XXV

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Algo gelado e firme contra seu pescoço despertou Arin, lançando arrepios por todo o corpo da fêmea. Uma cabeleira ruiva com um olho de metal a encarava enquanto ela se esforçava para abrir os olhos.

- Lembro de você em Sob a Montanha. Uma espiã, não é? De quem? – o macho perguntou.

- Sou freelancer. – ela respondeu com escárnio e deu uma piscadela. A voz não mais que um sopro. Tecnicamente não era enviada oficial da Noturna, e mesmo sabendo que Lucien era aliado, ele não conhecia ou sabia de nada a respeito dela.

- Não brinque comigo garota. Quem te enviou?

- Não estou em nenhuma missão oficial. – era verdade pelo menos.

O aperto da adaga em seu pescoço ficou mais forte, e ela sentiu quando o líquido quente escorreu em uma linha reta contrastando com o frio de sua pele.

- Não sou inimiga, conheço Jurian. – ela conhecia o macho da época que espionou o acampamento de Hybern. Nunca conversaram abertamente, mas você sente quando tem um aliado em meio a tantos inimigos.

Lucien a encarava analisando o que a fêmea havia falado.

- Se estiver mentindo, vai se arrepender. Você vem comigo, agora.

Ele a pegou e jogou sobre o ombro, caminhou até um cavalo e a sentou na cela. Amarrou ambos os pulsos e pés. Montou atrás dela no cavalo e ela agradeceu o calor do macho atrás e se encostou mais. Ela sentiu o Lucien ficar tenso.

- Calma raposa, sou humana, prefiro estar viva quando me levar para Jurian.

Apesar de viver com Vassa e Jurian, Lucien não é acostumado a cuidar de humanos, mesmo com Feyre ele constantemente esquecia que os limites humanos são bem menores. Ele tirou o casaco pesado de couro que usava e passou pela frente da fêmea, bloqueando o vento gelado enquanto o cavalo andava.

Ainda existe bondade no mundo, de certa forma.

.....
Estavam parados de frente à um portão de ferro. Muros altos ao redor de toda a propriedade. Lucien desceu e imediatamente o frio invadiu a pele de Arin. Ele soltou os pulsos e tornozelos dela da cela, e a ajudou a descer do cavalo. Arrastando-a pelo braço propriedade adentro.
Jurian já estava a porta com o cenho franzido.

- Você a conhece? – Lucien perguntou em frente a porta, sem cerimônia.

- Estava em Sob a Montanha e depois no acampamento de Hybern. Espiã de quem?

- É o que vamos descobrir. – Lucien a puxou pelo braço para dentro da casa e a arrastou até uma mesa de cozinha. Sentou a fêmea na cadeira.

Arin absorvia tudo o que podia pelo canto dos olhos. Instintos que jamais a deixariam, era natural dela à essa altura.

- Vamos começar com o básico. Para quem trabalhava em Sob a Montanha? – Lucien e Jurian assumiram os assentos na sua frente. Ambos com a mão ocasionalmente perto das adagas nós coldres.

Arin contou o que podia e que não fosse nada comprometedor. Lucien se lembrava dela ter se aproximado de Rhysand em Sob a Montanha, e Jurian confirmou que ela ajudou Azriel e Feyre à resgatarem Elain quando ela foi sequestrada pelo rei de Hybern.
Seu coração apertou quando soube o que a fêmea fez para salvar sua parceira, e seria eternamente grato por isso.
Aceitaram, a muito contragosto, o fato de que ela estava em uma missão independente agora.

- Preciso me infiltrar no reino das Rainhas humanas agora.

- Espere por Vassa, ela pode ajudar em algo em relação à isso. – Jurian disse.

.....
Arin passou alguns dias na casa com eles, conversando com Vassa e juntando informações sobre o castelo. Lucien atravessou ela até os limites dos feitiços de proteção, economizando alguns dias de viagem. Tinha pedido o cavalo de Lucien para a missão mas ele perguntou se ela queria morrer com isso. Cavalos são tipo animais de estimação? Ela não saberia, o mais próximo de um animal de estimação que teve foi um sapo e ela teve que cortá-lo.

Sozinha, novamente na mata, via um castelo protegido com altos muros de pedra ao redor. Era enorme e abaixo dele se estendia uma feira que levava à cidade humana. O barulho de vendedores e comerciantes anunciando seus produtos se fazia audível mesmo na mata. Escutava os barulhos de ferreiros forjando seus produtos em meio ao calor e batidas.

Arin se estreitou pelo campo até um portão lateral ao muro do castelo. Nenhum humano invadiria por aqui simplesmente por ser impossível de chegar a pé. Se não fosse Vassa, jamais saberiam sobre essa passagem.
Vestida de criada ela entrou, ar seco recebi seu rosto, os corredores escuros e com teias de aranha diziam que não era usado há um bom tempo. O eco de seus passos e de sua respiração agoniavam seus ouvidos. Passou por corredores e fez algumas curvas que supôs que a levaria mais para o interior do castelo, e quando deduziu estar dentro o suficiente ela procurou por portas.

As vezes só encontrava brechas suficiente para espiar por um olho. Ela observou por um buraco do tamanho de sua mão, revestido de ferro, um espaço como um salão de festas. Anotou tudo mentalmente o que conseguiu ver.
Arin andou mais pelo castelo, descobriu alguns cômodos que não pareciam de uso rotineiro, alguns que davam acesso a áreas extremamente movimentadas do palácio, e marcou com pequenos lenços brancos o caminho de saída mais rápido. Voltou ao final do dia para o lugar combinado com Lucien, e o macho já a esperava para atravessar de volta à propriedade.

- Está atrasada. – ele resmungou, grudando em seu braço e ela sentiu o mundo se dobrar.

......
Fizeram isso por dias, ele atravessava para o lugar atrás do muro quando ainda estava escuro, perambulava o dia todo se espreitando pelos corredores ouvindo todo tipo de conversa e segredo que acontecia na Corte, e procurava por algum quarto que poderiam guardar um objeto de alto valor.

Na casa dos companheiros, reuniam algumas fofocas e rumores que ela escutava, alguns cômodos que ela desenhava, e informações que recolheu durantes essas duas semanas. Ela também se encontrou com os espiões colegas de Mathias, mas não eram jovens como ele, eram experientes e mais velhos. A princípio estranharam Arin, mas logo trocaram algumas informações.
Todos na fortaleza de Lucien ajudavam. Assumiram sua missão junto com ela, afinal, a guerra viria para todos.

Fizeram mapas e bolaram planos.

A missão agora era infiltrar ela em um baile de máscara que aconteceria em dois dias.

Corte de Adagas e Sombras - Fanfic AzrielOnde histórias criam vida. Descubra agora