amanda: podemos ficar a sós, por favor? -olhei para Igor-

Igor: claro, Lara avisou Gustavo então vou sair e ligar pra ele -eu assenti e observei quando ele saiu e fechou a porta, desviei o olhar para a Dra-

Amanda: ele está bem? -repousei a mão na minha barriga e ela estava séria, sua cabeça balançou negativamente e engoli um nó na garganta e algumas lágrimas escaparam- eu fiz isso né? Foi minha culpa, eu já queria, tudo bem mas -balancei a cabeça e ela se aproximou da maca-

Érica: calma -sua mão tocou a minha e com a outra sequei as lágrimas que escorriam sem parar- você teve uma anomalia estrutural o que é muito comum no começo da gravidez, acaba acontecendo e o bebe não se desenvolve -ela fez uma pausa- como não deu tempo de você fazer os exames que te passei era impossível de descobrirmos isso.

Amanda: e eu bebi, bebi algumas doses de whisky e depois tomei um rivotril forte achando que iria me acalmar, que fosse acalmar o meu coração -minha voz ficou embargada e a cara de pena de Érica para mim era nítido-

Érica: eu sinto muito Amanda -seus dedos acariciaram minha mão- irei receitar alguns medicamentos para você e peço que passe ao psicólogo é muito importante acompanhar, e vamos fazer alguns exames para saber se você ainda pode ter filho, como está a sua saúde íntima -eu assenti-

Precisei ficar de repouso mais algumas horas até acontecer o aborto e ela disse que aquilo poderia ser doloroso e que era melhor eu ficar ali, apenas concordei e pedi para me deixarem sozinha, não queria Igor ali era algo tão íntimo, era algo tão meu e do Gabriel não queria ninguém ali. 

DENTRO DE VOCÊ | LIVRO 2 DA SÉRIE: EU DEPOIS DE VOCÊ Onde histórias criam vida. Descubra agora