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AMANDA

Comecei a sentir uma angústia enorme principalmente em ver Mari daquele jeito tão apreensiva, como se de fato tivesse acontecido alguma coisa. Depois que ela conseguiu falar com Yasmin, mulher do Ernesto, e ele ter falado que o celular havia sido hackeado desde a noite passada, ela entrou em desespero ainda mais.

1 hora depois...

Havíamos ligado para os meninos mas ninguém atendia, estava prestes a pegar o carro e sair sem rumo para procurar eles até Mari pegar a chave do carro e passar por mim pela sala.

Mari: não aguento mais ficar nenhum minuto aqui -ela arrumou a bolsa no ombro- você vem comigo?

Amanda: claro -levantei num pulo e peguei a minha bolsa, abrimos a porta e foi a pior cena que eu já tinha visto-

Gustavo estava abraçado com Gabriel em frente ao carro, sua roupa estava completamente suja de sangue e eles dois choravam muito, havia milhares de carros espalhados pelo condomínio, e Ernesto também estava lá e quando eles nos viram foi ainda pior.

Mari: cadê o Marcos? -sua voz fez eco, todos ficaram em um completo silêncio, um silêncio ensurdecedor- cadê o pai de vocês? -ela gritou e foi descendo os degraus até chegar onde eles estavam e fui atrás-

Gabriel me olhou e seus olhos estavam inchados de tanto chorar, ele balançou a cabeça negando enquanto as lágrimas caiam dos seus olhos. Gustavo apenas abriu os braços e abraçou a mãe que se debatia contra o seu peito e não precisaram falar mais nada, a resposta estava ali na nossa frente. Me aproximei de Gabriel e o mesmo estava com as duas mãos na cabeça balançando e chorando muito, puxei seu braço e ele enterrou o rosto em meu pescoço desabando em meus braços, não conseguia acreditar no que estava acontecendo.

1 semana depois...

Os dias estavam mais cinzas do que o normal, hoje completava 1 semana desde o atentado contra o Marcos e choveu todos os dias seguidos, como se o universo entendesse o quanto estamos sofrendo. Mari era a que mais tentava ser forte mas o rosto estava sempre inchado de tanto chorar, Gustavo estava tentando ao máximo, conversamos algumas vezes mas ele se fechou completamente, não deixou de ir para a boate nem 1 dia sequer, queria ficar ativo e mostrar para todos que estávamos firmes e que a organização vai continuar. Já Gabriel mudou da água para o vinho, ele não sorria, ele não brincava como sempre fez, estava sempre sério e seco, na dele e sem muito assunto. Mari tentava conversar, Gustavo, mas era em vão e ele tentou de todas as formas me afastar e se afundar nessa solidão mas sigo firme em não deixar.

Isso está me mostrando como o luto reflete diferente em cada pessoa, para umas é um pouco mais fácil de levar do que para outros, e é algo que será eterno dentro de cada um de nós.

Acordei após algumas horas de sono, Gabriel já não estava mais na cama, estava ficando com ele na mansão desde quando tudo aconteceu. Gustavo contou que Marcos se jogou completamente na frente dele para protegê-lo das balas e isso com certeza ficará marcado nele pra sempre, queria conseguir tirar tudo o que ele estava sentindo, queria que ele pudesse dividir comigo essa dor que não imagino como seja. Peguei meu celular e ainda eram 7h30 da manhã, depois de 1 semana o sol começou a aparecer, abri na conversa do Gabriel e havia uma mensagem dele.

📱 "Fui correr, e irei resolver algumas coisas qualquer coisa me liga."

Seco e distante como eu nunca vi durante 2 anos, senti um aperto no coração. Abri o meu aplicativo de controle menstrual e minha menstruação deveria ter vindo 2 dias atrás, ela nunca havia atrasado e sempre fazia tabelinha desde que comecei sério com Gabriel, parei meu anticoncepcional por causa das enxaquecas e mesmo assim ela seguia certinha. Abri minha bolsa e peguei o teste de gravidez, me tranquei no banheiro e fiz, coloquei o mesmo em cima da caixinha enquanto tirava a minha roupa para tomar um banho e coisa de segundos quando peguei ele na mão haviam 2 linhas bem fortes, e um enjoo forte atacou me fazendo vomitar até o que não tinha mais no estômago, era real, eu estava grávida mesmo.

20 minutos no banho, enquanto a água caia pela minha cabeça escorrendo pelo meu corpo todo aquele gosto amargo na minha boca, o enjoo continuava e o choro vinha sem parar. Coloquei as duas mãos na minha barriga que estava reta, e tentei lembrar quando aconteceu e que eu precisava ir em um médico urgente. Na verdade eu deveria contar para todos primeiro, talvez fosse o momento certo, uma esperança para a família.

Saí do banho e fui me trocar, olhei meu celular e nenhuma mensagem do Gabriel. Coloquei uma roupa e deixei o cabelo solto para secar sozinho e guardei o teste na minha bolsa, primeiro precisava ver como estava as coisas lá embaixo, quando cheguei na sala de estar Mari estava com Gustavo conversando e os dois me olharam, meu rosto ainda estava bem inchado, tentei disfarçar passando uma maquiagem leve mas tenho certeza de que foi em vão.

Amanda: bom dia meus amores -abri um sorriso e eles fizeram o mesmo retribuindo o meu bom dia, Mari bateu no sofá ao seu lado e me sentei-

Mari: Ontem a noite conversei com os meninos e queria falar com você também -ela respirou fundo e segurou a minha mão- decidi que vou passar um tempo em Londres.

Amanda: Não está cedo para ir e ficar lá sozinha? -apertei a mão dela suavemente e a mesma abriu um sorriso triste-

Mari: aqui tudo me lembra ele Mandy, desde a hora que me levanto até a hora de dormir e quando eu consigo dormir, o cheiro dele, as roupas -ela desviou o olhar para o teto e secou as lágrimas que escaparam- a vida precisa continuar mas por mim tudo isso acabava, esse império, essa vida que eles escolheram -ela olhou para Gustavo que estava com o olhar completamente perdido-

Gustavo: eu não posso mãe, eu preciso honrar o que ele nos deixou.

Mari: É justamente por isso, eu não teria forças de ver tudo aquilo acontecendo outra vez.

Gabriel: e não vai -ele passou pela porta e sua roupa estava com algumas gotas de sangue-

Gustavo: que porra você fez? 

DENTRO DE VOCÊ | LIVRO 2 DA SÉRIE: EU DEPOIS DE VOCÊ Onde histórias criam vida. Descubra agora