CAPÍTULO 18 | parte 1

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𝐀𝐌𝐄𝐋𝐈𝐄'𝐒 𝐏𝐎𝐈𝐍𝐓 𝐎𝐅 𝐕𝐈𝐄𝐖

Meu estômago roncava como nunca, mesmo não tendo condições boas, nunca passei fome.

Caminho lentamente até algumas árvores frutíferas enquanto sorria lentamente. Tinha noção que poderiam ser venenosas, mas aceitaria comer qualquer coisa.

Colho algumas frutas parecidas com mirtilos, coloco algumas na boca e fecho os olhos apreciando o sabor, eram azedas mas refrescantes o suficiente para me fazer ignorar a acidez presente ao final de minha língua.

Nunca gostei tanto de frutas, costumam ter um sabor que não me agrada, mas a fome seria capaz de me fazer delirar, então aqueles pequenos frutos me deixavam feliz.

Volto a caminhar ainda com frutas na mão, provavelmente iria as racionar até que encontrasse algum outro tipo de alimento.

Minhas pernas já estavam a bambear, não aguentaria caminhar mais, meu vestido já estava sujo e aos poucos rasgava entre as pedras e plantas da floresta. Me sento no chão recostando minhas costas em uma árvore e respiro fundo.

— Que os ancestrais me ajudem - digo já sem aguentar o cansaço enquanto fechava os olhos.

Meu corpo parecia pesar o dobro por conta do cansaço, meus joelhos pareciam falhar a cada passo, com certeza não fui criada para isso.

Estava tão cansada que poderia descansar ali mesmo.

Respiro fundo tentando começar a embalar em um sono prazeroso, mesmo que fosse difícil devido as condições.

Mesmo com fome, sono e frio, o lobo interior ainda existia em mim, ele tinha o ouvido aguçado, me fazendo escutar o som de galho quebrando ao longe, me levanto com rapidez enquanto tentava identificar o que seria.

Poderia ser um animal selvagem, faminto com certeza, ou algum homem, sendo sincera, prefiro o animal.

Novamente um som. Dessa vez mais alto.

Viro meu rosto com brutalidade enquanto me mantinha atenta, meu peito subia e descia com rapidez, aquele nervosismo acelerava meu coração e me deixava ofegante.

Não ficaria para ver o que seria.

Começo a correr como nunca antes, minhas pernas fraquejavam e o vestido prendia em galhos. Puxo a barra da vestimenta para cima facilitando minha fuga. Não ousava em tentar olhar para trás, minha visão se mantinha focada nas árvores enquanto tentava as desviar.

Percebo um rio ao longe e acelero cada vez meus passos, não penso duas vezes antes de entrar na água para o atravessar, todas as águas possuem riscos, peixes carnívoros, cobras, ou até mesmo animais saciando sua sede.

Corro com dificuldade pelas águas tentando chegar ao outro lado.

Ao cruzar a correnteza me seguro em uma árvore assustada. A corrida fez minha cabeça começar a rodar, aquela vertigem me deixava enjoada.

Minha visão começa a ficar turva e engulo em seco tentando me manter em pé.

Caminho ainda tonta enquanto respirava fundo, me apoiava dentre as árvores.

Acabo caindo fraca, bato a cabeça em uma pedra e solto um gemido baixo de dor.

Seria aquele meu fim? Morrer após correr de algo que nem ao menos tinha certeza se era algo perigoso, e bater a cabeça em uma pedra. Uma morte terrível em minha opinião.

Meu corpo parecia pesar o dobro por conta do cansaço e a dor, meus joelhos falhavam, estava incapacitada de levantar ou fazer algo semelhante, resmungo chorosa e respiro fundo.

Fecho meus olhos já sem escolha e me encolho com dor.

Acabo por embalar em um sono prazeroso me permitindo sonhar, ou receber um aviso.

Uma sala branca novamente, a tal que não entrava em contato fazia anos, parece que eu realmente precisava de ajuda.

— Quanto tempo querida - dizia Giulienné com seu lindo sorriso.

Corro até seu encontro e a abraço com força.

— Por que não apareceu antes? Preciso da sua ajuda, está tudo dando errado - pergunto com a voz abafada pelo abraço.

— Sei o que está passando, lamento pela morte de Edmundo, entendo que seu coração jovem está sofrendo com isso, mas precisa ser forte - a mulher me responde enquanto segurava meu rosto com cuidado.

— Acabei de deixar minha família, não quero ser forte - resmungo sentindo meus olhos se encherem de lágrimas.

— Entendo querida, mas preciso que encontre os viajantes e entre em seu bando, são um grupo de homens e mulheres nômades que andam por todo o país, vão ser capazes de lhe ajudar em sua fuga, muitos deles são fugitivos, conseguem despistar qualquer pessoa - Giulienné diz com pressa.

— Mas como irei chegar aos viajantes? Soube que odeiam bruxas da natureza, como nós - cruzo os braços.

— Para isso terei que adormecer sua magia, não completamente, mas oitenta porcento - Giulienné me responde.

— Perderei tudo que consiga me defender, ficarei indefesa? - pergunto indignada.

— Nunca lhe deixaria indefesa, sua magia vai ficar adormecida quando for a hora certa para sua própria proteção, confie em mim querida - a bruxa acaricia minha bochecha.

Estava tudo tão confuso, perdi meu namorado, no qual traiu minha confiança e considerou em me entregar para a morte, matei um homem, mesmo sem intenção, fugi de casa e agora não tenho nenhuma família.

Os ancestrais me queriam com os viajantes mas não conseguia confiar. Da última vez que me alertaram era sobre um homem com demônios, não o conheci até hoje, creio que se enganaram.

— Não pense que estava errada, os ancestrais nunca erram, se lhe alertei sobre um homem com demônios é porque vai acontecer, não duvide disso - minha ancestral solta meu rosto e cruza os braços me encarando séria.

— Esse homem com demônios não existe - digo brava.

— Como tem tanta certeza? Você é uma criança ainda, Amelie, não viveu nada do que será preciso para formar seu caráter e história - Giulienné diz brava.

Os cabelos da mais velha começam a voar e um vento forte invade a sala.

— Então me prove que está mesmo certa - grito sem paciência.

— Amelie, me escute, você não é ninguém ainda, não seria capaz de suportar nada do que seu futuro lhe aguarda enquanto não passar por tudo o que está passando por isso. Tal homem vai virar seu mundo de cabeça para baixo, não duvide disso, Amelie Gwendolyn. Manipulei o tempo para que você viesse ao mundo, arrisquei minha magia por isso, não faça que eu acabe com sua insignificante existência ao meu lado, garota, lhe dei a vida, então posso tirá-la - Giulienné grita e me assusto com sua raiva.

Sinto uma lágrima solitária escorrer em meu rosto e respiro fundo.

— Eu só quero que tudo volte ao normal - engulo em seco.

— Um dia voltará, não agora, mas algum dia as coisas vão se estabilizar, resista - minha ancestral responde enquanto os ventos se acalmavam.

— Não garanto que irei resistir - cruzo os braços.

— Claro, mas se prepare, já vai acordar - sinto um beijo em minha testa e um clarão invade minha visão.

CAPÍTULOS TODAS SEGUNDAS, QUARTA E SEXTA <3

𝐎𝐑𝐈𝐆𝐄𝐌 𝐃𝐀 𝐌𝐀𝐋𝐃𝐈𝐂𝐀𝐎 ✵ 𝐍𝐈𝐊𝐋𝐀𝐔𝐒 𝐅𝐀𝐍𝐅𝐈𝐂𝐓𝐈𝐎𝐍Onde histórias criam vida. Descubra agora