Capítulo V

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  — Não seria educado iniciar uma briga em frente a uma dama, senhor! - afirmei tentando manter a calma.

— Quero ouvir suas palavras novamente. - afirmou me obrigando a ficar em sua frente - E dessa vez, em boa entonação!

— Eu disse que pela forma que está olhando para ela, nossos sentimentos...

Minha fala se iniciou tão rápida quanto foi interrompida. O soco foi a única coisa que senti antes de cair ao chão.

  Em meio ao tumulto, percebi que estavam me chutando, mas não consegui decifrar de onde os golpes estavam vindo.

Para evitar chamar ainda mais atenção, decidi não revidar, mas meu pensamento mudou assim que ouvi um grito desesperado.

Ana!

Em milésimos de segundo, minha mente imaginou todas as barbaridades repugnantes que fariam se a levassem.

Me levantei rapidamente já derrubando um deles, logo em seguida usei grande parte da minha força para chutar outro homem para longe. Sem pensar, tirei a arma da cintura já apontando-a para a cabeça do homem que havia começado a briga.

— Ordene que eles a soltem! - falei ofegante, mas fui ignorado no primeiro momento, então atirei contra seu ombro - AGORA, SEU CAIPIRA DESGRAÇADO!

— Soltem a criola! - ele falou gemendo pela dor. 

Surpreendentemente o corpo de Ana foi jogado contra o meu, e mesmo tendo apenas uma mão disponível, segurei-a com força para que ela não caísse.

Seus olhos se fixaram em meu rosto enquanto eu fazia uma rápida análise em seu corpo.

— Está bem? - perguntei baixo - Machucaram você?

O silêncio perdurou por um bom tempo, até ela entender minha pergunta e balançar a cabeça negativamente.

Mais uma vez segurei suas correntes, peguei a caixa e, ainda com a arma em mãos, comecei a me afastar dos homens.

Depois de ouvirem o tiro as pessoas se esconderam onde puderam, por isso senti que haviam muitos olhares direcionados a mim, só não vi de onde vinham.

Precisei andar em um ritmo mais lento que o desejado devido às correntes que prendiam o corpo da mulher atrás de mim. Uma caminhada que levaria alguns minutos, ocupou horas do meu dia.

O sol estava escaldante, minha pele queimava e o suor escorria pelo meu corpo. A fome começou a me enfraquecer, então tratei de parar em um comércio para comprar pão e água.

Não há tempo para uma refeição completa, logo logo irá chover.

Depois de saciado, voltei para a parte externa do estabelecimento com o alimento em mãos, já que não permitiam a entrada de escravos.

Me aproximei e percebi que Ana estava fraca, mal conseguia sustentar o peso de seu corpo, mas quando percebeu minha presença, ela se endireitou e levantou a cabeça.
Estendi o pão em sua direção e notei que a mesma engoliu seco ao encarar o alimento, mas poucos instantes depois, olhou em meus olhos e virou o rosto como forma de negação.

— Você precisa comer ou vai desmaiar em poucas horas.

Ainda com o rosto virado, ela sustentou o silêncio.

Ao olhar para baixo, percebi o sangue em seus pulsos escorrendo debaixo das correntes e descendo por seus dedos até chegar ao chão. Seus tornozelos estavam no mesmo estado, tomados pelo sangue.

Nem consegui imaginar a dor que ela estava sentindo por baixo daqueles ferros quentes.

Mesmo contrariado, guardei o pão e o jarro de água na bolsa ao escutar um trovão. Olhei para o céu e percebi nuvens escuras tampando o azul.

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