Capítulo XXV

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 Da forma mais bruta possível, eu e Eva fomos acordadas com um balde enorme de água sendo jogado em nós.

— LEVANTEM, CRIOLAS! - ouvi um grito alto e me sentei com pressa enquanto a menina se agarrava em mim - AO TRABALHO, RÁPIDO.

 Encarei o homem com raiva enquanto ele apenas se virava para ir embora. Pensei em falar algo, mas Eva estava tão assustada que decidi permanecer quieta para transmitir segurança a ela.

— Tudo bem, já passou. - acariciei seu cabelo - Foi só um susto.

 Saí da senzala apenas quando ela estava mais calma, depois nos direcionamos para as plantações. Infelizmente, colocaram a Eva para trabalhar longe de mim, onde eu nem sequer conseguia enxergá-la e isso me deixou preocupada.

— Por que não nos acordaram? - perguntei a Berenice.

— Os feitores disseram pra não acordar vocês porque iriam fazer isso do jeito deles.

— E você, simplesmente, obedeceu? - perguntei com raiva - Você não seria punida se desobedecesse essa ordem ridícula porque até um vento poderia ter nos acordado. Era só dizer que foi acidente!

— Não quis arriscar. - encarei-a perplexa.

— Berenice, de que lado você está afinal?

— Do meu.

— E acha que esses malditos feitores estão jogando a seu favor? - ela me ignorou - Berenice, a única coisa que você tem nessa vida são essas pessoas que estão embaixo desse sol colhendo algodão. Ninguém além deles vai te proteger ou te ajudar quando algo de ruim acontecer nessa fazenda!

— O que acha de começar a trabalhar, criola? - o feitor disse em cima do seu cavalo.

— Mais? - perguntei em tom sarcástico.

— Não me desafie, sua negrinha insolente. Não sou tão paciente quanto, William!

— Peço desculpas por ela, senhor. - Berenice interveio - Vamos parar de conversar.

— Acho bom mesmo. - ele saiu.

— Juro que não vou conseguir passar nem mais um dia nesse lugar. - falei com raiva.

— Acalme-se, Ayla. Lembre-se da posição que ocupamos aqui! - revirei os olhos.

 Minha tolerância para aquela fazenda e aquelas pessoas estava a ponto de se esgotar e, mesmo se John tiver me vendido, não vou passar de amanhã nesse lugar.

— AYLA! - ouvi um grito fino desesperado e já percebi que era Eva.

 Larguei meu saco de algodão no chão e, sem pensar duas vezes, saí correndo ao seu encontro.

 Achei que ela pudesse ter se machucado de novo, mas meu coração disparou ao vê-la chorando enquanto era amarrada no tronco, corri ainda mais rápido quando percebi o chicote nas mãos de William.

 Antes mesmo que minha mente pudesse processar minhas ações, a adrenalina pôs meu corpo entre os dois.

— O que pensa que está fazendo, criola? - William disse impaciente - SAI DA MINHA FRENTE!

— O que ela fez? - perguntei ofegante .

— Não te devo satisfações. SAI LOGO DAQUI, ANTES QUE EU PERCA A PACIÊNCIA!

— Já disse que posso fazer o trabalho dela, não precisa disso.

— Essa negrinha pegou ovos no galinheiro pra alimentar o velho que está sendo castigado na senzala. - engoli seco - E eu não aturo ladrões por aqui.

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