Abri os olhos e senti uma dor de cabeça muito forte acompanhada de uma fraqueza no corpo. Eu estava com um pouco de falta de ar, por isso tentei me virar, mas senti pequenas mãozinhas seguraram meu braço.
— Ei, você não pode virar. - reconheci a voz infantil - A senhora disse que você precisa ficar deitado!
Virei a cabeça com calma e tive que apertar os olhos para conseguir identificar a pessoa sentada ao meu lado.
— Eva? É você?
— Sim. - sorriu.
— Você tá... - analisei seu cabelo e sua roupa - Diferente.
— Minha tia que me deu. Gostou? - perguntou animada olhando para seu vestido colorido.
— Você tá linda, princesa! - tentei sorrir - Sua tia te deu? - assentiu em resposta - Onde a gente tá?
— Em Ekom. - franzi o cenho - A Ayla te trouxe para cá dizendo que poderiam cuidar do seu machucado, então viemos.
— Cadê a Ayla?
— Ela foi conversar com um moço alto.
MoçO?
— Faz muito tempo?
— Mais ou menos.
— E você ficou sozinha aqui?
— Não. - se apressou em dizer - A Nala cuidou de mim enquanto vim ver você.
— Quem é Nala?
— Emi ni. - uma voz diferente disse ao fundo e pude perceber uma moça grávida se aproximando.
Olhei para a menina ao meu lado rapidamente e ela parecia à vontade com a presença da moça, o que me deixou levemente menos desconfiado.
— Não quero parecer rude, mas quem é você? - perguntei - E por que tava cuidando da Eva?
— Orukọ mi ni Nala. - franzi o cenho.
— Desculpe, o que? - interrompi e foi a vez dela de fazer cara de dúvida - Eu não entendi o que você disse.
— Ela também não te entendeu, John. - Eva explicou.
— Ninguém aqui sabe falar inglês?
— Só a Ayla. - deu de ombros.
—E cadê a Ayla, cace...
Uma tosse forte que parecia ter intensidade suficiente para estourar meus pulmões interrompeu minha fala de repente e, quando um líquido estranho invadiu minha boca, a moça veio até mim com pressa para levantar minha cabeça.
— O nilo lati mu. - disse com uma vasilha nas mãos - Eyi le ṣe iranlọwọ.
Fiquei desconfiado sobre o que tinha naquela vasilha, mas a tosse fazia meu peito ficar dolorido, sem contar minha barriga que também começou a doer. Não relutei e nem perguntei, apenas bebi o conteúdo do pote.
Além de ser horrível, o gosto era diferente de tudo que já provei, me senti aliviado por fazer a tosse diminuir aos poucos.
— Que droga essa mulher me deu?
— Deve ser algum chá. - Eva disse ao colocar um amontoado de panos embaixo da minha cabeça - Vi a senhora pegar algumas folhas e colocar na água que estava dentro desse pote, depois ela disse alguma coisa pra Nala e saiu.
— Nala, no caso, é...? - a garota apontou para a moça ao meu lado e me lembrei vagamente de algumas palavras que aprendi nas aulas com a Ayla - E dupe (obrigado)!
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ALFORRIA
Romansa"Sonho com uma outra vida, onde as correntes não separem nossas almas!" Na época em que pessoas eram condenadas pela cor e outras beneficiadas pela "falta" dela, um laço forte prende dois amantes da liberdade: o amor. Seria possível dentro de um...