Depois de sair da tenda, fui andando sem rumo pelo acampamento da tribo.
Como ele pode falar daquele jeito comigo?
Sei que estou errada, não deveria ter feito o que fiz, mas o que custava ele conversar civilizadamente comigo como minha irmã fez?
Eu não omiti nada da Nala, contei tudo da forma mais sincera possível, mas também confessei que aquele beijo só serviu pra mostrar que eu e Akin não temos mais nada em comum e que o tempo dissipou todos nossos planos passados.
Ele devia ter me perguntado antes, ou simplesmente ter me deixado falar.
Antes de ultrapassar os limites territoriais da tribo, avisei a Eva que John queria conversar com ela, mas ignorei sua pergunta se eu estava me sentindo bem. Eu não queria explicar, mas também queria mentir, então apenas continuei andando.
Meus pés me levaram até a antiga localização de Ekom, o verdadeiro lugar onde nasci e, quando percebi isso, me direcionei até o lugar onde meus pais estavam enterrados.
— Se estivessem vivos, seria mais fácil. - falei ao me sentar no chão - Poderia perguntar como faz pra esse sentimento sumir e não voltar nunca mais, ou até mesmo como não deixar isso aparecer no coração. - coloquei o rosto entre as mãos - Por que tudo tem que ser tão difícil?
Não sei ao certo quanto tempo fiquei sentada enquanto refletia sobre minha discussão com John, mas tive de voltar para a tribo quando um dos guerreiros foi até mim dizendo que a Eva estava me procurando.
Mal entrei em Ekom novamente e já vi John caminhando enquanto a Eva segurava sua mão. Ele ficou surpreso ao me ver, mas demonstrou indiferença em sua postura.
— Mamãe, mamãe... - a menina veio correndo até mim - Vamos com o John até a praia?
Ainda sinto meu coração pular ao escutá-la me chamando de mãe.
— O que?
— Ele está indo embora. - explicou com o olhar triste - Por isso quero ir acompanhá-lo até a praia, mas ele diz que é perigoso eu voltar sozinha.
— E é mesmo! - reforcei.
— Então, vai comigo, por favor. - pediu juntando as mãos em frente ao rosto.
Por mais que eu estivesse extremamente desconfortável com a presença de John, decidi ceder ao pedido de Eva. Sei o quanto essa garota gosta dele e seria injusto não deixá-la aproveitar esses últimos momentos ao seu lado.
Durante o trajeto, Eva não se lembrou de mim, apenas segurou a mão de John e se perdeu em sua conversa com ele. Permaneci um pouco distante usando a justificativa de que iria mostrar o caminho, mas na verdade era só pra deixá-los mais à vontade.
Quando demos os primeiros passos na praia, percebi dois homens sentados na areia enquanto comiam peixe.
— Adam? - perguntei de longe - Joseff?
— Ayla! - o mais jovem disse animado e veio correndo até mim para me dar um abraço - Céus, como você está linda! - sorri.
— Impossível! - Joseff disse ao olhar atrás de mim.
Ambos os homens não esperaram uma explicação, apenas foram até John para abraçá-lo de forma calorosa. Pelo alívio que demonstraram, eles estavam aflitos por notícias de seu capitão.
— Me sinto muito feliz em revê-los. - falei - Mas, o que fazem aqui?
— Não achamos vantajoso voltar para o navio ontem e ter de remar até aqui hoje, por isso decidimos passar a noite aqui e esperar por notícias. - Joseff explicou ao parar de me abraçar - Mas, achávamos que iria demorar um pouco mais para termos esse reencontro.
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ALFORRIA
Romance"Sonho com uma outra vida, onde as correntes não separem nossas almas!" Na época em que pessoas eram condenadas pela cor e outras beneficiadas pela "falta" dela, um laço forte prende dois amantes da liberdade: o amor. Seria possível dentro de um...